A demissão faz parte da realidade do trabalho na iniciativa privada. O melhor, portanto, é tratar a possibilidade com realismo e se prevenir. Especialistas sugerem que o trabalhador guarde uma quantia de dinheiro como "colchão" de emergência para o caso de perder o emprego.
Toda precaução é bem-vinda. A recomendação é de se ter como reserva o valor equivalente ao de seis meses a dois anos de salário. Isso permite pagar as contas sem ficar dependente do seguro-desemprego e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) durante o tempo em que o profissional estiver procurando trabalho. Conforme o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de maio, uma em cada quatro pessoas desempregadas estava buscando vaga havia mais de dois anos. Quase metade dos desempregados estava entre um mês e um ano procurando emprego, sem sucesso, segundo a pesquisa do instituto.
— Quem tem as contas organizadas consegue ter mais tranquilidade para procurar emprego e lidar com os processos seletivos, domando melhor a ansiedade — explica Rose Russowski, diretora da consultoria em Recursos Humanos Lee Hecht Harrison.
Poupança pode ser formada aos poucos, economizando 10% do salário mensal
A reserva pode ser formada gradativamente, guardando um pouco do salário a cada mês. Quem reserva 10% da remuneração mensal consegue armazenar a poupança de emergência em até cinco anos — isso sem contar o juro da aplicação na qual o dinheiro está, que ajuda o capital a crescer —, explica o consultor financeiro Adriano Severo, do site GuiaInvest. Rendimentos extras como restituição do Imposto de Renda, abonos salariais e 13º salário podem ser destinados ao colchão de emergência.
— A reserva tem o poder de dar uma sensação de mais segurança para a pessoa que está empregada, pois ela saberá que tem o respaldo de um dinheiro guardado caso perca o emprego — diz Severo.
Existem diferentes aplicações indicadas para o dinheiro com esta finalidade. A caderneta de poupança pode ser um caminho, uma vez que aceita pequenas aplicações, é isenta de Imposto de Renda e fica ao alcance do investidor para regatar o valor a qualquer momento, embora ofereça rendimentos muito modestos. Produtos bancários como CDBs e fundos de renda fixa também são indicados, desde que ofereçam rendimentos superiores aos da poupança e prazos curtos para sacar o dinheiro.
— O importante é que sejam investimentos de baixo risco e com boa liquidez, ou seja, que a pessoa possa resgatar a aplicação rapidamente sem ter que pagar multa — sugere Marcus Muller, CEO do site de educação financeira Academy Blocks.
Como criar a reserva financeira
- Tenha como meta reservar uma quantia equivalente a pelo menos seis meses de salário. O ideal é guardar até dois anos de salário, recomendam os economistas.
- Em caso de demissão, este “colchão” financeiro será importante para você não ficar totalmente dependente do seguro-desemprego e do FGTS.
- Escolha uma aplicação que considere mais adequada e vá economizando aos poucos.
- Se você guardar 10% do seu rendimento mensal, conseguirá, ao final de cinco anos, criar uma reserva equivalente a seis meses de salário.
- Rendas extras, como restituição do Imposto de Renda e bonificações, podem ser usadas para acelerar o acúmulo da reserva financeira.
- Mais do que servir para ser usada em caso de demissão, esta reserva poderá ajudar emocionalmente o profissional, pois ele ganhará tranquilidade de ter uma segurança financeira.
- Lembre-se de que esta reserva tem um propósito específico e o ideal é não misturá-la com outras economias, como previdência privada ou investimentos de longo prazo.
As melhores aplicações para a sua reserva de emergência
O fundo emergencial para ser usado em caso de demissão precisa ser de fácil e rápido resgate, isto é, não pode estar preso em uma aplicação com prazos longos. Esse valor, que equivalha a de 6 meses a dois anos de salário, deve ser aplicado em opções de baixo risco com alta liquidez, ou seja, que você possa resgatar rapidamente, que aceitem depósitos de valores pequenos e protejam seu dinheiro da inflação. Veja os investimentos mais indicados.
Caderneta de poupança: tem a vantagem da facilidade na aplicação e no resgate, que pode ser feito em qualquer terminal bancário ou mesmo pela internet, além da isenção do Imposto de Renda. O rendimento é baixo e, em alguns casos, pode perder para a inflação.
- Rendimento anual: 4,68% (em 2018)
- Aplicação mínima: não há
Prazo para resgate: não há, mas o rendimento só ocorre no dia de “aniversário” no mês
Certificado de Depósito Bancário (CDB): há uma farta oferta em bancos e corretoras, com diversos prazos de vencimento e rendimentos. Prefira os que pagam um percentual mais alto da CDI, a taxa de Certificado de Depósito Interbancário, e que tenham prazos de resgate mais curtos, isto é, com alta liquidez.
- Rendimento anual: 5,8% (para 90% de DI)
- Aplicação mínima: há opções a partir de R$ 200
- Prazo para resgate: varia. Quanto antes resgatar, mais Imposto de Renda paga
Tesouro Selic: garante o juro equivalente à taxa básica de juro (Selic) no dia do resgate e tem liquidez imediata. Por ser um empréstimo ao governo, o risco de perder o dinheiro é muito baixo. Além do Imposto de Renda, é descontada taxa de custódia de 0,25% ao ano.
- Rendimento anual: 6,5% (com a atual Selic)
- Aplicação mínima: R$ 101
- Prazo para resgate: não há, mas quanto antes resgatar, mais Imposto de Renda paga
Fundos de renda fixa: esses fundos têm grande variedade de risco e prazo de resgate. Prefira os mais conservadores, com resgate de até cinco dias e taxa de administração baixa, pois taxas altas abocanham boa parte do rendimento e podem deixar a rentabilidade menor do que o da poupança.
- Rendimento anual: 5,9% (para taxa de administração de 0,5%)
- Aplicação mínima: há opções a partir de R$ 100
- Prazo para resgate: varia. Quanto antes resgatar, mais Imposto de Renda paga
Fontes: Banco Central, Adriano Severo, educador financeiro do site GuiaInvest, Marcus Muller, CEO do site de educação financeira Academy Blocks, e Rose Russowski, diretora da Lee Hecht Harrison