De fato, foi uma final de Libertadores histórica. Para gringo ver. Duas semanas depois de protagonizarem um fiasco com repercussão mundial, e desta vez bem longe de Buenos Aires, os rivais argentinos finalmente se enfrentaram. Em Madri, na Espanha - como determinou a Conmebol -, o River Plate venceu seu rival Boca Juniors por 3 a 1 na prorrogação, com gols de Quintero e Pity Martínez, e conquistou sua quarta taça continental. No tempo normal, empate em 1 a 1, com gols de Benedetto e Pratto.
Desta vez, o ônibus do Boca Juniors chegou sem sobressaltos ao estádio. Bem diferente daquele 24 de novembro, quando torcedores do River Plate arremessaram pedras e garrafas contra a delegação rival e adiaram o jogo. Também pudera, ninguém se arriscaria a enfrentar a verdadeira operação de guerra montada pelo governo espanhol ao redor do Santiago Bernabéu.
Ao todo, foram 4 mil policiais (sendo mais da metade deles enviada da Argentina), espalhados em viaturas, tanques, helicópteros ou guiando cães farejadores pelas ruas. Outros agentes estavam posicionados com escudos e coletes à prova de balas entre os jogadores, no corredor de acesso ao gramado. Para os europeus, o cenário pode ter assustado, pois se tratava apenas de uma partida de futebol. Acontece que para nós, sul-americanos, tratava-se de um dos maiores clássicos, valendo a taça mais importante do continente. E lá estavam nossos representantes, como animais enjaulados em um circo, sendo expostos aos "civilizados europeus".
Para assistir a esta exótica final de Libertadores, atletas que já foram exportados há mais tempo para Europa compareceram para matar a saudade do futebol tipicamente argentino: Messi, do Barcelona e Dybala, da Juventus, por exemplo. O francês Griezmann, do Atlético de Madrid, vestindo camisa do Boca, também se fez presente em um dos camarotes para acompanhar o jogo.
Dentro de campo, um duelo completamente diferente do que o torcedor do Real Madrid se acostumou a ver: cheio de ligações diretas, disputado fisicamente e nervoso. Tanto que, aos nove, o placar quase foi aberto em favor do Boca quando o zagueiro Maidana tentou cortar cruzamento da direita e, de canela, por pouco não marcou contra. Os lances começavam a ficar violentos. Mais do que ganhar, ninguém queria perder. A bola parada ditava as chances de gol. Aos 29, após cobrança de falta que bateu na barreira, o capitão do Boca, Pablo Pérez, dominou sozinho dentro da área, mas viu seu chute desviar e sair para fora. Apesar de ter a posse, o River não conseguia transpor a marcação rival. Assim, levou um contra-ataque mortal aos 44 minutos. Lançado, o carrasco palmeirense Benedetto limpou a marcação e tocou na saída do goleiro Armani: 1 a 0, para a loucura dos torcedores do Boca presentes na capital espanhola.
O River voltou sedento após o intervalo. É verdade, se sobressaía muito mais na base da imposição física do que da técnica. Em um destes lances, o goleiro Andrada ficou caído na área após choque de cabeça. Mas, quando tocou a bola, chegou ao gol de empate de maneira espetacular. Aos 22, Lucas Pratto apenas concluiu para o fundo das redes uma troca envolvente de passes que deixou a defesa rival paralisada: 1 a 1. O Boca poderia ter matado a partida ainda nos 90 minutos, se Olaza não tivesse carimbado a barreira do River em cobrança de dois toques dentro da área.
Com a expulsão do volante Barrios logo no primeiro minuto de prorrogação, o Boca recuou e, aos poucos, viu o arquirrival tomar conta da partida. Após longa pressão, e com um jogador a mais, o River chegou ao gol do título com Quintero, acertando um belo chute no ângulo de Andrada: 2 a 1. Nem a entrada do experiente Tévez mudou o rumo da final mais inusitada da história da Libertadores. Pelo contrário, completamente exposto, o Boca ainda sofreu o terceiro gol em arrancada de Pity Martínez.
FINAL DA LIBERTADORES, 9/12/2018
RIVER PLATE
Armani; Montiel (Mayada, aos 28min/2ºT), Maidana, Pinola e Casco; Ponzio (Quintero, aos 12min/2ºT), Enzo Pérez, Nacho Fernández (Zuculini, aos 5min/2ºT da prorrogação), Palacios (Álvarez, aos 6min/1ºT da prorrogação), Pity Martínez e Pratto.
Técnico: Marcelo Gallardo.
BOCA JUNIORS
Andrada; Buffarini (Tévez, aos 5min/2ºT da prorrogação), Izquierdoz, Magallán e Olaza; Pablo Pérez (Gago, aos 43min/2ºT), Barrios, Nández, Pavón, Villa (Jara, aos 5min/1ºT da prorrogação) e Benedetto (Ábila, aos 16min/2ºT).
Técnico: Guillermo Barros Schelotto.
Gols: Benedetto (aos 44min/1ºT), Pratto (22min/2ºT), Quintero (3min/2ºT da prorrogação) e Pity Martínez (16min/2ºT da prorrogação)
Cartões amarelos: Ponzio, Nacho Fernández, Maidana, Casco (R) e Pablo Pérez, Barrios, Tévez (B)
Cartões vermelho: Barrios (B)
Arbitragem: Andrés Cunha, auxiliado por Nicolas Tarán e Maurício Espinoza(trio uruguaio)
Público: 62.282 pessoas
Local: Estádio Santiago Bernabéu, Madri, na Espanha.