Há mais de cinco meses impedido de jogar futebol, o atacante peruano Paolo Guerrero, 35 anos, vive uma espécie de exílio em sua cidade natal, Lima. Enquanto aguarda o fim da suspensão por doping, o jogador do Inter realiza treinamentos em uma academia, evita entrevistas e divide o tempo livre entre a praia, a família, o futebol na televisão e o videogame.
Administradora da carreira do filho desde os tempos de menino, a mãe de Guerrero, Petronila González, ou Dona Peta, 68 anos, garante que, apesar do longo tempo parado, os torcedores verão um jogador bem preparado a partir de 24 de abril, quando poderá voltar a atuar.
— Ele está muito forte fisicamente. Sabe que não pode parar. Faz muitos treinos de força, velocidade e trabalhos com bola, todos com um treinador particular — conta Dona Peta, que recebeu GaúchaZH em sua casa, no bairro San Isidro.
A rotina de Guerrero consiste em treinar e ir para a casa, diariamente, segundo a mãe e representante do jogador. Ele também costuma ir à praia com os amigos. Outro passatempo é o videogame — que joga com o sobrinho Angelo Rivera, filho do ex-jogador Julio "Coyote" Rivera, meio irmão de Guerrero.
— O Paolo fica muito em casa, não gosta de sair para se divertir. Jogamos videogame no celular — relata angelo, 21 anos.
Há 16 anos morando fora do Peru, Guerrero tem aproveitado o momento sui generis da carreira para ficar mais perto da família. Seus compromissos em Lima consistem nos treinos. Por isso, o tempo em casa tem sido valorizado.
— Nós conversamos bastante e gostamos de assistir aos jogos de futebol — diz Angelo. — Vimos juntos a final da Libertadores entre Boca e River. Nós dois torcemos pelo Boca. Enfim, trato de passar bastante tempo com ele para ajudá-lo e dar apoio a ele, porque se trata de um momento difícil — acrescenta, classificando a punição como "injusta".
Ainda há indignação pela suspensão de 14 meses determinada pelo Tribunal Arbitral do Esporte (TAS). Em 3 de novembro de 2017, Guerrero foi flagrado no exame antidoping após o empatem em 0 a 0 entre Argentina e Peru, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2018.
Na amostra de urina coletada após a partida, foi constatada a presença da substância benzoilecgonina, um dos metabólitos da cocaína. A defesa do atacante alega que a contaminação ocorreu devido ao consumo de um chá no Swissotel de Lima durante o período de concentração pré-jogo.
Aqui no Peru, todos apoiam o Paolo, pois todos sabem como ele é. Esse apoio nos dá forças
DONA PETA
Mãe de Guerero, sobre a suspensão por doping
— Algum dia se saberá o que aconteceu. O Paolo fez até um exame toxicológico com fios de cabelo, e o exame provou que não tinha nada. O Ministério Público fez uma inspeção no hotel, que também nos deu razão. Aqui no Peru, todos apoiam o Paolo, pois todos sabem como ele é. Esse apoio nos dá forças — afirma Dona Peta.
Em junho, quando ainda defendia o Flamengo, Guerrero foi liberado para jogar o Mundial da Rússia graças a um efeito suspensivo concedido pelo Tribunal Federal Suíço. Mas, 12 dias após ser anunciado como reforço do Inter, já em agosto, a decisão foi revogada, e a suspensão voltou a vigorar. Impedido sequer de treinar nas dependências do Beira-Rio, o atleta refugiou-se em Lima.
Durante a conversa com familiares e amigos de Guerrero na capital peruana, foi possível conhecer alguns bastidores do acerto com o Inter, anunciado no dia 12 de agosto do ano passado. Chateado com a postura do Flamengo durante a suspensão, o atacante cogitou inclusive abandonar o futebol. Achava que nenhum clube de ponta se interessaria em contratá-lo novamente. Foi então que recebeu o contato dos dirigentes colorados.
— No Flamengo, eles não lhe deram o apoio que deveriam dar. Meu filho me disse: "Não terei outra equipe, ninguém vai me querer depois dessa situação, não sei o que vou fazer". Eu falei que logo chegaria outra equipe. Tenho um sexto sentido. Aí veio o Inter. É importante quando acreditam em ti. Te levanta a moral — diz Peta.
Após o primeiro contato colorado, o atacante telefonou para o ex-lateral Martín Hidalgo, seu ex-companheiro de seleção peruana e campeão do mundo em 2006 pelo Inter.
— Ele me perguntou como era o clube, a torcida — conta Hidalgo. — Falei que, para mim, Porto Alegre é a melhor cidade do Brasil. Disse também para ele ficar tranquilo, pois o Inter está acostumado a ganhar. Para ele, é importante jogar em uma equipe assim.
Pelas regras da Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês), o centroavante poderá treinar com os companheiros colorados a partir do final de fevereiro, dois meses antes de voltar aos gramados. Até lá, é família, treinos em academia e um pouco de diversão, com o primo ao videogame ou nas praias de Lima.
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