Uma das principais vozes na análise do mercado de trabalho no país, o economista Hélio Zylberstajn sublinha que o avanço da informalidade é parte da herança deixada pela última recessão, que ocorreu entre 2015 e 2016. Conforme o professor sênior da Universidade de São Paulo (USP), a criação de empregos formais só terá fôlego no Brasil a partir da retomada de investimentos de empresas. Essa reação poderá ser estimulada pela aprovação das reformas da Previdência e tributária, acrescenta o economista. Abaixo, confira a entrevista concedida por Zylberstajn a GaúchaZH por telefone.
Como o senhor descreve o cenário do mercado de trabalho?
O cenário atual é marcado pelo desemprego elevado, com informalidade brutal. No curto prazo, em dois ou três meses, não vejo muitas mudanças. Só haverá alguma alteração quando a economia voltar a crescer.
O que explica o aumento da informalidade nos últimos anos?
A recessão que atingiu a economia. Se as empresas não conseguem crescer, não aumentam o faturamento. Logo, não contratam. Enquanto isso, as pessoas têm de encontrar maneiras de sobreviver.
Qual o impacto da informalidade na vida dessas pessoas?
Ao ver um galho em uma árvore, a pessoa que está se afogando tenta se agarrar a ele. O único benefício desse galho é evitar que ela se afogue. Só isso. O trabalho informal é uma estratégia de sobrevivência.
Em 2017, o governo de Michel Temer conseguiu aprovar a reforma trabalhista. À época, defensores da medida previam impacto positivo na geração de empregos. Quais os efeitos da reforma até o momento?
Nunca considerei a reforma trabalhista como uma política para aumentar a abertura de empregos. O governo usou o argumento de que poderia elevar a criação de vagas para facilitar a aprovação da medida. O que aumenta a geração de empregos é a confirmação de investimentos. A reforma trabalhista tem impactos interessantes, como a redução de litígio na Justiça do Trabalho. Mas não é um fator que cria empregos. Temos de voltar a crescer com novos investimentos. Quando isso acontecer, vamos ter mais empregos.
Quais medidas são necessárias para obter essa reação?
Uma coisa boa aconteceu na quarta-feira. Foi a aprovação da reforma da Previdência no primeiro escrutínio na Câmara.
O que mais é necessário?
Outra coisa boa é a reforma tributária. Essas reformas têm impacto muito grande no ânimo de investidores. É só olhar para a bolsa de valores, que segue em alta. Os investidores estão acreditando que as empresas e a economia vão crescer de novo. Então, passam a comprar ações. Esse é o primeiro indício de que devemos ter uma retomada. Com a aprovação no Congresso das duas reformas e de outro projeto interessantíssimo que é a medida provisória da liberdade econômica, para destravar a burocracia dos negócios no Brasil, a confiança deve aumentar. Isso deve favorecer investimentos. Só não me pergunte quando.