Ser demitido pode ser traumático. Mais do que as contas que se acumulam, há a incômoda sensação de ter se tornado dispensável e a insegurança de talvez não ter conseguido mostrar todo o seu potencial. Alguns, mais rigorosos na autocrítica, tendem a se autorresponsabilizar pela demissão, mesmo quando há influência de fatores externos, como crise ou fechamento de vagas.
— A demissão costuma ser um momento de surpresa, e muita gente reage desenvolvendo um sentimento de culpa, que nem sempre corresponde com a realidade — explica a psicóloga Raquel de Oliveira Santiago, consultora da Selo Desenvolvimento de Carreiras.
O trabalho é essencial para qualquer ser humano, não só para pagar os boletos, mas para dar um sentido à vida, fazendo o que se gosta. Quando o emprego é arrancado abruptamente, a sensação pode ser semelhante a um luto, explica Raquel.
O profissional precisa recuperar a autoestima para procurar um novo trabalho — e, se a autoestima está abalada, essa missão pode ser mais sofrida e acidentada. Especialistas alertam para a necessidade de se entender as razões da demissão, inclusive para eliminar fantasias como perseguição do ex-chefe ou culpa. Em muitos casos, será preciso procurar ajuda de psicólogo ou psiquiatra para domar a ansiedade.
— O profissional terá de compreender os sentimentos, mas também agir para dar a volta por cima. Para isso, é importante evitar o isolamento, criar uma nova rotina e colocar a energia em hobbies e atividades — afirma a psicóloga.
As etapas do "luto" pelo emprego perdido
O luto pode durar mais de dois anos, em que há uma sequência de fases. A recomendação é de que a pessoa respeite estas etapas, mas trabalhe para superá-las e estar pronto para buscar a nova vaga.
- Negação: há um choque. A pessoa não acredita que foi demitida.
- Raiva: sensação de revolta, de frustração e de ter sido traído.
- Barganha: o profissional não aceita que perdeu o que havia conquistado e chega a alimentar expectativas de ser recontratado.
- Depressão: fase em que "cai a ficha". A pessoa se entristece ao dar-se conta de que realmente perdeu seu emprego.
- Aceitação: é a hora de dar a volta por cima. O profissional reflete sobre os motivos da demissão, aceita esta condição e decide partir em busca de novas oportunidades.
Dicas para superar o choque da demissão
- Não se isole: alguns profissionais sentem vergonha da demissão e têm a sensação de sofrer pressão social. O correto é contatar outras pessoas que passaram pela mesma situação, trocar experiências e avisar os amigos e conhecidos de que você está em busca de um novo trabalho.
- Faça uma autorreflexão: procure deixar de lado culpa, medo e fantasias para entender realmente por que foi demitido. Esse exercício é bom para a mente e ajuda a superar as etapas do "luto" mais rapidamente.
- Não se assuste com a tristeza: não há nada anormal em se abalar com uma demissão — isso não significa, necessariamente, que você está doente ou deprimido. Segundo pesquisa da Universidade de East Anglia, da Inglaterra, indicadores de saúde mental e satisfação com a vida podem piorar por mais de quatro anos devido à demissão — tempo maior que o do trauma de um divórcio (que dura até dois anos).
- Ocupe o tempo livre: é perigoso alimentar a falsa sensação de tempo livre, que pode levar à acomodação e à depressão. Organize uma nova rotina para a sua vida, como participar de programas de recolocação, encontrar os amigos, buscar atividades prazerosas, fazer cursos e praticar exercícios físicos.
- Encare a ansiedade: ela pode estar presente na busca por um novo emprego, em particular porque as empresas muitas vezes não dão feedback após uma entrevista com candidatos. Se a ansiedade estiver prejudicando sua vida e atrapalhando novas candidaturas a emprego, procure ajuda de psicólogo ou psiquiatra.
Fontes: Raquel de Oliveira Santiago, consultora da Selo Desenvolvimento de Carreiras, e Daniel Olszewer, especialista em carreiras e sócio do Coworking 1108.