Dando sequência às abordagens sobre as primeiras edições da Festa da Uva, na década de 1930, destacamos hoje parte da história do órgão fundamental para o surgimento e a consolidação do evento: a Estação Experimental de Viticultura e Enologia ( EEVE), então dirigida pelo enólogo e ex- intendente de Caxias do Sul Celeste Gobbato 1890-1958).
Se na primeira edição – ocorrida em 1931 nos salões do Recreio da Juventude –, o visitante apreciava cerca de 100 variedades cultivadas nos viveiros do órgão e conferia os resultados obtidos com estudos e experimentações, na segunda, a Estação Experimental foi ainda mais além.
Em 1932, a EEVE lançou a programação do badalado 1 º Congresso Brasileiro de Viticultura e Enologia, responsável por gerar uma ampla discussão sobre qualificação de viníferas, vinhos, impostos, fraudes, distribuição, preços e criação de uma legislação para o vinho.
É nesta edição que também surge o corso alegórico, com a Estação exibindo, logicamente, seu exuberante carro adornado por uvas (abaixo). O sucesso de 1932 contribuiu ainda para que Gobbato fosse convidado a presidir a terceira Festa da Uva. Em 1933, sua gestão investiu numa programação repleta de atividades, em que o 2 º Congresso Brasileiro de Viticultura e Enologia reforçou a discussão de melhorias na viticultura.
Vitrine
Conforme destacado pelo repórter fotográfico Roni Rigon em uma reportagem especial sobre o órgão no Pioneiro de 2 de fevereiro de 2008, a Festa da Uva tornou- se uma excelente vitrine de propaganda dos trabalhos da Estação Experimental.
Antes disso, o órgão estava restrito ao atendimento ao produtor e os resultados de suas pesquisas condicionavam-se à visita de colonos em seus próprios vinhedos e publicações segmentadas.
Com a festa, os belos e selecionados cachos de uva passaram e ser expostos em um ambiente externo, atraindo a admiração dos visitantes. Na foto acima, funcionários da Estação Experimental de Viticultura e Enologia no preparo dos enxertos para videiras, na década de 1930. Na sequência, o estande do órgão na Festa da Uva de 1934.
O início
Em artigo publicado em 1950, Celeste Gobbato relatou a instalação da Estação Experimental de Viticultura e Enologia em Caxias do Sul. Conforme Gobbato, a Estação Geral de Experimentação do Rio Grande do Sul foi criada no governo Epitácio Pessoa ( 1919- 1922) pelo Ministro da Agricultura Ildefonso Simões Lopes – sendo estruturada para atender as lavouras de cana-de-açúcar em Osório, trigo em Veranópolis e uva em Caxias do Sul.
Em Caxias, foi adquirida a propriedade de Antonio Pieruccini, onde eram cultivadas grandes variedades de castas finas. Já em 1929, a Estação Experimental de Viticultura e Enologia passa a ser administrada pela Secretaria da Agricultura do Estado. O trabalho deu sequência à melhoria dos vinhedos.
Composto por agrônomos, enologista, técnico-rural e enxertador, o órgão passou a estudar variedades, cria métodos de enxertia, enviveiramento, poda, hibridação e pesquisa sobre doenças e pragas nas folhagens e uvas.
Modelar, o projeto contribuiu ainda para disseminar uma nova mentalidade na viticultura gaúcha.
Os colonos passaram a receber castas finas para cultivar, introduzindo significativa qualificação na cultura produtiva, que, naquela época, estava condicionada, em sua maioria, à variedade Isabel.
O pórtico
Conforme destacado pelo historiador Juventino Dal Bó, boa parte da atual área da Universidade de Caxias do Sul – incluindo o antigo Colégio Sacre Coeur de Marie ( Reitoria), o Hospital Geral e a Casa Amarela – pertencia originalmente à Estação Experimental de Viticultura e Enologia, até a transferência dos serviços do órgão para Fazenda Souza.
O ingresso à Estação dava- se pela Estrada Federal ( BR-116), exatamente pelo atual pórtico do CTG Rincão da Lealdade – conforme vemos na foto que abre a matéria, de meados dos anos 1940. A imagem foi compartilhada pelo professor Aldo Toniazzo no perfil do Facebook Caxias do Sul Contemporânea.
A saber: o Rincão da Lealdade passou a ocupar as terras da antiga Estação Experimental a partir de 1956, via cessão em regime de comodato por 30 anos.
O casarão de Celeste Gobbato
À época em que trabalhou na Estação Experimental de Viticultura e Enologia, de 1929 a 1939, o enólogo Celeste Gobbato residiu com a família em um prédio da própria instituição – na casa, inclusive, nasceram os filhos Piero e Lydia.
Conforme recordação de Tito Gobbato em uma postagem no perfil Caxias do Sul -Fotos Antigas, em 2013, ali também funcionaram o escritório e o antigo laboratório de enologia.
Pertencente à Universidade de Caxias do Sul, o prédio atualmente abriga a sede administrativa do Instituto de Biotecnologia, junto ao Bloco 57.
Acervo
O Centro de Documentação da Universidade de Caxias do Sul ( CEDOC- UCS) abriga a Coleção Estação Experimental de Viticultura e Enologia. O acervo é composto de documentos e fotografias que ilustram a criação do órgão, o funcionamento, os trabalhos de experimentação e a história da viticultura na região da Serra Gaúcha.