O prefeito Sebastião Melo, depois de ter se aproximado da reeleição em primeiro turno no domingo (6), era o retrato da alegria nesta segunda-feira (7).
— Eu quero, de novo, o chinelão do povo — cantarolou no escritório de campanha no Centro Histórico de Porto Alegre.
O cântico foi adotado pelos aliados como resposta ao apelido pejorativo atribuído ao prefeito por setores da oposição, que cunharam o bordão “Melo chinelão”.
O prefeito alcançou 49,72% dos votos válidos e disputará o segundo turno contra Maria do Rosário (PT). Para que fosse reeleito em primeiro turno, ele precisava fazer 50% dos votos mais um. Embora tenha faltado pouco, Melo não teve o ânimo abatido. Pelo contrário. Ele prometeu empenho no segundo turno e se vacinou contra o discurso do “já ganhou”.
A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por Sebastião Melo a Zero Hora:
O segundo turno está decidido ou há ameaça?
Tem vários requisitos para ganhar uma eleição. Um deles é a sandália da humildade. Fizemos uma campanha bonita, alegre, propositiva. Vamos continuar. Tomar as ruas e aproveitar a base de vereadores. Eles têm comitês espalhados por toda a cidade que vão ser uma extensão da candidatura do prefeito. Vamos trabalhar muito para ganhar. Talvez, na última semana, eu me licencie de novo (do cargo de prefeito para se dedicar à campanha).
Depois do resultado do primeiro turno, o salto alto pode ser perigoso?
Sempre fiz campanha com pé no chão e humildade. Não haverá salto alto. Pelo contrário. É uma nova eleição. Zerou o placar. Temos 345 mil pessoas que não votaram no primeiro turno. Vamos tentar conquistar o voto delas. A Juliana Brizola fez cerca de 136 mil votos, mais os do Felipe Camozzato (26.603 votos). Estamos falando de meio milhão de votos. Vamos tentar ampliar e buscar novas alianças.
Acredita ter encaminhado os apoios do Novo e dos diretórios municipais do PSDB e do Cidadania?
O Cidadania esteve conosco no primeiro turno, só não era formal (o partido estava coligado a Juliana Brizola).
No PSDB, liguei para o governador Eduardo Leite e para o vice-governador Gabriel Souza. Está bem construído. É uma questão de detalhes para que possamos estar juntos.
O Gabriel ficou de agendar uma conversa para amanhã (terça-feira) com o governador. Falei com Camozzato por telefone. Mas eu tenho de conversar mesmo é com o eleitor. Ele é o dono do voto.
E sobre o PDT e o União Brasil? Thiago Duarte, vice de Juliana, falou em neutralidade.
Falei com algumas lideranças do PDT dizendo que eu gostaria, se houver espaço, de aprofundar a conversa. Quero ligar para a Juliana e vou conversar com o União Brasil. Tenho boa relação com o Busato (Luiz Carlos), presidente estadual do partido, e com o Caiado (Ronaldo, governador de Goiás), que tem forte liderança nacional. Respeito a posição do Thiago. Ele tem direito de escolher o caminho dele.
O senhor venceu em todas as zonas eleitorais. Em áreas de enchente, como Humaitá e Sarandi, teve boa vantagem. Na 1ª zona eleitoral, que envolve Ilhas e Centro, regiões também atingidas, o senhor teve menor percentual de votos. Alguma explicação para o desempenho mais comedido nas Ilhas e no Centro?
O tema da enchente é central, mas a eleição é mais do que isso. Quase 50% das pessoas votaram no nosso projeto. É um reconhecimento de que fizemos transformações. E tratamos da enchente com responsabilidade. As minhas adversárias usaram um calibre errado sobre a enchente, de achar que tinha um culpado. E esse culpado era o prefeito de Porto Alegre. O povo compreendeu que o Melo é um prefeito de atitude e linha de frente. Quando teve o temporal de 2016 eu fui para a rua (Melo era vice na época e atuou como prefeito em exercício). Reconstruímos a cidade em 15 dias. E na enchente nossa atitude foi a mesma. Foi um tsunami o que aconteceu. Tomamos todas as medidas que poderíamos tomar e a população percebeu.
E sobre as Ilhas?
Ali moram 8 mil pessoas e elas sofrem com enchente há muito tempo. O governo federal disse que todo mundo que perdeu a casa vai ter uma nova. Só que entre o anúncio e a entrega da casa tem um caminho tortuoso. Você faz o laudo, faz o cadastro, o endereço está errado, vai e volta. É uma revolta da população e ela não quer saber se é federal ou estadual. Ela quer que as coisas sejam resolvidas. Acho que isso irritou muito a população.
Sobre a concessão do Dmae, o senhor afirmou que vai avançar. Vai fazer a concessão do sistema de coleta e tratamento de esgoto, como havia defendido antes, ou pode partir para uma concessão integral, incluindo captação, tratamento e distribuição de água?
O marco regulatório do saneamento trata de resíduos sólidos, drenagem, água e esgoto. O mercado acaba tendo atratividade para água e esgoto. Chegamos numa modelagem que previa manter a produção de água com o Dmae e entregar para a parceirização (conceder a uma empresa) o tratamento de esgoto e a extensão da rede de água. Esse estudo (de modelagem da concessão) está parado no BNDES.
Se ganharmos a eleição, vou chamar o BNDES para uma conversa e esse assunto vai para a Câmara de Vereadores no ano que vem. A drenagem e a produção de água vão continuar com o Dmae.
A minha adversária já disse que vai recriar o DEP (Departamento de Esgotos Pluviais) e manter o Dmae público. Temos posições diferentes que ficarão mais explícitas agora no segundo turno.
A CEEE, privatizada à Equatorial, tem sofrido críticas. Como se cercar de cuidados e evitar que a concessão do Dmae resulte em má prestação de serviço e tarifa elevada?
A primeira questão é ter uma agência reguladora forte. A nossa opção foi pela Agergs e o governador me disse que vai reforçar ela. O contrato tem que ser muito bem feito. Hoje tem milhares de pessoas que pagam tarifa social em Porto Alegre. Ao conceder o Dmae, devo registrar que todo aquele que estiver no Cadastro Único tem de ser beneficiário da tarifa social. E quais são as metas (de investimentos) por ano? A lei diz que, em 2033, tem que universalizar os serviços de água e esgoto. Reconheço que a CEEE tem deixado a desejar, mas a Aegea, que assumiu a Corsan, parece ser um outro padrão, com prestação de serviço melhor.
Se a candidatura de Maria do Rosário reproduzir no segundo turno a polarização nacional entre o lulismo e o bolsonarismo, qual será a sua reação?
A eleição é municipal, mas, se o ex-presidente Bolsonaro vier aqui de novo, vamos estar juntos. Muitos dos valores defendidos pelo Bolsonaro estão incorporados na nossa campanha. Um exemplo é a liberdade econômica.
Se reeleito, terminará o mandato de prefeito em 2028? Ou existe chance de renunciar para concorrer a governador em 2026?
Esse assunto nunca passou na minha cabeça. Lutei muito para ser prefeito e estou trabalhando para reeleger o projeto. E serei prefeito da cidade. Ponto.
Até 2028?
Vou ser prefeito.