O Palestino não é só um time de futebol. É uma bandeira. Fundado em 1920 por imigrantes palestinos cristãos ortodoxos, que haviam atravessado o mundo para fugir das perseguições turcas iniciadas depois da Primeira Guerra, o clube virou um símbolo de resistência. Talvez essa mentalidade explique o fato de um clube pequeno de Santiago do Chile se infiltrar entre os grandes da América do Sul e estar na fase de grupos da Libertadores, depois de eliminar o Talleres, de Córdoba, na fase preliminar no torneio sul-americano.
Hoje, a equipe é orgulho dos palestinos, sejam eles os 300 mil que formam uma comunidade no Chile, a maior no Exterior, ou em seu território, endereço de tensão pelas relações com Israel — só em 2012, a ONU votou resolução em que se reconhece a Palestina como Estado observador. Aliás, mesmo do outro lado do mundo, o clube entrou de cabeça nessa discussão e estremeceu as relações diplomáticas chilenas. Foi em 2014, quando resolveu adotar em seu uniforme o número 1 estilizado, com a silhueta do mapa da Palestina até 1946, ou seja, anterior à criação do Estado de Israel.
Foram apenas três jogos e uma polêmica que ganhou o mundo. O Ministério das Relações Exteriores de Israel expressou a diplomatas chilenos no país a sua contrariedade. O Palestino foi multado pela ANFP, a CBF chilena, e cumpriu a ordem de voltar a usar o número 1 nas camisas. Porém, o presidente à época, Fernando Aguad, não se rendeu, e mandou estampar o mapa no peito, ao lado do escudo, nas camisetas colocadas à venda na loja do clube. Camiseta, aliás, que tem as mesmas cores da bandeira palestina: vermelho, branco, verde e preto.
Em campo, o clube vive seu melhor momento desde 1977. Aliás, foi nessa época que ele entrou na pauta dos brasileiros, ao receber Elias Figueroa em sua volta ao Chile depois de seis anos e dois títulos brasileiros no Inter. Com o zagueiro, foi campeão da Copa Chile naquele ano e do campeão nacional no ano seguinte, e chegou ao triangular que levaria à semifinal da Libertadores de 1979. Foram 44 jogos invicto.
Até outubro de 2018, o Palestino vivia de lembranças desse final dos anos 1970 e lutava contra o rebaixamento. Foi quando convenceu Ivo Basay, ex-centroavante da seleção chilena, a trocar a vida de comentarista para voltar a ser técnico. Basay venceu a La U na semifinal da Copa Chile e comandou reação no campeonato nacional. Antes de se safar da queda, o Palestino venceu o Audax Italiano por 3 a 2 e conquistou a Copa Chile, seu primeiro título em 40 anos.
Basay, que havia chegado para ficar dois meses, renovou contrato e seguiu no comando. O meia Luis "Mago" Jiménez, 35 anos, é o centro do time. Formado na base, saiu aos 18 anos para o Exterior e voltou no ano passado. Foi dele um dos gols da vitória contra o Talleres, nesta quarta-feira (27). Voz forte no clube, Jiménez exigiu da direção reforços para 2019. Vieram, assim, o goleiro Ignacio González, o zagueiro Del Pino, o lateral-esquerdo Véjar, o meia Jorquera e o centroavante argentino Passerini.