O Grêmio iniciará no dia 1º de julho a segunda etapa de seu plano de contingência, em decorrência da crise financeira gerada pela pandemia do novo coronavírus. A primeira fase, que iniciou em 16 de março, se encerra em 30 de junho e a rodada que começará no segundo semestre tem prazo até 30 de setembro.
Para superar o período sem competições, que gerou diminuição de receitas e congelou alguns pagamentos que o clube tinha a receber, o Grêmio buscou redimensionar despesas para compensar suas perdas. O clube fez renegociações com fornecedores e atletas, além de fazer valer as flexibilizações trabalhistas estabelecidas por Medida Provisória, como suspensão de contratos, redução de jornada e vencimentos de funcionários, a fim de manter fluxo de caixa.
Além dessas medidas, a direção gremista também buscou capital em instituições financeiras, cerca de R$ 10 milhões, para manter em dia os salários e os pagamentos estipulados com seus credores. O clube também repactuou impostos, como FGTS e parcelas do ProFut, de acordo com o que foi proposto pela área econômica do Governo Federal.
— Nós não estamos deixando de pagar. Estamos reorganizando as contas para daqui a até dois anos. Nenhum credor do Grêmio vai deixar de receber. Estamos tendo sucesso nas negociações porque o Grêmio tem crédito para isso — disse o presidente Romildo Bolzan Junior, em entrevista ao programa Sala de Redação, da Rádio Gaúcha.
Os jogadores gremistas, assim como funcionários, cumpriram o período de férias e também passaram por um ajuste. Depois de algumas conversas, ficou acordado que cada jogador deixará de receber cerca de 55% dos vencimentos entre abril e setembro deste ano. Porém, essa diferença será paga pelo Grêmio nos próximos 24 meses. Os valores correspondem a remuneração total, incluindo direitos de imagem e salários e também inclui a comissão técnica.
Ainda pensando no fluxo de seu caixa, o Grêmio também irá aceitar receber R$ 10 milhões vindos da linha de crédito estabelecida pela CBF, que está ligada diretamente às cotas de televisionamento do Brasileirão.
— Com esses R$ 10 milhões que vieram da CBF, o Grêmio tem condições de levar até setembro. Grêmio leva bem até setembro por conta das medidas que foram adotadas — avalia Romildo Bolzan.
No começo do ano, ao divulgar seu orçamento, o clube projetava um superávit de R$ 1,1 milhão. De acordo com os números divulgados, a previsão era de arrecadar pouco mais de R$ 340 milhões, destes R$ 120 milhões com premiações das competições — pagamentos de cotas de televisão condicionados a performance. Ou seja, oitavas de final da Copa do Brasil, fase de grupos da Libertadores (já garantidos) e oitavo lugar no Campeonato Brasileiro, desempenho superado pelo clube nos últimos anos.
"Todas as ações que adotamos se mostraram assertivas e eficazes"
CARLOS AMODEO
CEO do Grêmio
Em relação a despesas, o Grêmio divulgou em seu orçamento de janeiro, que pretendia gastar cerca de R$ 257 milhões, R$ 43 milhões a menos do que foi pago na última temporada. Com a pandemia, uma revisão foi feita e a ideia é de redução de 20% a 30% por conta da diminuição de receitas.
Um balanço divulgado pelo clube, em maio, apontou que no primeiro trimestre de 2020, o Grêmio registrou um superávit líquido (diferença entre receitas e despesas) de R$ 11,8 milhões. Esses dados consideram números antes da pandemia de covid-19.
Em março, quando a propagação do coronavírus forçou a paralisação de todas as competições, o presidente Romildo Bolzan falou em perdas de receita na casa dos R$ 25 milhões.
De acordo com o CEO, Carlos Amodeo, esses números não sofreram alterações. Segundo o dirigente, a primeira fase de contenção orçamentária foi extremamente satisfatória.
— Avaliamos positivamente a primeira etapa do plano. Todas as ações que adotamos se mostraram assertivas e eficazes no cumprimento dos objetivos.
Com a indefinição de retorno dos campeonatos, a direção gremista espera que o Gauchão possa voltar a ser disputado em agosto e assim sucessivamente, o clube precisar conviver com perdas como venda de produtos de sua loja oficial na Arena, diminuição de receita do quadro social e diferimentos de recebimento dos direitos de transmissão - suspensos enquanto os torneios não são disputados.
Em virtude dessas dificuldades financeiras, o presidente Romildo Bolzan Junior não descarta vender mais de um jogador na próxima janela de transferências. No orçamento tricolor em janeiro, havia uma previsão de arrecadar R$ 88 milhões com vendas de atletas.
— Precisamos trabalhar com a ideia de que não há problema em vender mais de um jogador. Estamos vivendo um momento extraordinário. Se houver uma situação boa para nós e para os jogadores, não terei problema em fazer (mais de uma venda). Temos de manter o clube forte — disse, ao ressaltar que neste momento a saúde financeira do clube é prioridade.
Um item que não é considerado na previsão orçamentária é o chamado mecanismo de solidariedade da FIFA, valor recebido pelo clube formador em virtude de uma negociação de atleta que tenha atuado nas categorias de base. E com as prováveis vendas de Alex Telles, do Porto para o PSG, e de Arthur, do Barcelona para a Juventus, o Grêmio poderá receber recursos que não programados.
No caso de Arthur, o Tricolor teria direito a 3,5% do valor por ter participado da formação do jogador. Com isso, caso a informação divulgada na Europa de que os italianos pagariam 80 milhões de euros aos espanhóis seja confirmada, cerca de R$ 16,5 milhões podem entrar nos cofres gremistas.
"Precisamos trabalhar com a ideia de que não há problema em vender mais de um jogador. Estamos vivendo um momento extraordinário"
ROMILDO BOLZAN
Presidente do Grêmio
– Nós perderemos o direito dos bônus com o Barcelona (valores acertados na venda). Mas temos um saldo remanescente de 3,5%. Esperamos que esta parte seja rapidamente paga – disse o presidente Bolzan no Sala de Redação.
Sobre Alex Telles, o percentual gremista é de apenas 0,56% da negociação. Se ele for vendido pelos 25 milhões de euros informados pela imprensa portuguesa, R$ 826 mil.
Um outro jogador que ainda pode render dividendo ao Grêmio é Tetê, destaque do Shakhtar Donetsk. O atacante é um dos finalistas do prêmio Golden Boy, que escolherá o melhor jogador sub-21 da temporada europeia e está cada vez mais valorizado.
Em caso de nova venda, os gaúchos terão direito a 15% da diferença de valor entre o que o Shakhtar pagou ao Grêmio e da quantia que receberá para liberar Tetê. Além disso, com o mecanismo de solidariedade, o clube segue com 3% do valor total de todas as negociações até o final da carreira do jogador.
Veja aqui o orçamento do Grêmio e o balanço do primeiro trimestre de 2020.