Passados seis meses do maior desastre climático que já atingiu o Rio Grande do Sul, as cidades da Serra ainda se recuperam dos efeitos da chuva intensa e deslizamentos de terra ocorridos entre final de abril e início de maio desse ano.
Rodovias foram bloqueadas, pontes danificadas, casas destruídas e ao menos 39 pessoas morreram em decorrência dos desmoronamentos de terra. Obras de reconstrução ocorrem de forma simultânea nas cidades atingidas.
Contudo, ainda há desaparecidos, pessoas fora de casa e conexões estratégicas que precisam ser recuperadas. Entre as cidades mais atingidas, cinco podem ser destacadas pelos impactos: Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Gramado, Veranópolis e Santa Tereza. Confira os principais acontecimentos que marcaram esses municípios em maio e como está a situação hoje.
Caxias do Sul
Situada na Zona Sul da cidade, a região de Galópolis foi severamente atingida por deslizamentos de terra e fissuras no solo, colocando os moradores em risco. Ao menos sete pessoas morreram, vítimas de desmoronamentos, e cerca de 220 famílias foram retiradas de casa durante maio.
Depois de seis meses, a prefeitura estima que menos de 30 casas permaneçam interditadas em Galópolis. O estudo do local, iniciado em agosto, segue em andamento. Técnicos contratados pela administração estão avaliando os estragos causados pela chuva e estudando medidas necessárias para a localidade.
Em outro local da cidade, um deslizamento de terra atingiu um dos pavilhões da Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca) e da Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos, no loteamento Vila Maestra, na Zona Norte, culminou na morte de um servidor. Luciano Henrique Santos Lacava, de 49 anos, foi a vítima. Outro servidor ficou ferido com o incidente.
Mais um episódio causado pela intensa chuva de maio foi a perda da conexão Caxias – Nova Petrópolis. A cheia do Rio Caí acabou danificando a ponte que ficava na BR-116 e conectava a Serra com a região das Hortênsias.
Essa ligação foi restabelecida em setembro, quando uma ponte provisória foi inaugurada. A ponte, situada entre a Linha Sebastopol, em Caxias, e São José do Caí, em Nova Petrópolis, foi construída com financiamento de empresários e com o apoio das prefeituras das cidades envolvidas. O Dnit coordena as obras de uma nova ponte entre os municípios. A ponte deverá ser entregue até fevereiro de 2025.
Bento Gonçalves
O interior da cidade, sobretudo as localidades de Faria Lemos e Tuiuty, concentrou os estragos causados pela chuva. As regiões montanhosas foram severamente atingidas pelos deslizamentos de terra, que vitimaram 10 pessoas. Depois de meses da tragédia, quatro pessoas seguem desaparecidas.
Conforme a prefeitura, o Salão Comunitário de Faria Lemos, espaço estratégico durante maio para receber as vítimas, chegou a abrigar, no momento mais crítico, 104 pessoas desalojadas ou resgatadas. Atualmente, 50 moradores que têm a casa em zona de risco ou tiveram as moradias destruídas estão sendo beneficiadas com o aluguel social, disponibilizado pela administração.
Também em maio, a prefeitura criou o Núcleo de Riscos Geológicos. O departamento recebeu 56 engenheiros e geólogos de diversas regiões do país, que atuaram no suporte para Bento Gonçalves e demais cidades da Serra. Ainda, bombeiros de diferentes locais do Brasil também vieram prestar suporte nas buscas e resgares.
Atualmente, os bloqueios na RS-431, rodovia que leva a Faria Lemos, foram retirados. A cidade passa por uma avaliação do Serviço Brasileiro de Geologia (SBG), que irá auxiliar a refeitura a desenvolver o plano municipal de redução de riscos. A expectativa é que a análise esteja pronta até 2025.
Gramado
A cidade turística mais conhecida do Rio Grande do Sul também precisou lidar com os reflexos da chuva intensa. Dados da prefeitura indicam que cerca de duas mil pessoas precisaram sair de casa durante maio. Ao todo, sete pessoas morreram, vítimas de deslizamentos de terra.
O bairro Piratini concentrou os maiores danos causados pela chuva. A Rua Henrique Bertolucci se tornou um símbolo dos estragos em Gramado. O grande volume de água acabou infiltrado no solo, causando movimentações de terra, queda de postes, fissuras no asfalto e danos em casas. As famílias que residiam no local foram retiradas pela prefeitura.
Em julho, a administração anunciou que 33 casas seriam demolidas. No final de agosto, os trabalhos de demolição começaram. As residências foram desapropriadas e as famílias ressarcidas. Ainda, a administração contratou um estudo para indicar as obras de contenção necessárias no bairro Piratini.
Atualmente, o bairro foi limpo e a Rua Henrique Bertolucci está parcialmente interditada. A análise das áreas comprometidas continua em andamento. Ainda, a administração está realizando obras de drenagem do Loteamento Orlandi, no bairro Várzea Grande, outra área em que fissuras surgiram no solo. Os trabalhos devem ser finalizados até dezembro.
Veranópolis
Os deslizamentos de terra sobre a BR-470, na área de Veranópolis, chocaram a região pela magnitude e pelos danos causados na rodovia. Em 1º de maio, as encostas da Serra das Antas foram levadas pela força da chuva que atingiu a região. Ao menos seis pessoas morreram soterradas pelos desmoronamentos de terra.
Conforme o Dnit, 94 deslizamentos foram registrados ao longo da BR-470, bloqueando o fluxo entre Bento Gonçalves e Veranópolis e, consequentemente, rompendo com a ligação entre as cidades separadas pelo Rio das Antas.
No interior da cidade, a Defesa Civil estima que 300 deslizamentos tenham atingido propriedades e destruído plantações. Os prejuízos na agricultura foram estimados em R$ 32 milhões.
Atualmente, a BR-470 foi parcialmente recuperada por quatro grandes obras realizadas pelo Dnit. Os trechos do asfalto que foram levados estão reconstrução, assim como obras que irão tornar a rodovia resistente a novos episódios de chuva intensa. A expectativa é que a via seja liberada até dezembro, quando um trecho da pista deverá ser reconstruído. No entanto, as obras na BR-470 terão continuidade até 2026.
Santa Tereza
Os cerca de 1,7 mil moradores precisaram lidar com quatro enchentes em menos de oito meses. Conforme o levantamento da prefeitura, no momento mais crítico da enchente de maio desse ano, cerca de 900 pessoas foram retiradas de casa.
O vídeo em que uma ponte é levada pelo Arroio Merrecão, enquanto a prefeita Gisele Caumo dá orientações para a população, se tornou emblemático. A ponte em questão conectava o centro da cidade às localidades de Linha José Júlio e Linha Bento, entre outras comunidades do interior.
Um estudo realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), indicou que Santa Tereza é o segundo município do Estado com a maior quantidade de movimentações de terra por quilômetro quadrado.
Atualmente, 24 famílias aguardam a construção de novas moradias, que estão sendo edificadas no Loteamento Popular Stringhini II. As obras, realizadas pelo programa A Casa é Sua - Calamidade, programa da Secretaria Estadual de Habitação e Regularização Fundiária (Sehab), iniciaram em setembro. As novas casas devem ser entregues até dezembro desse ano.
Conforme a prefeitura, há registro de casas destruídas próximas da encosta do Rio Taquari. Contudo, a maior parte das moradias se trata de casas utilizadas apenas no final de semana. Dessa forma, apenas os moradores fixos da cidade foram beneficiados com o programa.