A prefeitura de Bento Gonçalves busca alternativas para manter um radar geotécnico, avaliado em 7 milhões de dólares (cerca de R$ 37,8 milhões), em funcionamento no interior do município. Desde maio, o equipamento está instalado em um trecho entre a subprefeitura de Faria Lemos e a ponte do Rio Pedrinho, em Linha Alcântara, na RS-431.
O dispositivo, que pertence à empresa Ground Probe, chegou à Serra por intermédio de profissionais da mineradora Vale S.A.. Eles integram uma das comitivas que foram até Bento Gonçalves auxiliar na avaliação das áreas onde ocorreram os deslizamentos.
Além do radar, a Ground Probe cedeu a mão de obra de uma equipe de profissionais, que monitoram os dados coletados pelo radar e encaminham ao Núcleo de Riscos Geológicos em Bento.
Contudo, a empresa acabou solicitando a devolução do equipamento ou a locação do mesmo pelo município. A demanda pela manutenção do radar foi apresentada na terça-feira (18) ao governador Eduardo Leite em uma reunião na prefeitura de Bento. Na ocasião, Leite acenou positivamente para a locação, que deve ser feita por convênio entre a administração bento-gonçalvense e o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer).
O orçamento para contratar o radar e a equipe que o monitora varia de acordo com o período de utilização. A Ground Probe estabeleceu custo de quase R$ 1 milhão para seis meses de locação, cerca de R$ 166 mil mensal. Já a contratação por dois meses custaria R$ 822 mil.
Conforme a prefeitura, o radar deverá ser locado por um período de quatro a seis meses. Nesse prazo, o Daer fará o aporte financeiro do serviço e dará suporte técnico para a empresa no monitoramento da movimentação do solo.
Enquanto a contratação segue tramitando, a Ground Probe confirmou à prefeitura de Bento Gonçalves que manterá o equipamento e colaboradores atuando nas análises do município.
Fundamental para garantir segurança de moradores
Único no país neste modelo, o radar geotécnico emprestado a Bento Gonçalves tem desenvolvido papel fundamental para garantir a segurança dos moradores de Linha Alcântara.
No domingo (16), um alerta de possíveis desmoronamentos foi dado na comunidade. Com isso, mais de 50 moradores foram retirados de casa preventivamente. A ação foi possível a partir dos dados coletados pelo radar e encaminhadas ao Núcleo de Riscos Geológicos (NRG) de Bento.
O coordenador do NRG, Lucas Barbosa, explica que a capacidade técnica do radar avalia uma área de 30 quilômetros de extensão, identificando movimentações do solo que indiquem possíveis deslizamentos.
— O equipamento manda uma onda eletromagnética até o outro lado do vale, que chega até o solo. Quando essa onda volta, é possível observar os pontos em que o solo está mais "próximo" do radar do que na mediação anterior. Isso significa que ali há movimentação da terra. Foi exatamente esse cenário que encontramos na outra semana — detalha.
Segundo Barbosa, o monitoramento em tempo real foi essencial para a saída e retorno dos moradores, bem como para o fechamento temporário da RS-431 no domingo à tarde. De acordo com a prefeitura, todas as pessoas que saíram já retornaram para casa.
Em maio, o radar geotécnico também serviu de suporte aos bombeiros que atuaram nas buscas pelos desparecidos em Faria Lemos. As movimentações de solo identificadas pelo equipamento eram decisivas para a interrupção das operações, garantindo a segurança das equipes de resgate.
Suporte de outros Estados possibilitou criar estratégias de ação
Durante maio, cerca de 56 profissionais, entre geólogos e engenheiros, estiveram em Bento Gonçalves colaborando tecnicamente com o Núcleo de Riscos Geológicos. Entre eles estão representantes do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais, Defesa Civil do Rio de Janeiro, Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (IPURB), entre outros.
A movimentação em Bento Gonçalves foi reflexo da mobilização do prefeito Diego Siqueira em busca de levar especialistas em solo para o município.
— Sem eles não teríamos conseguido conduzir tão bem esta situação. Deslizamentos de terra desta magnitude foram algo nunca visto na região. Além da expertise em situações semelhantes destes profissionais, também fomos beneficiados com o empréstimo de equipamentos que permanecem conosco – explica Lucas Barbosa, coordenado do NRG.
Além do radar geotécnico, a cidade conta com dois tiltímetros (dispositivo que mede inclinações e variações de ângulos em terrenos), dois piezometros (equipamentos para monitorar nível da água) e um crack meter (sensor de rachaduras). Todos os dispositivos seguirão à disposição da prefeitura de Bento Gonçalves por tempo indeterminado.