Algumas curvas forçadas na carreira costumam ser causadas por uma demissão, inclusive a descoberta de uma veia empreendedora. Com o dinheiro da rescisão e eventuais economias, há quem decida tirar do papel planos para criar o próprio negócio. Embora seja uma iniciativa elogiável, que costuma receber incentivo de familiares e amigos, é necessário tomar cuidado.
— Na maioria das vezes, o empreendedorismo surge quando alguém enxerga uma oportunidade no mercado e abre um negócio para aproveitá-la. No caso de quem empreende após perder o emprego, o negócio vem de uma necessidade e é preciso tomar cuidado para não se atrapalhar no planejamento — adverte Augusto Martinenco, analista-sênior do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Estado (Sebrae-RS).
De acordo com pesquisa da entidade, uma em cada três pessoas que abre um novo negócio no Estado o faz por necessidade, ou seja, por não encontrar boas opções de emprego e precisar gerar renda para pagar as contas.
— Mesmo que corra contra o relógio, o empreendedor precisa avaliar bem no que sua ideia é melhor do que a dos concorrentes. Caso contrário, o risco é perder todas as suas economias, ficando em uma situação preocupante — diz Martinenco.
O Sebrae-RS presta informações e capacitações para empreendedores neste site.
É uma ilusão pensar que patrão trabalha menos
Além de dedicar tempo para a análise de mercado e um planejamento rigoroso do negócio, o empreendedor não pode economizar disposição para o trabalho. Engana-se quem pensa que virar empresário significa trabalhar menos. Pelo contrário, o empreendedor deve estar atento e se envolver em cada detalhe da empresa.
Quem pretende abrir uma franquia ao invés de iniciar uma marca do zero deve ter em mente que essa alternativa, em geral, é mais cara. É preciso ter um capital inicial para abrir o negócio e capital de giro para não ficar com as contas estranguladas até começar a ter lucro. O empreendedor deve pagar uma taxa de franquia inicial e, depois, mensalmente, a taxa de royalties calculada com base em uma porcentagem do faturamento bruto da unidade, além de obedecer diretrizes da marca franqueadora. Além da sessão do site do Sebrae-RS que trata sobre franquias, outra fonte útil de informações para quem está começando é o Portal do Franchising, da Associação Brasileira de Franchising.
O que levar em conta antes de abrir o negócio
- Espere passar um tempo depois da demissão, para ter certeza de que quer mesmo empreender. O ideal são dois ou três meses para "curar a ferida" da demissão e amadurecer a ideia de dar uma virada e criar uma empresa.
- Embora o relógio corra contra quem empreende por necessidade, é preciso fazer um bom planejamento do negócio, analisando quais são as oportunidades no mercado, quais diferenciais terá sua empresa e se você está preparado para o desafio. Caso contrário, o risco é de ser rapidamente devorado pela concorrência.
- Tente criar uma empresa em uma área que você conheça, uma vez que não haverá tempo de fazer longos cursos e programas de aprendizado em um novo segmento. Além disso, estar em um mercado familiar reduz a tensão e os riscos de uma primeira empresa.
- Segmentos que atendam pessoas físicas, como lanchonetes, lojas, prestação de serviços residenciais etc, costumam dar retorno financeiro mais rápido e são indicados para quem tem pressa em começar a gerar capital.
- Não invista todo o dinheiro da rescisão e suas economias na nova empresa. Lembre-se de que um negócio pode demorar a dar retorno e é preciso ter uma reserva para sobreviver durante esse período de maturação.
- Para quem nunca empreendeu, pode ser vantajoso abrir uma franquia ou microfranquia. Elas ajudam a diminuir os riscos e entregam um modelo de negócio pronto e testado. Entretanto, abrir uma franquia, na maioria das vezes, é mais caro do que iniciar um negócio do zero.
- Um tipo de negócio que passa por cima de boa parte da burocracia e é barato para abrir são as microempresas individuais, as MEIs. Elas podem facilitar a vida de quem começa a empreender ou prestar serviços. Contudo, para ser MEI, a empresa deve ter faturamento máximo de R$ 81 mil por ano.
- Mesmo que esteja abalado por uma demissão, procure renovar a motivação e a confiança. Lembre-se de que a principal característica do empreendedor é a resiliência e a sua capacidade de dar a volta por cima.
Fontes: Augusto Martinenco, analista-sênior do Sebrae-RS, e Reinaldo Domingos, presidente do Instituto Dsop Educação Financeira e ministrante do curso Empreender Vitorioso.