Rua que abrange parte dos bairros Jardim América, Jardelino Ramos, Lourdes, Exposição e Cristo Redentor, a Humberto de Campos tem entre suas principais referências a escadaria que liga a Rua Pinheiro Machado com a Av. Júlio de Castilhos. E sua história é recheada de curiosidades, a começar pela própria denominação.
Assim como ocorreu com diversas outras ruas de Caxias, a Humberto de Campos foi rebatizada em 1935, quando deixou de se chamar “Rua Gauchinha”. A mudança virou notícia no jornal “O Momento” de 13 de junho de 1935, a partir da decisão do prefeito Miguel Muratore de homenagear o escritor, poeta e jornalista Humberto de Campos (1886-1934), ex-integrante da Academia Brasileira de Letras e então recém-falecido. Consta no texto original de 1935:
“Considerando que, por isso mesmo, foi Humberto de Campos uma figura de grande e merecido destaque na intelectualidade brasileira, sendo digno ter seu nome perpetuado na memória do nosso povo, resolve (o prefeito), pelo presente ato, dar à antiga Rua Gauchinha o nome de Rua Humberto de Campos, em homenagem a esse ilustre brasileiro; Resolve mais: designar o dia 14 de julho próximo para ter efeito a citada homenagem”.
Não foram localizadas reportagens em jornais sobre a anunciada inauguração da placa, em 1935, tampouco fotos. O que trazemos aqui são dois momentos da Rua Humberto de Campos cerca de 25 anos depois, em 1958. Na foto acima, a extensão da via captada a partir da esquina com a Av. Júlio de Castilhos, em direção à Os Dezoito do Forte e à Plácido de Castro.
Vê-se, à esquerda, parte do atual prédio do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami – que abrigou originalmente a Casa de Negócios de Vicente Rovea e, por anos, o lendário Hospital Carbone. À direita, outros dois ícones do bairro Lourdes: a primeira sede do Brasdiesel sendo construída e, ao fundo (na esquina com a Sinimbu), a lendária Adega Nossa Senhora de Lourdes (Cantina Formolo).
Na foto abaixo, a Humberto de Campos captada a partir das imediações da Plácido de Castro. Ao fundo, percebe-se a elevação onde foi construída a escadaria ligando a Rua Pinheiro Machado à Av. Júlio.
A saber: a escadaria surgiu em 1965, durante a administração de Hermes João Weber. Possui 165 degraus, nove descansos e um declive de cerca de 50 metros.
A placa
Hoje, o nome “Gauchinha” sobrevive apenas na memória dos moradores mais antigos. Porém, ainda desperta curiosidade, especialmente porque o prédio do Arquivo Histórico Municipal, na esquina da Av. Júlio com a Humberto de Campos, mantém a antiga placa esmaltada azul com essa denominação (detalhe abaixo).
Conforme o historiador e ex-diretor do Departamento de Memória e Patrimônio Cultural de Caxias Juventino Dal Bó, a placa “sobreviveu” mesmo após a mudança do nome e a substituição pelos modelos atuais.
– Acredito que ela tenha permanecido até hoje por ter recebido uma provável camada de tinta por cima e ficado “meio escondida” na época da substituição. Quando o prédio foi reformado e pintado (nos anos 1990), ela voltou ao original, em ágata – comenta.
Na imagem abaixo, o prédio em 1931, à época da inauguração do Hospital Beneficente Santo Antônio. Vê-se, à direita, a placa indicando a então "Rua Júlio de Castilhos" e, na parede da Rua Humberto de Campos, na mesma altura, a placa com a inscrição "Rua Gauchinha". Na sequência, o detalhe das duas placas e a identificação hoje.
Ponto de tropeiros
Em relação à documentação oficial do Município, a antiga Rua Gauchinha já constava na “Planta da Sede da Ex-Colônia Caxias – Área Urbana”, de 1892. Já sobre a origem do nome, algumas pistas foram dadas durante uma antiga entrevista concedida pelo senhor Vasco Peretti (in memoriam) ao Arquivo Histórico Municipal – localizado no prédio onde funcionou o pioneiro comércio de Vicente Rovea, avô de seu Vasco.
Segundo o relato, havia nos fundos do casarão (com acesso pela Humberto de Campos) um local para os cavalos, visto que Rovea também oferecia pouso aos tropeiros vindos dos Campos de Cima da Serra. A informação é corroborada pelo autor João Spadari Adami no livro História de Caxias do Sul (1970):
“A atual Rua Humberto de Campos antes chamava-se Gauchinha devido a existirem nela galpões e mangueiras (currais) para tropeiros, pertencentes ao negociante toscano Vicente Rovea”.
Impressões de 1958
A Humberto de Campos também foi uma das destacadas na coluna “Ruas de Caxias do Sul”, espécie de relato informal feito pelo jornalista Christiano Carpes Antunes em algumas edições do antigo Boletim Eberle. Em setembro de 1958, antes do surgimento da escadaria, Christiano descreveu a rua vista a partir do Parque da Imprensa, provavelmente durante um passeio em um dia chuvoso.
“Como se estivéssemos chegando pertinho dos céus, como a reclamar para que São Pedro acabasse com a chuva, vamos galgando a forte ladeira da Rua Pinheiro Machado até chegarmos ao Parque da Imprensa, que é mais ou menos o local onde nasce a Rua Humberto de Campos. Estamos no Parque da Imprensa e temos a cidade aos nossos pés”.
Confira o texto na íntegra na reprodução do Boletim Eberle abaixo:
Leia mais
Romulo Carbone, um aniversário para recordar
Um relicário para Lucia Carbone
Arquivo Histórico Municipal, um casarão para a história
Elyr Ramos Rodrigues e Aldo Locatelli: um retrato em 1952
Hospital Saúde: um prédio com vocação para hospedar e ensinar
Um almoço no Caxias Hotel em 1947