Às vésperas de mais uma edição da Festa da Uva – acontecimento símbolo da pujança da vitivinicultura na serra gaúcha –, o registro dos cem anos de outro evento revela que Porto Alegre, em especial a Zona Sul, também carrega em sua história a tradição da cultura da uva e da produção de vinho. No dia 25 de janeiro de 1919, era aberta a Exposição de Uvas, em um pavilhão montado na Praça Maria Luiza, atual Guia Lopes, no bairro Teresópolis.
Os expositores eram premiados pela qualidade das variedades que exibiam. Naquele ano, os vencedores foram João Passuelo, produtor da Vila Nova; José Batista de Magalhães , o Juca Batista, do Passo da Capivara; Domingos Fernandes de Souza, do Cristal; e Manoel José de Moraes, do bairro Teresópolis.
Cem anos depois, pelo menos na Vila Nova, a vitivinicultura continua bem viva na Capital, graças a produções artesanais de famílias locais e, em especial, à iniciativa do ex-executivo da área financeira Luiz Barichello, neto de italianos que chegaram ao sul do Brasil em 1885. Vivendo na região desde 1975, quando ela ainda era considerada zona rural no plano diretor da cidade, Barichello decidiu, na virada dos anos 2000, empreender e reviver a tradição de seus familiares, que plantavam uva e faziam vinho em Garibaldi. Ali, surgiu a Villa Bari, vinícola de grife, que se localiza na Avenida Belém Velho, nas cercanias das terras que, no passado, eram cultivadas pela família Passuelo.
Hoje, em quatro hectares, Barichello planta castas europeias – cabernet sauvignon, cabernet franc, merlot e tannat –, que se adaptaram bem à região devido à combinação de amplitude térmica alta, boa drenagem, baixa concentração de nutrientes no solo e fontes de água mineral subterrâneas, e produz, no máximo, 5 mil garrafas de vinho por safra.
De acordo com a professora Janete da Rocha Machado, no trabalho acadêmico Resgate Histórico da Região Vila Nova e Vila Monte Cristo: Herança dos colonos italianos (século 17 ao 20), a colônia Vila Nova d’Itália, como foi batizada inicialmente a Vila Nova, recebeu as primeiras famílias de italianos a partir de 1894. Entre essas famílias, estavam Passuelo, Dallariva, Monteggia, Morandi, Salomoni, Vedana, Moresco, Bertaco, Ungaretti e Balestrin.
A exploração da uva foi um dos fatores de desenvolvimento da região, pois tanto o fruto quanto o vinho ali produzidos eram consumidos não só no mercado gaúcho mas, também, nos do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Além dos italianos, os descendentes de portugueses se dedicaram à produção de vinhos na Capital ao longo dos anos, uma tradição mantida, por exemplo, pelo fotógrafo porto-alegrense Eduardo Tavares, que, sazonalmente, produz o vinho artesanal da marca Quinta das Tarântulas.