Neste 2021 em que são recordados os 90 anos da primeira edição da Festa da Uva, em 1931, trazemos algumas curiosidades sobre os festejos que não costumam figurar no “calendário oficial” do evento. Entram aí as tímidas exposições de uvas realizadas entre 1938 e 1948, época das restrições decorrentes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945); da entrada do Brasil no conflito, em 1942, lutando contra o eixo formado por Itália, Alemanha e Japão; e do famoso “proibido falar italiano”.
Parte dessa história foi recordada pelo jornalista Luiz Carlos Erbes, autor do livro Festa da Uva – Alma de um Povo, lançado em 2012. Conforme Erbes, o forte vínculo com a Itália foi quebrado em 10 de novembro de 1937, com a decretação do Estado Novo pelo presidente Getúlio Vargas. Eminentemente nacionalista, a ditadura de Vargas perdurou até 1945 e rompeu os laços de forma abrupta – de amigos, os italianos da Serra Gaúcha passaram a ser vistos como inimigos.
“Com o golpe dado por Getúlio Vargas, inaugurou-se um período difícil para os descendentes de italianos. Quem sofreu as piores foram, na verdade, os primeiros imigrantes, impedidos até de falar o dialeto vêneto – no caso de muitos, o único idioma que falavam”.
Celebrar qualquer coisa naqueles tempos acabou ficando “perigoso”, vide o fechamento de escolas, sociedades e organizações de mútuo-socorro, além de centenas de relatos sobre agressões e discriminação – principalmente com os moradores da zona rural. Daí o encolhimento geral do evento a partir de 1937 – quando ocorreu a chamada “última edição”, já impactada pela tensão na Alemanha. O que se viu foi um retorno ao formato de 1931.
“Consciente dessa realidade, (o idealizador) Joaquim Pedro Lisboa retomou a pequena exposição de uvas de 1931, que acabou dando origem à festa. Organizou pequenas mostras, sem nenhuma pompa, sendo que estas se restringiam a um único dia e se dirigiam apenas aos viticultores. Não houve grande divulgação, visitantes de fora, rainha e muito menos qualquer desfile de carros alegóricos”.
As pequenas mostras
Conforme Luiz Carlos Erbes, a edição de 1937 encerrou a “fase heróica” da Festa da Uva, quando os promotores tiveram de lutar contra uma série de dificuldades. A fase seguinte, depois da Segunda Guerra Mundial – leia-se 1950 em diante -, foi definida como a da “confirmação da Festa da Uva”, incluindo profissionalismo na hora de organizar o evento. Antes disso, porém, ocorrem quatro “eventos menores”, conforme detalhado por Erbes:
“A primeira dessas quatro edições ocorreu no dia 6 de março de 1938, no salão de festas do Clube Juvenil. Promovida pela Associação Rural e pela Sociedade Agrícola Caxiense, a mostra reuniu uva, vinho e outros produtos cultivados pelos agricultores do município. O evento foi citado pelo semanário “O Momento”, enquanto a segunda edição não ganhou mais do que uma simples nota em um canto de página. Realizada no dia 18 de fevereiro de 1940, em local não divulgado, o jornal apenas enumera as autoridades presentes – o prefeito Dante Marcucci – na cerimônia de abertura. Não há dados sobre público e expositores”.
Em 1944 e 1948
Conforme apurado pelo jornalista Luiz Carlos Erbes, a terceira dessas exposições ocorreu no Recreio da Juventude em 27 de março de 1944, também organizada por Joaquim Pedro Lisboa. Já a derradeira e quarta mostra, única em que Lisboa não integrou o grupo de organizadores, ocorreu em 28 de fevereiro de 1948, na antiga agência do Banco do Rio Grande do Sul, na esquina da Av. Júlio com a Rua Marquês do Herval (foto acima).
Começariam, a partir daí, os preparativos para o grande retorno da Festa da Uva ao calendário do município, em 1950 – com direito a rainha (de Bento Gonçalves, diga-se de passagem), desfile, celebração e tudo o mais que havia sido interrompido por 13 anos...
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