Com a redução do contágio por covid-19, o cotidiano na maioria das cidades foi sendo retomado, mas trazendo consigo velhos problemas. Um deles foi o aumento dos acidentes com mortes em rodovias e ruas da região, que haviam diminuído nos primeiros meses da pandemia. Por outro lado, os grandes eventos voltaram com formato diferenciado e ajudaram a impulsionar o turismo e os negócios. O ano também marcou a decolagem do projeto do Aeroporto Regional da Serra Gaúcha. Confira esses outros assuntos:
Passarelas inéditas e polêmicas
Quando as cinco travessias aéreas para anfíbios foram instaladas no trecho da Reserva Biológica Mata Paludosa, em Itati, muita gente questionou a utilidade e o custo das estruturas. Ambientalistas responsáveis pelo projeto explicaram que a área cortada pela Rota do Sol é habitat de espécies em risco de extinção, algumas existentes apenas na região. Os ambientalistas reforçam que as travessias, quando devidamente prontas, permitirão que os animais cheguem ao outro lado da rodovia sem o risco de atropelamento. Para isso, as estruturas serão envoltas pela vegetação, funcionando como uma espécie de extensão da mata. A iniciativa é inédita no país.
A crise do lixo e da Codeca
A Codeca encerra o ano tentando contornar uma forte crise financeira, problema que já dava sinais em gestões anteriores. Falta dinheiro para manutenção de caminhões, para compra de contêineres e obrigações trabalhistas, entre outros. Como resultado desse déficit, a cidade viu o sistema de recolhimento de lixo, considerado em outros tempos como exemplo para o país, definhar, com equipamentos sucateados e resíduos transbordando. Mesmo com críticas, a prefeitura diz que não pretende privatizar a companhia e garantiu um socorro financeiro de R$ 4 milhões no final do ano. Apesar do aporte, o futuro da Codeca só deve ser definido no próximo ano.
O ano para debater pedágios
A volta dos pedágios nas estradas estaduais motivou debates em diversas cidades ao longo do ano. Lideranças empresariais, políticos e representantes da sociedade civil discutiram os melhores termos para a cedência das rodovias para a iniciativa privada a partir do ano que vem. Em dezembro, o Conselho Gestor do Programa de Concessões e PPPs do Governo do Estado aprovou a publicação do edital para concessão de 271,5 quilômetros de rodovias estaduais no Bloco 3 (Serra Gaúcha e Vale do Caí). O edital contemplará R$ 3,4 bilhões em investimentos. Em troca, a Serra terá cinco praças de cobrança. O leilão deve ser realizado no fim de março de 2022.
Taxa para carros em Gramado
Com o turismo aquecido após o esvaziamento de ruas e hotéis no ano passado, um dos principais destinos do país anunciou a proposta de cobrança de uma taxa para veículos entrarem na cidade. A criação da Taxa de Proteção Ambiental (TPA) em Gramado foi justificada pela prefeitura devido ao impacto causado por dezenas de milhares de carros, ônibus e caminhões que circulam todos os meses em uma cidade tão pequena. A TPA, que também é cobrada em cidades turísticas como Bombinhas (SC) ainda não está em vigor, pois depende de votação no Legislativo da cidade.
A festejada neve
A tão esperada neve caiu sobre a Serra entre a tarde e noite de 28 de julho com uma intensidade que não se via desde 2013. Com tanto frio, o branco cobriu telhados, carros, árvores e calçadas até manhã seguinte, atraindo turistas de todo o país para a região.
Trânsito mais mortal
Depois de um período de aparente tranquilidade nas ruas e rodovias em 2020, a região voltou a ser sacudida pelo aumento de acidentes fatais no trânsito em 2021, sinal da retomada da rotina e vida noturna. Entre os casos que causaram comoção, a morte de três jovens amigos que estavam em um carro que bateu contra um poste na BR-116 na madrugada de 28 agosto, em Caxias do Sul, mostrou que as autoridades de trânsito estão diante novamente de um problema a ser combatido: a cidade registrou, até novembro, aumento de 55% em mortes por acidentes neste ano em relação a 2020.
Apesar das tragédias na Serra, um acidente na BR-101, em Terra de Areia, chamou a atenção pelo desfecho feliz: o prefeito de Arroio do Sal, Affonso Angst, o Bolão, sobreviveu após ter a caminhonete prensa por dois caminhões na manhã de 26 de outubro.
Ouça a retrospectiva:
Morte em blitz
Uma operação que serviria para dispersar aglomerações noturnas em razão da pandemia de covid-19 levou a um desfecho inesperado na madrugada de 6 de junho, um domingo. Matheus da Silva dos Santos, 21 anos, morreu baleado após fugir de uma barreira da fiscalização em Caxias do Sul. O rapaz conduzia uma Parati, mas não tinha carteira de habilitação. Ao lado de amigos, optou por não parar numa barreira montada na Rua Moreira César, no bairro São José. A perseguição mobilizou diversos agentes municipais e se estendeu por várias quadras e terminou na rótula da Rua Ludovico Cavinato com a Perimetral Norte. Nesse ponto, Matheus foi atingido por um tiro na cabeça _ o veículo havia levado pelo menos oito disparos. O caso gerou grande repercussão na cidade e ainda está sendo investigado pela Polícia Civil, que aguarda o agendamento da reprodução simulada dos fatos, a chamada reconstituição, para tentar esclarecer, tecnicamente, de onde partiu o único tiro que matou o jovem.
