Em 2002, aos 18 anos, Guerrero foi promovido para o grupo principal do Alianza Lima, então comandado pelo técnico Jaime Duarte. Sua ascensão se deu não exatamente com muito planejamento, relembra Duarte, também ele um ex-jogador do Alianza. É que, naquele ano, o clube completava cem anos. Investira alto, inclusive no técnico brasileiro Paulo Autuori, que conduziu a equipe ao título nacional no primeiro semestre.
Só que o dinheiro acabou em julho, e Autuori e vários jogadores foram embora — obrigando Duarte, observador alçado à condição de substituto do técnico brasileiro, a buscar reposições nas categorias de base. Foi assim que guerrero e Farfán tornaram-se profissionais.
— Inicialmente, eles formaram a dupla de ataque do time reserva — relembra Duarte. — Nos treinos coletivos, eram dois meninos de 18 anos enfrentando os dois zagueiros titulares, os experientes Ernesto Arakaki e Cristiano Grotto (este último brasileiro, ex-jogador do Grêmio). Mas eles foram tão bem que o Grotto me chamou e perguntou: "Professor, de onde você tirou esses meninos?".
Em poucos dias, os dois meninos encantaram todos os companheiros. Porém, apesar dos treinos exuberantes, Guerrero jamais atuou profissionalmente pelo clube do coração.
— Ao final daquela semana, teríamos um amistoso em Iquitos, no interior do Peru, bem na fronteira com o Brasil. Convoquei Farfán e o Paolo. Porém, no aeroporto, apenas o Farfán apareceu. Perguntei para ele onde estava o Paolo. Ele disse que não sabia. Farfán acabou estreando pelos profissionais. Paolo, nunca — relata Duarte.
Naquele momento, Guerrero viajava para a Alemanha para assinar com o Bayern de Munique, após um acerto firmado entre seus pais e empresários. Irritada com a decisão e com o fato de o clube peruano não ter sido ressarcido pela transferência, a Federação Peruana de Futebol (FPF) suspendeu o atacante por seis meses — o que o impediu de participar do Sul-Americano Sub-20, em 2003, no Uruguai.
— O pai dele sempre dizia que, no primeiro trem que passa, você tem de subir. Se você perde o primeiro trem, pode não ter outra oportunidade e não subir nunca mais. Meu primeiro filho, Júlio Rivera, tinha recebido uma proposta do Exterior, mas disse que não queria ir. Preferia primeiro jogar aqui no Peru, para só depois ir para a Europa. Acabou nunca indo. Ou seja, já tínhamos esse exemplo na família — explica Dona Peta.
Na sua primeira temporada no Bayern, Guerrero treinou ao lado de nomes como Kahn, Lizarazu, Ballack, Schweinsteiger, Zé Roberto, Élber e seu conterrâneo Cláudio Pizarro. Guerrero ficou abalado com a suspensão, mas, segundo Duarte, a possibilidade de permanecer em tempo integral na Europa ajudou-o a amadurecer como atleta.
Creio que o Paolo quer terminar o contrato com o Inter e voltar ao Alianza. É sua equipe do coração. Como ele se cuida, acho que ainda vai jogar até os 41 ou 42 anos
DONA PETA
Mãe de Guerrero
— Taticamente, foi algo positivo para ele, pois terminou sua formação na Alemanha. Até hoje, ele é uma mescla de um jogador sul-americano com europeu — comenta o técnico.
Mesmo com a saída controversa, Guerrero é muito querido pela torcida do Alianza. No atual exílio que mantém na capital peruana, o atacante foi ao Alejandro Villanueva, onde o time profissional joga, assistir a algumas partidas nas tribunas de honra do estádio.
— Creio que o Paolo quer terminar o contrato com o Inter e voltar ao Alianza. É sua equipe do coração. Como ele se cuida, acho que ainda vai jogar até os 41 ou 42 anos — acredita Dona Peta.
Em uma irônica coincidência, a estreia de Guerrero pelo Inter deve ocorrer justamente contra o Alianza, em Lima — as duas equipes se enfrentarão, na capital peruana, pela quarta rodada da fase de grupos da Libertadores, no dia 24 de abril — um dia após terminar a suspensão por doping.