Santa Tereza é o segundo município do Estado com a maior quantidade de movimentações de terra por quilômetro quadrado. São 170 em 73 quilômetros quadrados, de acordo com o mapeamento do Instituto de Geociências (Igeo) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em parceria com o Centro Estadual de Pesquisas em Sensoriamento Remoto e Meteorologia (CEPSRM).
É o acumulado de chuva que explica a desestabilização do terreno entre os dias 27 de abril e 13 de maio. O estudo já mapeou 40% dos cerca de 12 mil quilômetros de área total da Bacia Hidrográfica do Guaíba, que compreende outras seis bacias. Entre elas está a Taquari-Antas, que registrou o maior acumulado de chuvas e onde está localizado o município de Santa Tereza.
A cidade receberá o grupo de pesquisadores nesta quarta-feira (26) para uma análise do risco atual das encostas, localizadas principalmente em propriedades rurais. O objetivo, segundo o coordenador do mapeamento, professor Clódis de Oliveira de Andrades-Filho, é detalhar se o terreno se manteve estável após a chuva registrada no último domingo(23).
— Vamos coletar dados para propor ações de curto, médio e longo prazo. Santa Tereza só perde para Silveira Martins, na região da 4ª colônia em quantidade de deslizamentos por metro quadrado. São municípios com uma área territorial pequena e muitas ocorrências, então é um desafio grande para reposicionar famílias e cultivos, se necessário — diz Filho.
O professor do Departamento de Geodésia da UFRGS trabalha junto da prefeitura com uma realidade: a de que áreas de Santa Tereza terão que ser desapropriadas pela segurança dos moradores.
— Vai precisar, a partir desse estudo, repensar a forma de habitar. A gente entende que é possível conviver com o risco, antes de simplesmente achar que todas as encostas dos vales do Rio Grande do Sul não podem mais ser habitadas. Garanto que, na maioria dos municípios, será possível encontrar soluções dentro do próprio território, mas precisarão ser ancoradas por estudos técnicos e científicos, em um olhar que não será resultado apenas da análise emergencial — avalia.
Olhar de reposicionamento
Uma área de 5.197 m² do Loteamento Stringhini 2 já está sendo terraplenada para receber a construção de 24 casas. As residências serão edificadas pela Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária (Sehab), órgão do governo estadual, e entregues para moradores que perderam as casas durante a enchente de maio.
O novo local de habitação em Santa Tereza é parte do que a prefeita Gisele Caumo chama de ressignificação do município que, com a ajuda da UFRGS, pretende avançar em um sistema de prevenção contra novos fenômenos climáticos.
— Dobramos os bueiros de tamanho e, com uma chuva de aproximadamente 20 minutos, eles não deram conta. Então, realmente, há uma mudança climática bastante preocupante. Mas nós seguimos naquela perspectiva de trabalho de ressignificar Santa Tereza. Com a universidade aqui, poderemos analisar desapropriações para o município ampliar o quesito de moradias e dar laudos condizentes aos locais que foram afetados — diz Gisele.
A nota técnica, divulgada pela UFRGS, apontou o fenômeno meteorológico de 2024 como o maior evento de movimentos de solo e rocha nas encostas já ocorrido no Brasil. Para o professor, especialista no assunto e coordenador da pesquisa, ressignificar nesse caso é adaptar-se às mudanças climáticas:
— Entendemos que esse estudo possibilita olhar para esse território e apontar onde é melhor preservar, onde é melhor habitar e onde é possível plantar. Tudo isso para minimizar o risco, tanto para população urbana quanto para rural. É um olhar de reposicionamento — conclui.