Quatorze anos depois da primeira demissão, e novamente invicto, Vagner Mancini foi comunicado de que não seria mais o técnico do Grêmio. Um processo iniciado ainda no vestiário da Arena, minutos depois do empate com o Juventude, e que se tornou oficial horas depois no CT Luiz Carvalho. Após informar o treinador da saída, o vice de futebol Denis Abrahão anunciou no Sala de Redação de segunda-feira (14), ao vivo na Rádio Gaúcha, o desligamento do técnico e do auxiliar técnico Regis Angelis, do analista de desempenho Claudio Andrade e também do auxiliar de preparação física Lucas Itaberaba.
A demissão encerrou um debate antigo nos bastidores do Grêmio. Após a queda para a Série B no final do ano passado, uma pequena ala da direção defendia a necessidade da contratação de nova comissão técnica. A permanência de Mancini foi debatida no Conselho de Administração depois da confirmação do rebaixamento. No encontro que serviu como base para a definir a questão, só um voto contrário pela continuidade da comissão técnica foi apresentado. Os outros cinco membros do órgão se manifestaram favoráveis pela continuidade do técnico. Mesmo assim, os rumores da necessidade de um outro nome para comandar o time em 2022 seguiram rondando os bastidores. Mas o período sem jogo acabou dando sobrevida a Mancini.
A convicção pela necessidade de mudança se firmou durante a noite de domingo (13) e a madrugada de segunda. Do encontro inicial no vestiário da Arena após a partida até a reunião entre o presidente Romildo Bolzan, e o vice de futebol Denis Abrahão no CT Luiz Carvalho, o departamento de futebol entendeu que a saída de Mancini deveria ocorrer o mais rápido possível.
Fontes ouvidas por GZH confirmaram que a demissão era questão de tempo, mesmo que o discurso nas entrevistas era de apoio e confiança no trabalho do treinador. Na última semana, um dos membros do departamento de futebol confirmou que a troca era tida como questão de tempo:
— A gente sabe que temos que trocar até o início do Brasileirão, mas não sabemos quando.
Uma das medidas previstas após o encontro no vestiário entre técnico e direção foi a alteração da programação desta semana. Antes do protesto da torcida durante o empate com o Juventude, o planejamento era de que o time de transição seria utilizado no jogo de amanhã contra o União-FW. Para tentar acalmar as críticas, os titulares viajarão para Frederico Westphalen. Mudanças nas escalação também aconteceriam, com as saídas de Diogo Barbosa e Lucas Silva para as entradas de Nicolas e Villasanti.
Mas o encontro entre Bolzan e Denis definiu que seria melhor fazer a mudança de uma vez, dando ao novo técnico mais tempo para trabalhar antes do Gre-Nal de 26 de fevereiro e também a estreia na Copa do Brasil, dia 1º de março.
A questão das relações no dia a dia do CT Luiz Carvalho, algo que atrapalhou na campanha do rebaixamento do ano passado, não era problema sob o comando de Mancini. O clima no vestiário era bom entre comissão técnica, jogadores e direção. A avaliação era de que o trabalho de campo na pré-temporada também era satisfatório, mas a pressão externa se tornou insustentável.
— O que vem de fora não ajudava o nosso ambiente interno — resumiu Romildo a GZH.
Com a rescisão de contrato, Mancini receberá o valor previsto em contrato como multa. Pelo acordo feito na sua chegada, o técnico terá direito a cerca de R$ 1,7 milhão divididos em até 24 parcelas. Após se despedir do grupo de jogadores e dos funcionários do CT, Mancini e seus auxiliares deixaram o local. O Atlético-GO, que aceitou o pedido de demissão do técnico Marcelo Cabo na semana passada, entrou em contato com o ex-treinador gremista para apresentar uma proposta.
A despedida pegou de surpresa aos jogadores e outros integrantes do dia a dia do vestiário. Após o empate com o Juventude, o discurso no vestiário era de confiança no trabalho e que o rumo seguiria. Mas horas depois, se confirmou as trocas. Os jogadores se despediram dos profissionais em uma conversa rápida.
— Deixei a palavra à disposição de todos. Um pouco triste, mas o Vagner já brincou que iria para o Real Madrid. Mas já temos um novo comandante e o Roger estará junto a nós — comentou Denis Abrahão.
Mancini foi apresentado pelo Grêmio em 15 de outubro de 2021 para substituir Luiz Felipe Scolari. O objetivo era salvar o Tricolor do rebaixamento, o que não foi alcançado. Foram 14 partidas, com seis vitórias, dois empates e seis derrotas no Brasileirão. Quando assumiu, o clube era o 19º colocado, com 24 pontos. Terminou em 17º, com 43 pontos.
Os números da segunda passagem de Mancini pelo Grêmio
18 jogos
9 vitórias
3 empates
6 derrotas
31 gols marcados
26 gols sofridos
55,55% de aproveitamento
Um coincidência conecta as duas demissões de Vagner Mancini no Grêmio em um intervalo de exatos 14 anos. Em 2008, a saída do técnico foi anunciada em 14 de fevereiro de 2008. Ontem, 14 de fevereiro, o clube comunicou o afastamento do treinador.
Em 2008, Mancini foi demitido depois de seis partidas sem derrotas no começo daquela temporada. A história se repetiu. O treinador sucumbiu às más atuações do começo de Gauchão e, apesar de líder invicto, e foi mais uma vez mandado embora.
Há 14 anos, Mancini foi demitido após a vitória contra o Jaciara, pela Copa do Brasil, fora de casa por 1 a 0, resultado que obrigou o Tricolor a disputar o jogo de volta, no Olímpico. O mau desempenho, assim como o de agora, fez com que Paulo Pelaipe, então diretor de futebol do clube, demitisse o treinador. Logo depois do jogo no Mato Grosso, em 2008, o dirigente havia dito que cobraria os jogadores e o treinador sobre a atuação.
Em um intervalo de 10 meses, Grêmio vai para seu quinto treinador:
VAGNER MANCINI
123 dias (de 14/10/2021 a 14/2/2022)
55,6% de aproveitamento
FELIPÃO
96 dias (de 7/7/2021 a 11/10/2021)
47,6% de aproveitamento
TIAGO NUNES
74 dias (21/4/2021 a 4/7/2021)
58,3% de aproveitamento
RENATO PORTALUPPI
1.670 dias (de 18/9/2016 a 15/4/2021)
61,6% de aproveitamento