O começo de dia chuvoso e final ensolarado registrado na quinta (20) em Faria Lemos criou um cenário emblemático no interior de Bento Gonçalves. Nas proximidades da antiga Tenda do Neco, na RS-431, uma cruz com o nome de Natália Cobalchini e dos pais Artemio Cobalchini e Ivonete Cobalchini, reluziu com o último resquício de sol.
Diante das montanhas e das faixas de terras expostas pela força da água, o memorial da família surge como uma lembrança recente do que significou o mês de maio. O dia 20 de junho marca um mês que o corpo da advogada foi encontrado por bombeiros de Roraima. Ela e os pais estão entre as 45 vítimas dos deslizamentos de terra que atingiram a Serra Gaúcha no mês passado.
Nesta semana, o memorial construído para homenagear Natália e os pais também completa um mês nas margens da rodovia. A simples estrutura retangular, com uma cruz metálica no meio, coberta de flores, representa a preservação da memória daqueles que partiram e da própria história de Faria Lemos, que ainda vive o luto.
A iniciativa de elaborar o espaço partiu dos irmãos Jonas Cobalchini e Marina Cobalchini, que buscaram uma maneira de eternizar as lembranças da irmã, do pai e da mãe.
— A gente tinha ideia de fazer o memorial depois de tudo que aconteceu. Não sabíamos onde, mas, depois que encontraram nossa irmã, decidimos que seria perto de onde tinha a casa e a tenda da família — conta Marina.
Após montar a estrutura, os irmãos levaram as flores entregues na despedida de Natália para preencher o espaço. A foto e a cruz foram colocadas no dia seguinte, completando o memorial. Foi nesse mesmo local que no sétimo dia de falecimento da advogada os familiares se reuniram em uma pequena cerimônia de despedida das cinzas.
Dias depois, uma foto e uma cruz com o nome de Mateus Tanisi foi acrescentada no memorial por familiares da vítima. Ele era vizinho dos Cobalchini e foi morto pelo mesmo desmoronamento de terra que atingiu a casa da família.
Desde então, o espaço tem recebido moradores da região que se reúnem para orar, visitantes que passam pelo local e os parentes das vítimas, que têm ali um ponto de referência a recordação dos seus entes.
— De certa forma, este espaço nos traz um pouco de conforto. É a maneira que a gente encontrou de retribuir o carinho e o amor que sentimos por eles. Também serve para as pessoas que passam por ali possam rememorar quem foi a Natália, o pai, a mãe e o Mateus – pontua Marina.
Conforme ela, a família aguarda o clima se estabilizar na região para dar início ao projeto de um memorial fixo no local. Ainda sem formato determinado, Marina imagina uma pequena construção próxima à RS-431, que resguarde a recordação daqueles que vivem na eterna lembrança de Faria Lemos.
Relembre o caso
Em 1º de maio, um deslizamento de terra atingiu a comunidade de Faria Lemos, provocando o desaparecimento de Artemio Cobalchini (conhecido como Neco), Ivonete Cobalchini, Natália Cobalchini e Mateus Tanisi.
Os corpos do casal e de Tanisi foram encontrados por vizinhos dois dias após o desmoronamento. As buscas por Natália perduraram por 18 dias, até o corpo ser encontrado por bombeiros de Roraima, em 20 de maio.
Passado mais de um mês da maior tragédia climática do Rio Grande do Sul, as buscas seguem no interior de Bento Gonçalves. Conforme os bombeiros quatro pessoas seguem desaparecidas. São elas Carine Milani, Isabel Velere Antonello Gallon, Lourdes Helena Lazarini e Nelsa Faccin Gallon.