Criada em 1949, durante a gestão do prefeito Luciano Corsetti, a antiga Diretoria de Fomento e Assistência Rural (Dfar) teve como principal mentor e incentivador o engenheiro agrônomo José Zugno, cuja vida e obra foram tema da exposição "Memórias e Coleções do Naturalista José Zugno", ocorrida recentemente no Museu dos Capuchinhos (Muscap).
Espécie de embrião da Secretaria Municipal da Agricultura, a Dfar foi o órgão que melhor deu suporte aos produtores locais, carentes, naquele final dos anos 1940, de auxílios do governo para aprimorar suas técnicas de plantio e a criação de animais. Parte dessa história foi recordada pelo jornalista Ricardo Zugno, filho de seu José e autor do livro "A Palmeira Humana - Memórias do Naturalista e Escritor José Zugno", lançado em 2019, juntamente com a exposição do Muscap.
Ricardo detalhou o início do trabalho do pai, então recém-formado pela Escola de Agronomia da UFRGS:
“Sensibilizado pela situação, em 1949, José Zugno aceitou o desafio de iniciar o Fomento Agrícola Municipal e passou os primeiros meses de sua atividade percorrendo o interior do município, a fim de perceber a situação dos agricultores. Sempre acompanhado pelo dr. Adolfo Randazzo, agrônomo italiano radicado em Caxias desde o final da 1ª Guerra Mundial. A partir do quadro constatado, José entendeu qual seria o caminho. A meta prioritária e permanente da Dfar seria a policultura, a partir das atividades que os agricultores já sabiam fazer, para que estas passassem a trazer um pouco mais de renda e não se restringissem apenas ao consumo próprio. O lema da diretoria seria: Fomento Agrícola a Serviço da Policultura”.
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Visitas ao interior
Conforme Ricardo, o pai convocou reuniões nas principais comunidades rurais (capelas) do município, com a presença dos sub-prefeitos de cada distrito, de inspetores de travessões e outros líderes locais. O objetivo? Ouví-los sobre o que gostariam que a prefeitura fizesse por eles.
“Responderam, invariavelmente, que gostariam que melhorassem as estradas, as escolas, tirassem os ‘impostos das carretinhas e do fogão’ e resolvessem alguns problemas locais. Mas nenhum deles pedia assistência técnica. Não tinham, nem esperavam auxílio para qualificar os trabalhos das lavouras e as criações que praticavam”.
Começava aí um trabalho que faria de José Zugno um mestre e um porto-seguro para milhares de agricultores. Até seu falecimento, em 2008...
Carros alegóricos na Júlio
Poucos meses após a criação da Diretoria de Fomento e Assistência Rural, José Zugno foi incumbido de organizar o corso alegórico da Festa da Uva de 1950, um pedido do empresário Julio Ungaretti, diretor da comissão organizadora.
Era a edição que celebrava os 75 anos do início da colonização e marcava o retorno do evento após o hiato decorrente da Segunda Guerra Mundial.
Conforme Luiz Carlos Erbes, autor do livro "Festa da Uva - A Alma de um Povo", Zugno visitou os distritos e convenceu os colonos a participar dos desfiles.
“Segundo ele (Zugno), os colonos queriam saber como estruturar os carros e como ornamentá-los. O apoio oficial para participar do corso era pequeno, a verba era pouca, mal pagava as despesas para a confecção dos carros, mas a escassez de dinheiro não impediu Zugno de levar vários carros de distritos para a Avenida Júlio. No dia do desfile havia carros alegóricos de Ana Rech, Vila Seca, Fazenda Souza, São Marcos, Galópolis, Santa Lúcia do Piaí, São Romédio, São Caetano, São Virgílio, Quarta, Sexta e Nona Léguas, entre outras localidades”.
Neste post, alguns desses veículos durante a passagem pela Júlio, em frente à Praça Dante. Os registros são do fotógrafo Reno Mancuso.
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Junta de bois
Conforme destacado por Luiz Carlos Erbes no livro sobre a Festa da Uva, não faltou criatividade para seu José Zugno. Um carro, que inicialmente seria o da rainha e acabou descartado, foi remodelado para o desfile de colonos idosos.
“Fiquei no dilema: o que vou fazer com este carro? Chamei casais de velhinhos, alguns com 80 anos. Eles participaram do corso e foram muito aplaudidos”, revelou Zugno ao autor, completando: “Meu pai, Guerino Zugno, tinha um potreiro e trouxe as duas juntas de bois, além de fornecer alojamento e alimentação”.
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