Mais de 100 familiares das 160 crianças que foram resgatadas de uma seita judaica ultraortodoxa na Guatemala se concentraram no domingo (22) nos arredores de um abrigo da capital para exigir que as autoridades as devolvam.
Os familiares se concentraram em uma rua em frente à sede do chamado Centro de Atenção Especial para Crianças Alida España, para onde os menores foram levados.
"Queremos que deixem sair daqui" as crianças, disse à AFP um representante dos familiares, Uriel Goldman, enquanto observava vários policiais que vigiavam o local.
Segundo a Procuradoria-Geral da Nação (PGN), os membros da seita "invadiram" o centro que abrigava os menores de idade e "retiraram" vários deles, mas com a ajuda da polícia as autoridades "conseguiram localizar e proteger todos novamente".
Contudo, pessoas que estavam perto do abrigo ajudaram os membros da seita e tentaram, em vão, impedir que os menores fossem protegidos, o que gerou confrontos, segundo um fotógrafo de AFP.
Durante a noite de domingo, a Secretaria de Assistência Social da Presidência, que coordena o abrigo, informou em um comunicado, sem especificar um número, que algumas crianças "abandonaram as instalações" durante a invasão e estão sendo procuradas.
"Com isso, evitaram o processo de abrigo temporário e excepcional do qual estavam sendo beneficiários", afirmou a secretaria, que ativou um "alerta" utilizado para a busca de menores desaparecidos.
Na sexta-feira, as autoridades da Guatemala resgataram 160 crianças em um sítio da seita Lev Tahor, que era investigada por supostos abusos sexuais de menores.
A propriedade da seita, que foi alvo de uma batida, situa-se no município de Oratorio, 60 km a sudoeste da capital.
Segundo o Ministério Público (MP), a batida na qual as crianças foram resgatadas, foi feita pela "suspeita" de crimes de tráfico de seres humanos "na modalidade de gravidez forçada, maus-tratos contra menores de idade e estupro".
Na operação foi encontrada a suposta ossada de um menor, segundo o MP.
Goldman qualificou de "mentiras" as acusações contra a seita judaica ultraortodoxa.
"As autoridades fizeram uma investigação muito grande aqui na Guatemala, com informes, dizem mentiras com denúncias falsas", assinalou Goldman.
A seita Lev Tahor estava na mira das autoridades por denúncias de abuso infantil, casamentos forçados e gestações de adolescentes.
A seita, que se instalou em Oratorio em 2016, após ter sido expulsa de um povoado maia em 2014 por conflitos com os locais, qualificou as investigações como "perseguição religiosa".
"Há pressão de fora (para) destruir a comunidade, pedimos o apoio do mundo", afirmou o representante das famílias.
A Lev Tahor foi criada nos anos 1980 e seus membros, que vestem túnicas escuras e praticam uma versão ultraortodoxa do judaísmo, se estabeleceram na Guatemala em 2013.
As autoridades estimam que o grupo seja formado por 50 famílias, principalmente de Guatemala, Estados Unidos e Canadá.
* AFP