As dificuldades na busca por emprego representam uma das faces da fraqueza da economia na largada de 2019. Entre janeiro e março, o número de trabalhadores subutilizados aumentou para 974 mil no Rio Grande do Sul, apontam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A marca é a mais elevada em seis trimestres no Estado, ou seja, desde 2017.
O número cresceu 10,2% em relação ao período imediatamente anterior, de outubro a dezembro do ano passado. Frente ao primeiro trimestre de 2018, o avanço foi de 2,1%. Os dados integram a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).
Segundo o IBGE, o grupo de subutilizados abrange três categorias. A primeira é a dos trabalhadores desocupados, ou desempregados, que procuram, mas não encontram vagas com ou sem carteira assinada. A segunda contempla os subocupados, que realizam atividades de menos de 40 horas por semana, como os populares bicos.
A terceira é descrita como força de trabalho potencial. Engloba tanto pessoas que chegaram a buscar empregos, mas não estavam disponíveis para trabalhar — por diferentes motivos, na semana de referência da pesquisa —, quanto profissionais desalentados que desistiram de procurar vagas.
Mais trabalho precário
Coordenador da Pnad Contínua no Estado, Walter Paulo de Sousa Rodrigues avalia que a alta no grupo de subutilizados entre o último trimestre de 2018 e o primeiro de 2019 reflete, em parte, questões sazonais. Historicamente, as festas de final de ano geram contratos de trabalho temporário, que tendem a ser encerrados após o Natal e o Réveillon. Para o analista, o que chama atenção é o avanço do grupo em relação ao começo de 2018.
Com menos tempo de trabalho, a tendência é de que o rendimento familiar também caia. Isso influencia toda a cadeia econômica
WALTER PAULO DE SOUSA RODRIGUES
Coordenador da Pnad contínua no Rio Grande do Sul
— Nessa comparação, não há influências sazonais. Os dados mostram que o mercado de trabalho não teve a retomada esperada. Sem crescimento na economia, não há grande geração de empregos — pontua Rodrigues.
O avanço da população subutilizada frente ao primeiro trimestre de 2018 foi puxado pela alta verificada na faixa de subocupados. Segundo o IBGE, o número de trabalhadores nessa categoria cresceu 13,2%, para 291 mil. No sentido contrário, o contingente de desempregados caiu 4,7%, para 485 mil. Enquanto isso, a força de trabalho potencial subiu 5,3%, para 198 mil.
Na avaliação de Rodrigues, a mensagem deixada pelos dados é clara. Para o analista, o número de desempregados caiu graças à ida de mais gaúchos para atividades com carga horária menor, o que caracteriza a categoria de subocupados, em elevação no início do ano.
— Com menos tempo de trabalho, a tendência é de que o rendimento familiar também caia. Isso influencia toda a cadeia econômica, já que o consumo é uma das molas propulsoras do crescimento — frisa Rodrigues.
No Brasil, o número de subutilizados alcançou a marca de 28,3 milhões no primeiro trimestre. O número é o maior da série histórica do IBGE, iniciada em 2012. Representa alta de 5,6% na comparação com o quarto trimestre de 2018 e avanço de 3% ante igual período do ano passado.
O economista Giácomo Balbinotto Neto, professor da UFRGS, aponta que os dados são parte da herança deixada pela última recessão brasileira, que ocorreu entre 2015 e 2016. O analista acrescenta que a fraqueza da economia no país também atingiu indicadores como o de investimentos de empresas para aumento de produção, medidos pela formação bruta de capital fixo (FBCF), que caiu 1,7% no primeiro trimestre, como mostrou o IBGE. A redução reflete incertezas de empresários com o desempenho de diferentes setores na largada do ano. Sem clareza do cenário e com capacidade ociosa dentro das fábricas, donos de empresas tendem a represar aportes e novas contratações.
— Os investimentos, que poderiam ajudar, estão deprimidos. A economia segue patinando. Não consegue gerar empregos em grande quantidade — relata Balbinotto Neto.
Não há sinal claro de melhora na criação de empregos
O cenário para o mercado de trabalho nos próximos meses é visto com preocupação por especialistas. Segundo eles, não há sinais claros de que a criação de empregos receberá grande impulso no curto prazo. A avaliação está ancorada no fraco desempenho da economia nacional, que frustrou expectativas no início deste ano. Sem crescimento mais robusto no Produto Interno Bruto (PIB), a soma dos serviços e bens produzidos pelo país, a abertura de vagas não deverá deslanchar, indicam analistas.
Para o professor Istvan Kasznar, da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV), as dificuldades do mercado de trabalho refletem defasagens estruturais na economia e na área de educação do país.
— As perspectivas são ruins, porque não se cria empregos de supetão. Talvez haja reversão nas expectativas no segundo semestre, com a aprovação da reforma da Previdência, desde que a proposta não seja depenada no Congresso. Assim, o país poderia sentir alguma retomada nos investimentos — observa Kasznar.
Reforma tributária é um dos caminhos para acelerar a economia
Professor da UFRGS, o economista Giácomo Balbinotto Neto defende mudanças na matriz tributária para que o Brasil consiga gerar mais empregos. Na avaliação de Balbinotto Neto, as alterações poderiam diminuir a complexidade existente na área.
— Empresários reclamam da malha tributária. Não é fácil saber se os impostos estão sendo pagos de maneira correta ou não no país, porque envolvem questões complexas. O país também precisa de medidas que estimulem a abertura de empresas e, consequentemente, a criação de empregos — sublinha Balbinotto Neto.
A reforma tributária é uma das promessas do governo Jair Bolsonaro. O secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, sinalizou no último dia 30 que o projeto do Palácio do Planalto deverá ser enviado ao Congresso em junho.
Outra proposta de reforma tributária, de autoria do deputado Baleia Rossi (MDB-SP), já tramita na Câmara. O texto assinado pelo parlamentar prevê unificar cinco tributos federais, estaduais e municipais em um só Imposto sobre Bens e Serviços.