Encerramento provisório das aulas públicas, construção de um hospital de isolamento, desinfecção sistemática da estação de trem e de todas as suas dependências, renovação constante do ar nos aposentos… Passados mais de 100 anos, várias das recomendações de combate à “Influenza Espanhola”, publicadas no jornal Cittá di Caxias em 4 de novembro de 1918, são aplicáveis atualmente, frente à pandemia do coronavírus.
Matéria de capa do semanário, intitulada A Influenza Espanhola – Providências das Autoridades de Caxias – Medidas postas à execução, destacava:
“A Influenza Espanhola está se alastrando pelo Estado com intensidade assombrosa. Rara é a cidade do Rio Grande que ainda não foi atingida pela terrível epidemia. Verdade é que, algumas vezes, a moléstia se apresenta com caráter de gripe benigna, então, as pessoas atacadas conseguem escapar, salvando a vida. Na maioria dos casos, surge, porém, a influenza inesperada e violentamente, quase sempre com resultados fatais. Aqui em Caxias já existem alguns casos. E é de supor que o seu número aumente, pois estamos em contato diário com Porto Alegre. O ilustre major Adaucto Cruz, vice-intendente em exercício, tem agido com toda a energia, tomando as providências decisivas que a gravidade do caso requer. Por ato governamental, foi nomeado o dr. Joaquim Lopes de Azeredo, médico da higiene municipal, com a incumbência também de atender a todos os doentes pobres e tomar as medidas que se façam necessárias, em virtude da situação anormal que atravessamos”.
As precauções
Conforme o texto de 1918, várias ações foram implantadas para deter a epidemia, principalmente na Estação Férrea, inaugurada oito anos antes, em 1910:
“O dr. Azeredo, de acordo com o major Adauto Cruz, resolveu fazer, por ocasião das chegadas dos trens, uma desinfecção rigorosa em todos os carros, inclusive os de bagagem. Está sendo feita, também, a desinfecção sistemática da Estação e de todas as suas dependências, salas, escritórios, armazéns, etc. Ficou assentada a aplicação de enérgicas medidas de higiene nas casas de diversões, nos hotéis, na igreja e nos colégios. Serão feitas visitas domiciliares, no intuito de se constatar o asseio das habitações, indicando, quando preciso, o uso de medidas preventivas”.
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A Praça Dante e a neve em 1918
Na imagem acima, que abre esta reportagem, a Praça Dante Alighieri coberta de neve em 7 de junho de 1918, ano em que a epidemia atingiu Caxias e várias cidades da região de colonização italiana. Trata-se de um registro dos trabalhos de ajardinamento realizados durante a gestão do intendente Penna de Moraes. Captada a partir da Rua Marquês do Herval, com a Dr. Montaury ao fundo, a foto traz, aocentro, o Chalet Municipal, que abrigava um bar e restaurante. Conforme informações do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, o município detinha a propriedade, enquanto a prestação de serviço era uma concessão ao senhor Jorge Arruda, o “Buffete”. Na parte inferior, avista-se as entradas dos sanitários públicos, que já apresentavam uma proposta moderna para a época: construções subterrâneas com acessos individuais masculino e feminino.
Na foto abaixo, outro registro daqueles tempos, agora com a vista da Catedral Diocesana, da antiga Casa Serafini (na esquina com a Dr. Montaury) e do casarão de madeira que abrigou o “Grande Baratilho de Luiz Mazzarotto” _ e onde surgiria posteriormente a casa de comércio “A Economia do Povo”, embrião do Magnabosco.
Porcos, lixo e interrogatório
Outra recomendação publicada no jornal Cittá di Caxias dizia respeito aos animais:
“Dentro dos limites urbanos foram retirados todos os porcos existentes, não sendo absolutamente permitido a quem quer que seja conservar aqueles animais em seus pátios. A remoção do lixo e a completa limpeza das ruas constituem um dos pontos do programa da higiene municipal. No caso de viajar algum enfermo, será este acompanhado até a Estação de Caxias. 0 doente será interrogado sobre seu destino e transportado com a maior cautela, ficando a casa onde se hospedar sob a direta fiscalização das autoridades sanitárias”.