Caxienses que dependem do transporte coletivo urbano ficaram na mão na manhã dessa sexta-feira (19) após a Visate, concessionária do serviço, cumprir apenas metade dos horários previstos em todas as linhas. A medida, que não teve aviso prévio à população, foi adotada desde o início da manhã e surpreendeu os passageiros que aguardavam ônibus para ir ao trabalho ou outros compromissos. A empresa justificou que a operação reduzida ocorreu por dificuldades financeiras.
No bairro Planalto, por exemplo, a linha do bairro esperada para as 7h10min passou somente às 8h, segundo um passageiro ouvido pela reportagem. Outras pessoas que aguardavam na parada acabaram recorrendo a alternativas.
— Imagina o transtorno das pessoas com o horário e a chuva. A maioria pegou outras linhas que passaram mais ou menos nos mesmos horários e estavam lotadas. Algumas pessoas recorreram a carona ou aplicativos e até mesmo a pé tinha gente se deslocando a pé — relatou.
A Visate se manifestou apenas por meio de nota e não deu detalhes a respeito da menor circulação. O comunicado afirma que a concessionária apresenta ao município desde 22 de setembro de 2020 a situação financeira e a necessidade de socorro ao sistema. A nota prossegue dizendo que "até o momento nada aconteceu e estamos sem recursos para operar".
Diante do caos, o prefeito, Adiló Didomênico (PSDB), e o secretário de Trânsito, Alfonso Willembring, convocaram uma coletiva para apresentar números do serviço e medidas. Segundo eles, um aporte emergencial de recursos já estava em estudo e deve ser definido ainda nesta sexta para dar fôlego financeiro ao sistema. A medida é uma forma de atenuar os impactos persistentes da crise sobre o setor de transporte, que já enfrentava dificuldades ainda antes da pandemia.
— A questão envolvendo o transporte atinge todo o país e arrisco dizer que o mundo. Desde março de 2020 teve momentos que a queda no número de passageiros chegou a 80%. Hoje está em 35% a 40% em relação a antes da pandemia. O diesel, que é um dos principais custos, aumentou 70% neste ano, 50% somente durante o novo contrato de concessão. Qualquer sistema de transporte coletivo que funciona com tranquilidade hoje no país está sendo subsidiado pelo poder público, mas a crise também afetou o município e um aporte financeiro não era possível — explicou o secretário, que não considerou a medida da concessionária uma retaliação.
Willembring questionou, porém, a alegação da Visate de que nada foi feito para atenuar os problemas. O secretário citou medidas adotadas desde o ano passado para reduzir os custos operacionais.
— Houve redução de horários e aglutinação de linhas. Também houve isenção do Imposto Sobre Serviços (ISS) e da Taxa de Gerenciamento, que reduziu o custo em 3%. Ainda revimos as gratuidades. Antes 34% dos passageiros não pagavam tarifa, hoje são 24%, ainda muito alto. Houve reuniões semanais com a empresa ao longo desse ano, inclusive com a participação da União das Associações de Bairros (UAB). A gente entende as dificuldades da empresa, mas esse "nada aconteceu"? Teve inclusive um processo licitatório nesse período — rebateu o secretário, que disse ter sido informado da decisão da Visate às 19h de quinta-feira (18), horário "difícil de reagir", segundo ele.
O valor a ser aportado e a forma como os recursos serão encaminhados ainda não estão definidos. O prefeito Adiló Didomênico disse, porém, que o município deve adotar medidas para garantir a normalidade do serviço nos próximos dias. Não se descarta, inclusive, ações judiciais.
— Tem contrato em vigor e entendemos que a empresa tem responsabilidade de manter o serviço. Estamos atentos ao problema e vamos tomar todas as medidas necessárias para solucionar — afirmou.
Adequação do contrato à realidade
Outra medida anunciada é a criação de uma comissão na próxima segunda-feira (22) para revisar o atual contrato de concessão, assinado em maio deste ano. A justificativa para essa necessidade tão pouco tempo depois da parceria ser firmada é a não adequação da realidade ao que havia sido previsto. Não se descarta, por exemplo, a permissão de aumento na idade média da frota e utilização de ônibus menores em linhas menos rentáveis.
— Fizemos a licitação em um momento completamente inadequado e isso foi ao longo do ano passado. Não era o melhor momento, mas tínhamos que fazer. A frota exigida no contrato antigo era de 330 ônibus enquanto no atual é 280 e essa estimativa ainda foi alta em relação a hoje (o sistema roda com 198 veículos). O contrato é vivo e pode ser renovado sempre que for necessário — explica Willembring.
Diante do cenário adverso, o município já descarta a possibilidade de redução da tarifa para o próximo ano e estuda meios de reduzir custos ou subsidiar o sistema para, ao menos, manter a o valor atual, de R$ 4,75.
— Estamos buscando uma solução para a tarifa porque o sistema mostra uma recuperação no número de passageiros, mas essa medida da empresa coloca na contramão do que o usuário vem fazendo, que é voltar a utilizar o ônibus — destacou Adiló.