A euforia da direção do Hospital Moinhos de Vento com a autorização dada pelo Ministério da Educação para a abertura do seu esperado curso de Medicina não encontra eco no Conselho Regional de Medicina (Cremers). O presidente do Cremers, Eduardo Neubarth Trindade, divulgou nota criticando a decisão do MEC.
A nota, dirigida aos médicos e à população, começa dizendo que “a abertura de mais uma escola de Medicina em Porto Alegre não pode ser justificada apenas pela iniciativa ter como origem uma instituição de excelência técnica”. O Cremers argumenta que o Estado tem 20 faculdades de Medicina, sendo 13 privadas, com mensalidades que variam entre R$ 8 mil e R$ 12 mil, em média.
“O número de médicos que trabalham no RS cresceu 51% em 13 anos. Em 2011, eram 24.716. Este ano, são 37.368, o que significa que há 3,42 médicos por mil habitantes. É a quarta maior densidade de médicos do Brasil, atrás apenas do Distrito Federal, do Rio de Janeiro e de São Paulo”, diz a nota.
O Cremers destaca que o crescimento da população não acompanha o número de médicos e ainda há grupos econômicos interessados em abrir faculdades de medicina com objetivos mais financeiros do que sanitários. E acrescenta: “Dentro desse cenário, o Cremers manifesta extrema preocupação com a abertura de novas escolas médicas e com o aumento de vagas nos cursos já existentes”.
Na nota, o Cremers também questiona em qual instituição serão abertas vagas para os alunos frequentarem aulas práticas, uma vez que os hospitais-escola da Capital já estão saturados. Para o conselho, deve-se investir na qualificação das escolas existentes e no aprimoramento dos currículos, principalmente em cidades como Porto Alegre, que já conta com três cursos de Medicina, totalizando 360 novas vagas a cada ano.
Moinhos de Vento contesta opinião do Cremers
O superintendente executivo do Hospital Moinhos de Vento, Mohamed Parrini, discorda da avaliação do Cremers. Diz que a abertura de uma faculdade de Medicina pelo Moinhos de Vento é “a vacina e o antídoto contra os cursos de má qualidade e os conhecidos caça-níqueis”. A meta de Mohamed é fazer da faculdade do Moinhos a melhor do país:
_ Não queremos apenas estar no top ten ou no top five. Queremos ser a melhor do Brasil. Para isso, teremos os melhores professores, os melhores alunos e a melhor estrutura para ensinar de forma inovadora e preparar profissionais conectados com as últimas inovações.
A data da abertura do primeiro vestibular não está definida. O Moinhos espera pela publicação da portaria e com as definições regulatórias do MEC. O pedido é para 120 vagas anuais, sendo 60 a cada semestre. Na melhor das hipóteses, a primeira turma começará em agosto de 2025, mas o mais provável é que seja no início de 2026. Embora toda a estrutura física já esteja preparada, o Moinhos vai fastar tempo fazendo uma escolha criteriosa dos professores e preparando a seleção dos alunos.
Mohamed diz que o objetivo do Moinhos não é ganhar dinheiro com o curso, como não é com os programas de residência. Diz que se a receita empatar com a despesa, será lucro:
_ Nosso objetivo é formar profissionais melhores. Teremos bolsas de estudos e não economizaremos para oferecer aos alunos contato com o que a medicina tem de mais avançado no mundo. Nossa fonte de receita é o hospital.
Em resposta à pergunta do Cremers sobre em que instituição os alunos terão atividades práticas, Mohamed adianta que, por ser uma instituição filantrópica, o Moinhos atende pacientes do SUS em instituições que administra por convênio, como unidades básicas de saúde e o Hospital da Restinga. É lá que os estudantes terão aulas práticas e formação para atendimento a pacientes do SUS.