Um dos vestígios da recessão é a dificuldade de retomada mais consistente no mercado de trabalho. O número de 13,2 milhões de desempregados sustenta a ideia de que a crise segue no país apesar do fim da recessão. Outro exemplo dos obstáculos que atrasam a recuperação é a parcela de brasileiros que precisam recorrer aos populares bicos para pagar as contas, mostra pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).
Apresentado ontem, o estudo aponta que o percentual de entrevistados que buscaram essas atividades para complementar a renda subiu para 64% no primeiro semestre. Em igual intervalo do ano passado, o indicador estava em 57%.
– As dificuldades no mercado de trabalho são a face mais cruel da crise econômica. As pessoas sentem isso na pele – define a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
O levantamento ouviu 886 pessoas nas 27 capitais. A pesquisa também indica que 44% dos entrevistados avaliam que sua condição financeira piorou no primeiro semestre. O dado corresponde a avanço de oito pontos percentuais em relação ao ano passado. Outro percentual que chama atenção é o de consumidores que fizeram cortes no consumo para driblar a crise entre janeiro e junho: 83%.
– O desemprego atinge 13 milhões de pessoas, mas afeta o consumo de muito mais gente no país. Isso ocorre porque, se alguém tem um familiar sem emprego, também precisa revisar suas contas e cortar gastos – acrescenta Marcela.
Segundo a economista, a decepção com o nível de retomada da economia tende a seguir com impactos no mercado de trabalho no segundo semestre. A leitura decorre do possível freio em novos investimentos de empresas, o que deve ser causado pelas incertezas relacionadas às eleições. E essa combinação de fatores pode resultar na permanência do alto percentual de brasileiros que recorrem a bicos para pagar as contas.