
A história do rádio no Rio Grande do Sul mescla-se à trajetória de milhares e milhares de profissionais ao longo do século 20. E um deles ganha aplausos e felicitações extras hoje. Falamos de seu Gildo Flores, que completa 90 anos com muita história para contar.
Seja à frente do microfone, na direção e nos bastidores das emissoras por onde passou, em família, no Rotary Clube Caxias ou fotografando a cidade e a região com sua Yashica comprada no antigo Studio Geremia, seu Gildo é testemunha de boa parte do cotidiano de Caxias do Sul a partir da década de 1960.
Nascido em 13 de maio de 1931, em Passo Fundo, Gildo começou cedo no rádio. Era ainda um adolescente quando, levado pelo irmão Abel, ingressou na Rádio Passo Fundo, em 1947. A emissora, inaugurada um ano antes, pertencia às Emissoras Reunidas, a maior rede do interior do Estado – um empreendimento ousado do visionário Arnaldo Ballvé.
Como atento aprendiz, Gildo passou por todas as funções da época: operador, organizador da caixinha de reclames, discotecário, vendedor de publicidade e locutor.

Surge um bigode
Em 1955, o cargo de gerente, antes ocupado por pessoas de fora da cidade, com exceção do primeiro, Mauricio Sirotsky Sobrinho, ficou vago. Foi quando o então superintendente das Emissoras Reunidas, Paulo Amaro Salgado, disse a Gildo:
– O senhor Ballvé acha que tu tens condições de assumir, mas és muito novo (tinha 24 anos). Faz o seguinte: deixa o bigode para demonstrar mais seriedade...
O bigode durou apenas alguns meses, mas a gerência na ZYF-5 perdurou por décadas. E não foram poucos os acontecimentos que marcaram a emissora: entram aí os programas de auditório, como o Clube do Titio; as radionovelas, que balizavam os horários noturnos; os shows com os grandes artistas nacionais; e o surgimento do apresentador que se tornou um ícone da música gaúcha: Teixeirinha.
O novo desafio de Gildo, porém, estaria por vir quando Caxias entrou na rota do comunicador...


Caxias em 1965
Gildo Flores chegou a Caxias em maio de 1965. Veio substituir Nestor Rizzo na direção de umas das maiores unidades das Emissoras Reunidas: a então ZYF-3 Rádio Caxias do Sul, posteriormente ZYH-72 e ZYK-230, vulgo Rádio Caxias.
Sob seu comando, solidificou-se um dos grandes fenômenos publicitários e de audiência do rádio local: o jornal do meio-dia, em que Gildo frequentemente fazia a locução. Era um misto de notícias, informações fúnebres, de festas e de classificados que envolviam toda a região – e que está até hoje no ar como o Jornal Formolo.
Um novo marco dessa trajetória surge em agosto de 1972, quando a Rádio Caxias deixa as dependências do City Hotel e inaugura sua sede própria no 21º andar do Edifício Estrela – com 400m² de área e modernos estúdios. Já em 1980 chegam os transmissores de 20 KW de potência, o que transforma a Rádio Caxias em uma das únicas emissoras do interior do Brasil com essa condição.
É da cerimônia de inauguração desses transmissores, junto à torre do bairro São Ciro em 1980, o registro abaixo. Entre os presentes estão o reitor da UCS Abrelino Vasata, o padre Eugênio Giordani, os deputados estaduais Francisco Spiandorello e Valmir Susin, o prefeito Mansueto de Castro Serafini Filho, o padre Adelino Baumgartner, o locutor Reny Sefeld, o diretor das Emissoras Reunidas, Frederico Arnaldo Ballvé; o fundador e primeiro diretor da rádio, Nestor Rizzo; e o gerente geral da Rádio Caxias, Gildo Flores.

Diretor "antenado"
Presidente do Rotary Clube Caxias em 1969, Gildo Flores graduou-se na primeira turma do curso de Administração de Empresas da UCS, em 1971. Logicamente, foi o orador da turma na cerimônia, que teve como paraninfo o então governador Euclides Triches.
Ainda no decorrer dos anos 1970, Gildo percebeu a mudança do perfil do ouvinte, migrante de outras regiões do RS, e passou a dar maior espaço aos programas gauchescos, um segmento fundamental até hoje no rádio AM. Já em 1988, com a venda da Rádio Caxias, o diretor finalizou um compromisso de quase 40 anos com o grupo da família Ballvé, porém, sem “desligar” do rádio. Após algum tempo, passou a representar comercialmente emissoras da Capital e interior, atividade em que permaneceu por uma década.
Atualmente, graças a uma memória afiada sobre fatos e personagens com quem conviveu, Gildo continua sendo uma referência para pesquisadores e estudantes de Jornalismo. Segue, nas ruas e instituições, recebendo o apreço dos antigos colegas, dos anunciantes, dos amigos e dos “prezados ouvintes”.



Em família
Gildo Flores chegou a Caxias viúvo e com o filho Carlos, de apenas quatro anos, em 1965. Cerca de sete anos depois, formou uma nova família. Em 5 de fevereiro de 1972, às vésperas da Festa da Uva, casou-se com a enfermeira caxiense Julia Barasuol, nascendo dessa união os filhos Juliano, Cristiane e Viviane, que lhe deram os netos Rafael, Tomás e Joaquim – neste 2021, Gildo e Julia também completaram 49 anos de casados.
Na foto abaixo, um registro no carro, após a cerimônia de união na Catedral Diocesana, em 1972.


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