Nada melhor do que um tricampeonato para recuperar o prestígio de um clube afastado dos palcos principais há quase uma década. Depois de atravessar seu pior momento em quase 110 anos de história e ressurgir com uma surpreendente campanha no Brasileirão do ano passado, o Inter entra na Libertadores com expectativa e discurso de retomada da grandeza de um clube que, entre 2006 e 2011, faturou o bi da América, um Mundial e duas Recopas Sul-Americanas.
Do time campeão de 2010, o Inter ainda conta com a experiência e o carisma de D'Alessandro e de Rafael Sobis — ambos reservas até agora nesta temporada. Em um grupo encabeçado pelo atual campeão da Libertadores, o River Plate, e que conta ainda com Alianza Lima e Palestino, a equipe de Odair Hellmann terá o desafio de provar que pode evoluir em relação a 2018. Até agora, não conseguiu. A saída de Leandro Damião para o futebol japonês reduziu o poder de fogo de um ataque que tem lugar reservado para Paolo Guerrero a partir de abril.
Com pouca capacidade de investimento no futebol, o clube trouxe reforços que ainda não deram certo. Dos oito jogadores contratados nesta temporada, apenas Neilton se candidata a vaga no time titular. As demais novidades no elenco começam a ser superadas por novatos como Nonato, Sarrafiore e Pedro Lucas. Com poucas referências técnicas no Beira-Rio, o grande nome da equipe é o uruguaio Nico López, que começou a justificar no ano passado o investimento feito pelo Inter em 2016, quando foi o destaque do Nacional-URU na competição continental.
O Inter disputará a principal competição continental pela 12ª vez. No histórico, são 110 jogos, com 53 vitórias, 29 empates e 28 derrotas, com 163 gols a favor e 103 gols contra. Já Odair vai para a sua primeira Libertadores, a exemplo de boa parte de seus comandados. O time terá uma tabela desafiadora. Depois de estrear fora de casa, serão três jogos em sequência no Beira-Rio, fechando a participação como visitante nas duas partidas finais. Para piorar, o adversário na última rodada do Grupo A será o River, no Monumental de Nuñez. Ou seja: para evitar drama para a classificação às oitavas, a ideia é viajar Buenos Aires sem a obrigação de vitória.
Tudo indica que a base colorada na largada do torneio tenha o retorno do tripé de volantes de 2018: Rodrigo Dourado, Edenilson e Patrick. A escalação de Nonato, 20 anos, e D'Alessandro, 37 anos, são pontos de interrogação por enquanto. Segundo o próprio treinador, o veterano camisa 10 será titular em "jogos estratégicos".
Na avaliação de Andrei Kampf, comentarista da plataforma de streaming DAZN, Inter e River brigarão pela melhor do grupo, muito mais pelo que já mostraram que podem jogar do que pelo que apresentaram até agora:
— Não se pode esperar menos do Inter do que a briga pelo tri. O começo de ano não confirma a expectativa de desempenho que se tinha. Mas é começo de temporada, e qualquer avaliação definitiva nessa momento é perigosa. Odair deve encontrar logo o modelo de jogo ideal pras peças que tem e crescer de rendimento.
Bicampeão em 2010, o Inter voltou a fazer boa campanha na Libertadores de 2015, quando foi semifinalista, perdendo a chance de avançar à final ao perder para o Tigres-MEX, que então contava com o futebol de Sobis. Desde então, o Inter conquistou um Gauchão, foi rebaixado, disputou a Série B e surpreendeu ao conquistar a vaga à Libertadores no ano em que retornou à elite do futebol brasileiro. Agora, é a hora dar novo salto.
RIVER PLATE – Buenos Aires (Argentina)
Atual campeão da Libertadores, o River Plate manteve a base do grupo de 2019 e parece faminto para buscar o pentacampeonato da América, em sua 35ª edição no torneio. Depois da natural ressaca do título — em uma polêmica final contra o arquirrival Boca Juniors disputada no Santiago Bernabéu, em Madri —, Marcelo Gallardo e seus comandados dão sinais de ter reencontrado o caminho das vitórias. Após abrir o ano com três derrotas seguidas, o time de Buenos Aires já soma seis jogos sem perder.
