Depois de uma crise de credibilidade em 2022, os principais institutos de pesquisa do país divulgaram, na véspera do primeiro turno deste ano, pesquisas mais próximas da realidade das urnas.
Se dois anos atrás a diferença de votação entre Lula e Jair Bolsonaro apresentou grande divergência em relação às sondagens prévias, agora duas empresas de referência no país indicaram com maior precisão o resultado da disputa pela prefeitura em quatro metrópoles analisadas por Zero Hora: Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte — ainda que alguns índices tenham fugido das margens de erro, sobretudo entre os mineiros (veja os comparativos em gráficos abaixo).
O cientista político e analista da Arko Advice Carlos Borenstein faz uma ressalva inicial: nem toda diferença observada entre levantamentos eleitorais de última hora e os números oficiais representa obrigatoriamente uma falha.
— O objetivo de uma pesquisa não é predizer o resultado do pleito. Há, muitas vezes, decisões tardias dos eleitores. Outro fator que pode interferir é o índice de abstenção. Os institutos geralmente consideram que todos comparecerão às urnas, embora a Quaest tenha um mecanismo destinado a diminuir o grau de incerteza quanto a isso — argumenta Borenstein, em referência ao modelo chamado likely voters (prováveis eleitores, em inglês), que busca identificar as pessoas mais propensas a participar.
Quando diferentes empresas apontam intenções de voto muito díspares entre si, com base em sondagens realizadas em um mesmo período, é mais razoável presumir que exista algum problema envolvendo, por exemplo, seleção inadequada da amostra de eleitores com base em critérios de renda, escolaridade ou outros.
Na eleição presidencial, pesquisas finais de primeiro turno de nove empresas mostraram o petista de sete a 14 pontos percentuais à frente de Bolsonaro — a diferença entre eles nas urnas, porém, ficou em apenas 5,23 pontos.
Agora, a Quaest antecipou corretamente o desempenho dos primeiros colocados, considerada a margem de erro, em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Entre os três mais votados na capital gaúcha, apenas o percentual de Juliana Brizola (PDT) ficou levemente fora da margem, com 0,3 ponto além do limite máximo previsto.
Belo Horizonte foi a cidade, entre as quatro analisadas, mais desafiadora para os dois institutos de pesquisa. Coincidentemente, a votação dos candidatos Bruno Engler (PL) e Mauro Tramonte (Republicanos) ficou fora da margem das duas empresas, o que pode indicar uma movimentação de última hora dos eleitores de ambos.
— Pode haver erros, claro, mas um levantamento recente mostrou que 50% das pessoas confirmariam a decisão do voto na véspera ou no dia da eleição. Isso gera uma dificuldade grande para os institutos. Em Curitiba, a candidata Cristina Graeml (PMB) teve um grande crescimento (de última hora). Em Manaus, o candidato do PL (Alberto Neto) cresceu a partir do apoio dado por Bolsonaro — complementa Borenstein.
O Datafolha teve mais dificuldade de indicar com precisão os percentuais dos três concorrentes mais votados em três das metrópoles analisadas. Em Rio, São Paulo e Belo Horizonte (não fez pesquisa em Porto Alegre), apontou os percentuais de três candidatos dentro da margem de erro, mas seis ficaram além desse limite. Ainda assim, mostrou acertadamente a proximidade entre Ricardo Nunes (MDB), Guilherme Boulos (PSOL) e Pablo Marçal (PRTB) em São Paulo, e a ordem correta do trio mais votado no Rio e em Belo Horizonte.