Crise no transporte
Tudo indicava que 2021 seria um ano importante para definir o futuro do transporte coletivo em Caxias, mas o período acabou sendo de incertezas. Com a licitação concluída em abril, a Visate seguiu com o serviço na cidade e a prometida passagem mais barata não se concretizou. Apesar de a tarifa ter subido para R$ 4,75 e do corte de benefícios a passageiros, a empresa surpreendeu ao reduzir pela metade a frota em circulação na manhã de 19 de novembro. A alegação da concessionária é que a operação enfrenta uma crise financeira em razão da redução no número de passageiros. A prefeitura precisou injetar recursos públicos para impedir o colapso do sistema de ônibus.
Não bastasse o problema do transporte coletivo urbano, as alternativas para a população também enfrentam percalços. Quem depende de transporte por aplicativo pagou mais caro ou teve de enfrentar sucessivos cancelamentos ao longo do ano devido a corridas que não compensam o custo/benefício para os motoristas. Em outra ponta, com veículos antigos e concorrência dos aplicativos, os operadores do táxi-lotação lutam pela sobrevivência.
Parques nacionais e floresta nacionais
O ano que está terminando marcou o repasse de monumentos naturais para a administração de empresas. Os parques nacionais da Serra Geral e dos Aparados da Serra, onde ficam os famosos cânions de Cambará do Sul, foram cedidos à iniciativa privada, que iniciou a gestão em outubro. A cobrança de ingressos começou em dezembro. As florestas nacionais de Canela e São Francisco de Paula também serão geridas por empresas, que serão obrigadas a implantar melhorias em troca de cobrança de ingressos. Neste ano, o governo do Estado anunciou que pretende conceder outras áreas naturais, caso do Parque Tainhas e do Parque Caracol.
Festa da Uva com emoção e tristeza
Viabilizar a Festa da Uva, que ocorre de 18 de fevereiro a 6 de março de 2022, tem sido desafiante. Houve dúvidas se o evento seria de fato realizado em razão da pandemia. Com isso, a organização se viu diante do mais longo pré-concurso de escolha das soberanas da Festa. Na noite de 26 de junho, durante o desfile que enfim definiria a corte, houve um triste revés: Maria de Lourdes Mallmann, mãe da então candidata e hoje princesa, Bruna Mallmann, passou mal na plateia e morreu. A escolha foi remarcada e o público conheceu as novas soberanas na noite de 22 de julho. Pricila Zanol foi coroada rainha e Bianca Fabro Ott foi escolhida princesa ao lado de Bruna.
O retorno dos grandes eventos
O ano foi marcado pela retomada dos grandes eventos em razão do avanço da vacinação da covid-19, o que ajudou a impulsionar o turismo. O teste do recomeço foi por meio do Gramado Summit, em maio. A partir daí, a região recebeu o público eventos como a Mercopar, Natal Luz e Sonho de Natal, entre outros.
Viagem em alta velocidade
Um estudo de viabilidade, apresentado em setembro, indica que o uso do hyperloop possibilitaria o deslocamento de Porto Alegre a Caxias do Sul em 19 minutos. Gramado também pode ter a ligação à capital por esse é um sistema de transporte ultrarrápido feito em cápsulas flutuantes dentro de tubos à vácuo; e Bento Gonçalves quer entrar no projeto. A HyperloopTT projeta fazer o primeiro teste com passageiros em 2022.
Estação Férrea
A antiga Estação Férrea Nova Vicenza, em Farroupilha, foi reaberta em agosto, como forma de comemoração dos 50 anos da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) do município. O espaço passou por restauração nos últimos anos. Agora, abriga um gastropub e um museu. A CDL ocupava desde 2018 a área do Largo Carlos Fetter, onde construiu um prédio próprio.
Infraestrutura
Arroio do Sal poderá dobrar de tamanho nos próximos anos com a instalação de portos que facilitarão a logística da Serra e da metade norte do Estado. Um deles foi apresentado no final de novembro pela empresa DTA Engenharia Portuária e Ambiental apresentou no final de novembro. O projeto do Porto Meridional, em Arroio do Sal, tem expectativa de começar as obras entre o fim de 2022 e início de 2023. A previsão é que o investimento seja concluído em 20 meses a partir da obtenção das licenças. Outro projeto em andamento é o futuro porto na praia de Arroio Seco, em Arroio do Sal.
Projeto do aeroporto regional
Foi somente em 2021 que o sonho do Aeroporto Regional da Serra Gaúcha, em Vila Oliva, começou a virar, de fato, realidade. A prefeitura de Caxias assinou contrato para a elaboração do projeto executivo com a Iguatemi Consultoria e Serviços de Engenharia em setembro. O início efetivo dos trabalhos ocorreu em dezembro e o prazo para conclusão é de um ano.
Região Uva e Vinho
Caxias do Sul decidiu, no final de setembro, deixar a Região das Hortênsias e voltar à Região Uva e Vinho no Mapa do Turismo Brasileiro. A alteração atendeu ao entendimento de que cultural e historicamente o município está mais próximo desta segunda região. Em 2019, a prefeitura havia decidido situar Caxias do Sul na Região das Hortênsias, o que gerou polêmica.
Aumento da pobreza
A pobreza cresceu em Caxias do Sul em 2021. Em agosto, das 28.057 famílias inscritas no Cadastro Único, 3.162 viviam na linha da pobreza em Caxias do Sul (o equivalente a 9.802 pessoas). O número na extrema pobreza era ainda maior: 9.444 famílias (o equivalente a 24.040 pessoas). Em abril, eram 9.223 na extrema pobreza. Em março de 2019, antes da pandemia, eram 6.381 nessa condição. Também foi nesse ano que se discutiu a criação do programa federal Auxílio Brasil, que substituiu o Bolsa Família. No Estado, o programa estadual Devolve ICMS, que ressarce parte do tributo para famílias de baixa renda, tem cerca de 10 mil beneficiários.