A data provavelmente passaria meio batida, mas graças à colaboração do escritor e pesquisador da imigração italiana Floriano Molon resgatamos um pouco da história das embrionárias exposições de uva que ocorreram no Rio Grande do Sul - até a chegada da primeira festa “oficial”, em Caxias, em 1931.
Molon destaca a 1ª Festa da Uva da Vila Nova d'Itália (considerada a 1ª Festa no Estado), ocorrida há 110 anos, em 26 de janeiro de 1913, em Porto Alegre - Vila Nova d'Itália foi a colônia onde vários núcleos de imigrantes se estabeleceram a partir de 1894. Entre essas famílias, estavam os Passuelo, Dallariva, Monteggia, Morandi, Salomoni, Vedana, Moresco, Bertaco, Ungaretti e Balestrin.
O texto abaixo mescla informações contidas em diversas publicações de seu Floriano, tanto em livros quanto em colaborações no jornal "Correio do Povo":
“Ao lado das grandes imigrações italianas para a Serra Gaúcha (Garibaldi, Bento Gonçalves e Caxias do Sul) e centro do Estado (Silveira Martins), houve uma outra região, não muito divulgada, em que a migração italiana se faz presente: na região sul de Porto Alegre. Os imigrantes italianos chegaram a partir de 1894, na inicialmente denominada Vila Nova d’Itália. Tratavam-se de famílias trentinas, mantovanesas, cremonesas, vênetas e de outras regiões da Itália, que adquiriram glebas de terra e as transformaram em chácaras, com plantações de videiras, árvores frutíferas e verduras. A uva ali produzida, além de ser utilizada para a fabricação do vinho, era comercializada em diversos mercados regionais e no centro do país.
Em 1906, iniciou-se a construção da capela que originaria a Paróquia São José de Vila Nova; e, em 1911, ocorreu a fundação de uma Cooperativa Agrícola e uma Caixa de Crédito Rural, que vieram transformar a região e expandir os negócios dos pequenos agricultores da Vila. Em 1912, inicia-se o tráfego ferroviário na Estrada de Belém Velho, que passava pela Vila Nova e, em 1926, foi inaugurado pelo então prefeito Otávio Rocha o ramal que se prolongava da Tristeza à Vila Nova, servindo para o transporte dos produtos coloniais ali produzidos para o Mercado Central da Capital”.
Na foto acima, a colheita da uva na Vila Nova d'Itália, com os vitivinicultores confraternizando com as suas esposas e filhos na vindima. Conforme seu Floriano, trata-se de uma das mais históricas fotos, onde ainda se destaca o parreiral feito de colunas de madeira, sem a utilização dos arames.
— Mas já temos cestas de vimes, tradição também trazida pelos imigrantes — detalha seu Floriano.
Uma festa em 1913
Conforme Floriano Molon, a 1ª Festa da Uva da Vila Nova d'Italia, em 1913, ocorreu também, em anos alternados, no arrabalde de Teresópolis. A festa contava com uma exposição de uvas, tendas, premiação aos melhores produtos, apresentação de bandas, parque de diversões e sorteio de bandejas de frutas, tortas e animais — como leitões e galinhas —, todos doados pelos moradores.
Parte dessa história também consta no livro "Vila Nova", de Ana Maria Monteggia Mallmann, lançado em 1991. A publicação traz a história do “recanto italiano” que, com o tempo, foi incorporado à Capital urbanisticamente, perdendo seu nome original e ficando apenas Vila Nova.
Tradições italianas
Segundo seu Floriano, o bairro porto-alegrense de Teresópolis, hoje completamente urbanizado, foi também um polo irradiador das tradições italianas.
— É interessante destacar, que ainda hoje, a região sul de Porto Alegre se dedica na produção de frutas, mantendo a tradição italiana ligada às atividades agrícolas.
A saber 1: a década de 1950 marcou a transformação da Festa da Uva, em Porto Alegre, agregando ainda a celebração das safras de pêssego e ameixa.
A saber 2: a Festa da Uva e da Ameixa encerrou-se no último domingo, na Praça Nossa Senhora de Belém, bairro Belém Velho, em Porto Alegre. Produtores dos bairros Vila Nova, Belém Velho e Campo Novo expuseram uvas e outras frutas da estação, como melão, melancia, figo e morango orgânico.