Desde o dia 1º de maio, áreas rurais de Veranópolis estão sem energia elétrica e abastecimento de água potável por causa dos 300 deslizamentos de terra que atingiram a cidade. A informação foi confirmada pela prefeitura nesta sexta-feira (24). O município registra ainda falta de insumos e preços elevados dos itens que estão à venda nas prateleiras dos estabelecimentos comerciais. Além disso, na agricultura, um levantamento mostra prejuízos estimados em R$ 32 milhões.
Em relatório feito pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS), foi confirmado que somente em Veranópolis choveu entre os dias 26 de abril e 16 de maio o total acumulado de 1.000 milímetros. Segundo o meteorologista Murilo Lopes, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a quantidade corresponde a 60% do esperado para todo o ano na cidade, visto que a média esperada para um ano inteiro de chuva em Veranópolis é de 1.730 milímetros.
Por causa dos deslizamentos de terra, que foram majoritariamente registrados no dia 1º, postes de energia elétrica foram derrubados e poços artesianos que atendiam as localidades atingidas foram destruídos. Em alguns locais, parte das estradas foi levada e a energia só poderá ser restabelecida a partir da reconstrução das rodovias, quando equipes da Rio Grande Energia (RGE) poderão recolocar os postes.
Conforme a prefeitura de Veranópolis, no caso da água, as localidades atingidas são abastecidas pelos poços artesianos e a reconstrução deve ser avaliada em parceria entre moradores e prefeitura.
Pouca oferta dos produtos agrícolas e preços elevados
Outro problema vivenciado em Veranópolis é a falta de insumos, como frutas, legumes e verduras. Por causa dos deslizamentos de terra, inúmeras áreas de plantio foram destruídas e os alimentos estão com pouca oferta na cidade, causando preços acima do normal. Para tentar suprir a demanda e evitar os valores elevados, produtos estão sendo importados de outras regiões do país para abastecer a cidade.
Com a dificuldade de acesso direto com Bento Gonçalves, Caxias do Sul e Porto Alegre, em decorrência dos bloqueios nas rodovias, a cidade está atualmente suprindo as demandas com a região Norte do Estado, como Passo Fundo. A partir deste acesso, é possível receber e enviar produtos de outros estados.
R$ 32 milhões em prejuízos na agricultura
O município de pouco mais de 26 mil habitantes registrou, até o momento, R$ 32 milhões de prejuízos na agricultura devido à chuva. O levantamento, incluso no relatório da Emater/RS, mostra que áreas de milho, hortaliças, citros, soja, fruticultura, uvas, apiculturas e aviculturas foram destruídas por causa dos deslizamentos. Em alguns casos os alimentos não podem ser consumidos por causa da quantidade de água absorvida.
Também há registro de perdas econômicas no setor de bovinos de corte e de leite, onde inúmeros animais morreram ou os produtores não conseguem acessar as propriedades para trabalhar devido aos bloqueios das estradas. Além disso, máquinas, implementos, ferramentas e estruturas de produção foram danificadas ou totalmente destruídas após serem soterradas pelos desmoronamentos.
De acordo com o secretário de Agricultura e Meio Ambiente da cidade, Fernando Fracaro, o foco atual dos trabalhos é liberar os acessos das estradas bloqueadas. Por causa do solo ainda estar encharcado na região, inúmeras barreiras acabaram caindo mais de uma vez, atrasando o andamento dos serviços.
— Precisamos liberar acessos para as comunidades que estão com problema para chegar nas plantações e nas próprias moradias. São áreas extensas e muitas barreiras caídas. Tem lugares que as barreiras caíram quatro vezes, as máquinas limparam, tiraram a barreira e caiu novamente. Tem áreas com perda total de estrada e precisa ser feita uma detonação de pedra para reconstruir a estrada. Como planejamento futuro, estamos em contato com entidades para recuperar o solo de produção e ter a fertilidade do solo de plantio — explica Fracaro.
Além do contato com entidades, o município precisará de verba do Estado e do governo federal para recuperar a perda milionária registrada na agricultura.
— Nosso maior problema é o acesso da BR-470, que faz a ligação com Bento Gonçalves e está com a logística toda comprometida. Certamente se não tivermos ajuda do governo do Estado e federal não conseguiremos recuperar essa perda da agricultura. A nossa capacidade de ajuda como município é limitada e precisamos de ajuda dos governos para conseguirmos reverter essa situação — afirma o secretário.
Ainda segundo o levantamento, todas as comunidades de Veranópolis foram afetadas por causa da chuva, mas as que registraram maiores prejuízos foram as comunidades São Pedro, Nossa Senhora dos Navegantes, Nossa Senhora do Rosário, Barros Cassal, São José da Nona, Nossa Senhora da Glória, Monte Claro e Nossa Senhora das Graças.
Os valores totais estimados de perdas na agricultura, pecuária e infraestrutura das comunidades atingidas é de R$ 32.346.483,62 e não há, até o momento, um prazo estimado para que a cidade se recupere do estrago.