O discurso antipolarização e a aposta em uma campanha crítica ao atual governo foram insuficientes para levar Juliana Brizola ao segundo turno da eleição de Porto Alegre. A candidata do PDT somou 136.783 votos (19,69% dos válidos) e viu Maria do Rosário (PT) passar ao segundo turno contra o prefeito Sebastião Melo (MDB).
Este resultado desenhou-se desde o início da apuração e foi confirmado matematicamente às 19h12min, pela Justiça Eleitoral.
Juliana acompanhou a apuração em seu apartamento no bairro São João, ao lado dos filhos e do namorado. Ela iria até a sede do PDT, na Rua Félix da Cunha, após a contagem, mas, abatida com a derrota, mudou de planos e preferiu permanecer em casa.
Coube ao candidato a vice, o deputado estadual Thiago Duarte (União Brasil), se pronunciar em nome da chapa é agradecer pelos votos recebidos.
— Apesar do resultado, saímos desse processo mais fortalecidos — disse Thiago.
Os partidos devem se reunir individualmente para decidir sobre apoio no segundo turno, mas Thiago adiantou que, de sua parte, deve manter a neutralidade.
— Não me sinto confortável em apoiar nenhum dos dois candidatos que foram ao segundo turno — adiantou, citando indícios de corrupção e problemas de gestão do governo Melo e o distanciamento ideológico do PT.
No caso do PDT, o presidente do diretório metropolitano, José Vecchio Filho, disse que a decisão será tomada em conjunto com Juliana e as direções estadual e nacional.
Aos 49 anos, Juliana encara a terceira derrota na tentativa de chegar ao Paço Municipal. Em 2016, concorreu a vice de Sebastião Melo e foi derrotada. Em 2020, encabeçando chapa, terminou em quarto lugar, com 6,4% dos votos.
Crescimento insuficiente
O clima de pesar no comitê pedetista contrastava com a animação de Juliana e de seus apoiadores nos últimos dias de campanha. Registrando crescimento nas pesquisas, a candidata do PDT se aproximava de Rosário e pregava voto útil para disputar o segundo turno contra Melo. No entanto, essa mobilização se mostrou insuficiente.
Ciente da força dos concorrentes, Juliana tentou montar uma candidatura competitiva com partidos de espectro ideológico diferente do seu. Conseguiu convencer o deputado estadual Thiago Duarte (União Brasil) a ser o vice em sua chapa e, ao final do período de articulações, atraiu o PSDB.
Ressentidos com Sebastião Melo por negar apoio ao governador Eduardo Leite em 2022, os tucanos rejeitavam aliança com o emedebista. Entretanto, não conseguiram viabilizar candidatura própria e, sem outras opções, acabaram por se juntar a Juliana. Na prática, no entanto, boa parte dos candidatos a vereador ficou com Melo. No Cidadania, que está em federação com o PSDB, o apoio ao prefeito foi quase unânime.
O governador Eduardo Leite chegou a gravar para os programas de rádio e TV, mas teve engajamento limitado e não participou de atos da campanha de rua. Além de aproveitar a popularidade do tucano, o staff de Juliana acreditava que ele conseguiria ajudar a conter o crescimento de Melo, atraindo um eleitorado centrista.
Ao final, entretanto, a pedetista sucumbiu diante da força de Melo, que tinha o dobro do tempo de televisão e de candidatos a vereador lhe apoiando, e de Rosário, que manteve a distância apontada nas últimas pesquisas.
Na TV, a campanha de Juliana começou conceitual, pedindo confiança e criticando o governo atual, sobretudo pela atuação na enchente. Na reta final os vídeos começaram a elencar propostas, mas sem aprofundamento.
Juliana ainda foi prejudicada por episódios de agravamento nas dores na coluna, provocadas por uma hérnia de disco. O problema, com o qual convive há alguns anos, se agravou em momentos de muito esforço ou tensão. Em razão das dores, Juliana faltou a painéis com concorrentes, cancelou agendas de rua e, para participar dos debates e entrevistas mais importantes, teve de passar por infiltrações.
Em incursões pelas ruas da Capital, a candidata do PDT carecia de militância orgânica e de maior planejamento. Na segunda-feira anterior à eleição, Juliana atrasou quase uma hora para caminhada na Vila Nova Ipanema, na Zona Sul. A certa altura do beco, a comitiva se deparou com um grupo de homens sem camisa, um deles com tornozeleira eletrônica, e deu meia volta.
No mesmo ato, a pedetista também teve de lidar com a rejeição — não a ela, especificamente, mas à classe política.
— Subir aqui quando querem voto é fácil — reclamou um morador.
A despeito da derrota, a sensação entre apoiadores é de que Juliana sai da campanha maior do que entrou e está cacifada para disputar nova vaga de deputada federal na eleição de 2026.