Ventos fortes, chuva e trovoadas atingiram a Capital na noite desta sexta-feira, após uma tarde de intenso calor. O temporal provocou falhas no abastecimento de energia elétrica e deixou sem luz pelo menos 300 mil clientes de Porto Alegre e da Região Metropolitana, conforme a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE). A tempestade também provocou a queda do sistema da Empresa Pública de Transportes e Circulação (EPTC) da Capital, dificultando os atendimentos.
O Sistema de Vigilância Meteorológica de Porto Alegre, coordenado pelo Centro Integrado de Comando (CEIC - Metroclima), registrou ventos de 87 km/h no Aeroporto Internacional Salgado Filho, na Zona Norte. Na estação de medição do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) no Jardim Botânico, o vento chegou a 119,5 km/h, velocidade considerada atípica para este ponto.
No Hospital de Pronto Socorro, pelo menos 97 pacientes deram entrada nas últimas horas com ferimentos causados pelo temporal, nenhum deles com gravidade – segundo informações preliminares, a grande maioria causada por cacos de vidro. Uma ala foi criada para prestar os primeiros atendimentos.
Em outros pontos da cidade, o Metroclima apontou rajadas entre 100 e 120 km/h. Em locais isolados, a velocidade pode ter sido maior. Também conforme o Metroclima, Porto Alegre foi atingida por uma tempestade severa incomum pela intensidade e longa duração, que seria uma dos piores temporais da história recente. Portanto, a cidade não foi atingida por tornado, ciclone ou furacão.
O coordenador-adjunto da Defesa Civil de Porto Alegre, Hélio Oliveira, informou que há um grande número de árvores e postes caídos em toda a cidade.
– Não temos informação sobre vítimas, a princípio foi um temporal muito forte que provocou apenas danos materiais. Várias ruas estão interditadas tanto por queda de árvores quanto por alagamento, mas a tendência é que a água escoe com o tempo e algumas vias possam ser liberadas.
Além disso, Oliveira também informou que equipes trabalharão durante a madrugada e a manhã de sábado.
– Há muita coisa para fazer, o estrago foi grande. Pedimos que a população não entre nas áreas alagadas pelo risco de choque elétrico. Para se ter uma ideia, em três quilômetros da Avenida Praia de Belas nós contabilizamos pelo menos 20 pontos com fios de energia elétrica caídos.
No shopping Praia de Belas, parte do telhado cedeu e uma porta do centro de compras também ficou danificada. Seis pessoas ficaram feridas. Também há relatos de vidros quebrados no BarraShoppingSul, alagamentos em vários pontos e árvores caídas na Rua Gonçalo de Carvalho e também na esquina das avenidas Getúlio Vargas e Ipiranga, entre outros locais. Em frente ao Gasômetro, uma estrutura de sinalização de trânsito caiu sobre veículos. Problemas também foram registrados nos hospitais Mãe de Deus, Ernesto Dornelles e Clínicas.
De acordo com a Infraero, o Aeroporto Internacional Salgado Filho precisou operar por instrumentos durante o temporal. Nas partidas, até as 22h40min não havia registro de atrasos. A chegada de pelo menos seis voos foi atrasada pela necessidade de desvio de rotas.
Conforme a Somar Meteorologia, o fenômeno que assustou os porto-alegrenses é resultado do calor e do desenvolvimento de instabilidades no alto da atmosfera a partir de um corredor de umidade da Amazônia, em conjunto com a formação de uma área de baixa pressão atmosférica no Uruguai, que favoreceram as pancadas de chuva e trovoadas.
Na Rua General Caldwell, bairro Menino Deus, uma dezena de árvores caiu, além de muitos fios da rede elétrica terem arrebentado. A via está bloqueada e moradores relataram pavor durante a passagem do temporal:
– Por volta das 22h começou uma ventania muito forte, parecia um tufão. Peguei a minha esposa Helena e a minha filha Aline e começamos a rezar na sala. Essa agonia durou uns 40 minutos. Quando passou, olhei meu pátio pela janela e vi roupas e objetos que não são meus e não faço ideia de onde vieram – relatou o administrador de condomínios Arlei Kümtel, 40 anos.
O designer gráfico Bernardo Dal Prá, 29 anos, também é morador da rua e afirmou que ao fechar as janelas de seu apartamento, pensou que fossem explodir.
– Eu moro no 4º andar. Foi apavorante.
O taxista João Carlos Moraes, 53 anos, estava na Rua Santana durante o temporal. Ele relatou que levou duas horas no trajeto até Rua General Caldwell, onde visitaria familiares.
– Eu só pensei em proteger o carro. Tive que andar na contramão, desviando das árvores caídas. Nunca vi algo parecido.
Após o temporal, por volta da 0h30min, a estrutura do CTG Ramiro Barcelos, no Centro de Charqueadas, na Região Carbonífera, desabou. O prédio estava interditado há três anos pela prefeitura e não havia pessoas no local.