É bem verdade que apenas dois jogadores de 2018 deixaram o River, mas foram duas saídas de peso: o zagueiro Jonatan Maidana e o craque do time, Gonzalo Pity Martinez. São três novidades no grupo: o lateral-direito paraguaio Robert Rojas, o meia colombiano Jorge Carrascal, que estava no futebol da Ucrânia, e o atacante argentino Matías Suárez, contratado ao Belgrano.
— O River ainda tenta recuperar Scocco e Enzo Pérez, que são jogadores chave para o time, mas que ainda não conseguiram se recuperar de reiteradas lesões — comenta Lucas Ajuria, setorista do River Plate na Rádio Zónica, de Buenos Aires, que acrescenta:
— Além deles, Gallardo espera que muitos jogadores voltem ao nível do ano passado, como Borré.
Para Ajuria, um dos momentos mais esperados pelos torcedores do River nessa fase de grupos é o retorno de D'Alessandro a Nuñez.
— Se trata de um jogador histórico. Será ovacionado quando voltar ao Monumental para enfrentar o River — garante o jornalista.
ALIANZA LIMA – Lima (Peru)
Time de maior torcida do Peru, o Alianza Lima quer fazer mais na Libertadores. Em 2018, a equipe foi saco de pancadas no grupo de Palmeiras, Boca e Junior Barranquilla. Em seis jogos, perdeu cinco, sofreu 13 gols e só marcou um.
A direção do clube investiu em um técnico consagrado. O argentino Miguel Ángel Russo, campeão da América com o Boca Juniors em 2007, chegou com status de estrela. Para Franz Tamayo, jornalista do Portal Zona Fútbol, de Lima, o treinador pode ser um diferencial na competição:
— O Alianza tem um claro objetivo na Copa: lutar pela classificação. Não será um rival fácil por ter na cabeça um ganhador de Libertadores como é Miguel Ángel Russo.
Com o treinador, foram apresentados dois reforços de seleção: o goleiro Gallese e o volante Cartagena. Para o meio, chegou o uruguaio Felipe Rodríguez.
— Em princípio, o Alianza parte em desvantagem com relação as estatísticas e a história de River e Inter na Libertadores. Mas já ficou provado que, dentro de campo, são 11 contra 11 e tudo pode acontecer — finalizou o jornalista peruano.
Na atual temporada, o Alianza fez dois amistosos com o Barcelona, de Guayaquil, perdendo no Equador e goleando em Lima, com quatro gols do atacante Affonso. Na recém-iniciada Liga Peruana, o time da capital peruano soma uma vitória e uma derrota.
PALESTINO – Santiago, Chile
Campeão da Copa Chile em 2018, o Palestino quase foi rebaixado no campeonato nacional na mesma temporada. O técnico Ivo Basay não teve baixas para 2019, e a classificação à fase de grupos com River, Inter e Alianza foi uma grande surpresa para a imprensa de Santiago. Após eliminar Independiente Medellín e Talleres, o Jornal La Tercera exaltou: "Quanto promete o Palestino, equipe com menos orçamento, mas com uma ideia de jogo muito clara?". O "Tino" se coloca com os grandes e sonha com um ano de sucesso, depois de conviver com o fantasma do rebaixamento.
O clube foi fundado por imigrantes palestinos que fugiram da perseguição do Império Otomano, no final do século 19. O Chile, por sinal, abriga a maior colônia de palestinos, com cerca de 350 mil descendentes. Sem vez para árabes, o grupo é um caldeirão de nacionalidades. Na equipe titular, aparecem três jogadores argentinos, um uruguaio e outro venezuelano.
Uma curiosidade do primeiro adversário do Inter na Libertadores: o Palestino levou Figueroa de volta para o Chile em 1977. Ídolo do então bicampeão brasileiro, o zagueiro desprezou proposta do Real Madrid para retornar ao seu país. Com Figueroa, o Palestino foi campeão da Copa Chile de 1977 e do Campeonato Chileno de 1978, além de ter feita sua melhor participação na Libertadores, em 1979, quando chegou aos triangulares das semifinais.
Confira os detalhes do Grupo A: