Após registrar 284 deslizamentos que causaram 14 mortes em maio desse ano, Bento Gonçalves se prepara agora para desenvolver o Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR). O mapeamento das áreas críticas é financiado pela Secretaria Nacional de Periferias do Ministério das Cidades e será realizado pelo Serviço Geológico do Brasil.
Visitas técnicas e encontros com a comunidade serão realizados a partir desta quinta-feira (24) e seguem até 2025.
Entre as áreas visitadas estão os bairros Municipal, Conceição, Eucaliptos, Zatti e Vila Nova. Localidades que registraram a maioria das ocorrências em maio, os distritos de Tuiuty e Faria Lemos também serão visitados. A forma como o trabalho irá ocorrer foi apresentada na manhã desta quinta no Centro Administrativo Municipal. De acordo com o chefe da divisão de Geologia Aplicada do Serviço Geológico do Brasil (SGB), Tiago Antonelli, quatro geólogos estarão de forma permanente no município para estudar as áreas:
— Os profissionais vão percorrer ruas e vielas para cartografar áreas de risco baixo, médio, alto e muito alto. Não vamos sair daqui sem visitar todos os domicílios e vamos contar com a ajuda da Defesa Civil, que conhece as áreas melhor que ninguém. Vamos apoiar e propor sugestões para estabilizar essas áreas, para que o município saiba disso e tenha como recorrer ao Ministério das Cidades para buscar recursos para fazer essas obras de indicação — explica.
Além de Bento Gonçalves, o plano será realizado também em Santa Cruz do Sul, que assim como a cidade da Serra possui mais de 100 mil habitantes, um dos critérios de enquadramento no programa antes destinado às cidades com comunidades periféricas suscetíveis a riscos geológicos. O programa foi ampliado para cidades gaúchas após o episódio da enchente de maio desse ano.
E não serão apenas áreas que já sofreram com ocorrências geológicas que entrarão no mapa elaborado pelos profissionais, como explica Antonelli:
— É onde tem gente em risco, que tenha sofrido agora ou pode sofrer no futuro. Antes de ter pessoas morando, a gente vai ter um geólogo nosso trabalhando naquela situação.
A partir do estudo, as prefeituras poderão identificar as moradias e estabelecimentos com maior risco de sofrer danos e quais áreas da cidade precisam de intervenções, como contenções de encostas e regularizações fundiárias.
O estudo da SGB também permitirá que as cidades participantes do projeto tenham suporte para políticas públicas de habitação e saneamento.
Atuação em outras cidades da Serra
A elaboração do Plano Municipal de Redução de Riscos na Serra é uma exclusividade de Bento Gonçalves, mas geólogos contratados pela União já atuam em Canela, Caxias do Sul, Cotiporã, Gramado, Guaporé, Nova Petrópolis, Santa Tereza, São Valentim do Sul e Veranópolis. Os estudos iniciaram nesse mês, com pesquisadores atuando na região. Ainda de acordo com Antonelli, são estudos emergenciais para identificar áreas prioritárias para intervenções:
— Nós estamos, nesse momento, fazendo cartografias emergenciais em 94 municípios que decretaram emergência após as chuvas de maio. Então, Gramado, Canela e outros 92 municípios estão com equipes em campo, e nos próximos meses também, para, o mais breve possível, a gente entregar essa cartografia, que é menos complexa do que o plano, mas que dá um bom norte ao município. A ideia é essa que o trabalho de mapeamento financiado pelo governo venha casado com a sugestão, com a intervenção. Não adianta mapear, conhecer e não fazer nada.
Os documentos são disponibilizados aos municípios e ao Estado e irão integrar um banco de dados compartilhado com órgãos governamentais responsáveis pelo monitoramento e alertas de desastres. A expectativa é que os estudos sejam finalizados até 2025.