Centenas de pessoas circulam por ele diariamente, mas, assim como dezenas de outros bustos espalhados pela cidade, são poucos os que atentam para a história do homenageado. Falamos da escultura do primeiro bispo de Caxias do Sul, Dom José Barea, localizada no jardim frontal do Hospital Pompéia.
Obra do escultor, artista plástico e fotógrafo Ary Cavalcanti, a imagem em bronze foi inaugurada em 23 de abril de 1966, 15 anos após a morte do religioso. Conforme matéria veiculada pelo Pioneiro à época, a solenidade teve como principal autoridade eclesiástica convidada o núncio apostólico do Brasil e representante do Papa Paulo VI, Dom Sebatião Baggio.
Além de inaugurar o busto, Baggio visitou o berçário e as várias dependências do hospital e conheceu o trabalho das Damas de Caridade, acompanhado dos médicos José Brugger e Ataliba Finger e de Madre Rosa Albertina. Ainda segundo a reportagem, Baggio destacou "a obra social da seção de indigentes, onde, desde a infância até a velhice, os pacientes recebem, gratuitamente, integral assistência médico-hospitalar".
A programação encerrou-se, logicamente, ao redor da mesa. À noite, diocese e prefeitura municipal ofereceram a Dom Sebastião Baggio um jantar no Rincão da Lealdade, com direito a discurso do presidente da Câmara de Vereadores, Victor Faccioni. No dia seguinte, o núncio participou da consagração do monsenhor Angelo Mugnol - com profícua atuação em Galópolis entre 1946 e 1953 - como bispo titular de Pelotas.
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A foto oficial
- Na imagem acima, o momento da inauguração do busto de Dom José Barea, em 23 de abril de 1966. A partir da esquerda estão Dom Claudio Colling (bispo de Passo Fundo), Dom Antonio Zattera (bispo de Pelotas), Dom Vicente Scherer (bispo de Porto Alegre), Dom Walmor Battú Wichowski (atrás de Scherer), Dom Edmundo Luiz Kunz (bispo auxiliar de Porto Alegre), Dom Luiz Víctor Sartori (bispo de Santa Maria), Dom Augusto Petró (bispo de Uruguaiana), padre Eugênio Giordani, Dom Sebastião Baggio, o médico José Brugger, Dom Benedito Zorzi (bispo de Caxias do Sul), o empresário Ottoni Mingheli, Dom Cândido Maria Bampi (bispo auxiliar de Caxias), o deputado estadual Mário Mondino (representando o governo do RS), o prefeito de Caxias, Hermes Weber, e o autor do busto, o escultor Ary Cavalcanti, acompanhado da esposa Wanda Pelizzari Cavalcanti e do jornalista Mário Gardelin (ao fundo, à direita).
- Agradecimento especial ao professor Aldo Migot pelo auxílio na identificação dos bispos.
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Trajetória
Primeiro bispo de Caxias do Sul, Dom José Barea (1893-1951) nasceu em Nova Roma do Sul e teve forte atuação comunitária entre as décadas de 1930 e 1950, em especial na área da assistência social junto ao Hospital Pompéia.
Ordenado em 11 de fevereiro de 1936, foi responsável pela criação das paróquias de São Pelegrino, Lourdes e da Imaculada Conceição (Capuchinhos), além de ter sido o grande mentor do Congresso Eucarístico Diocesano – realizado há 70 anos, entre os dias 5 e 9 de maio de 1948.
Ele faleceu em 1951, aos 58 anos.
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O Museu Diocesano
Além de rua, Dom José Barea nomeia o Museu Diocesano, localizado no térreo do Bispado, ao lado da Catedral. O espaço abriga vasto acervo sobre a diocese, incluindo fotografias, documentos, livros, imagens sacras, objetos litúrgicos e a trajetória dos bispos que atuaram em Caxias do Sul desde a década de 1930, incluindo aí o próprio e os subsequentes, Dom Benedito Zorzi e Dom Paulo Moretto.
O autor
Ary Cavalcanti (1912-1994) transitou por várias frentes artísticas, com destaque para a fotografia, a pintura e a escultura. É autor do mural do CTG Rincão da Lealdade e de cerca de 160 bustos, espalhados por praças e diversas entidades caxienses. Além da escultura do bispo Dom José Barea, confeccionou a do ex-prefeito Dante Marcucci, no largo da prefeitura.
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