Depois de três adiamentos e uma oferta sem compradores, está marcado para esta sexta-feira (29) o leilão de privatização da CEEE-G, o braço de geração de energia da Companhia Estadual de Energia Elétrica. O valor mínimo exigido pelas 15 usinas e outros ativos da empresa é de R$ 836,6 milhões. O certame será realizado na B3, em São Paulo.
O que será ofertado é a fatia de 66,23% do capital total da CEEE-G que pertence ao Estado do Rio Grande do Sul. O restante tem 32,66% da Eletrobras, 0,83% de prefeituras e 0,49% no mercado.
A tentativa de venda da empresa vem desde o início do ano. Inicialmente, o leilão da CEEE-G estava previsto para o final de janeiro, mas foi remarcado para fevereiro e, depois, adiado para março. Na ocasião, nenhuma empresa apresentou proposta. O Estado então decidiu baixar em 33,2% o valor mínimo exigido para tentar atrair investidores em novo leilão.
Além do valor pago ao governo gaúcho, o grupo que adquirir a geradora terá de arcar com outros encargos. O comprador precisará pagar mais R$ 1,66 bilhão ao governo federal pela outorga, ou seja, o direito de operar as usinas e as centrais geradoras hidrelétricas.
Fernando Marchet, CEO da Bateleur, avalia que o ajuste de preço foi necessário para atrair interessados, e que, com essa redução, o leilão deve sair. A consultoria estima que o valor total despendido na aquisição pode girar entre R$ 2,8 bilhões e R$ 3,2 bilhões, conforme a necessidade de investimento na geradora.
— Isso acabava eliminando muitos concorrentes. Foi uma questão de ajustar os preços. Não é um ativo barato, dado os recursos que terão de ser despendidos no todo — destaca Marchet.
Pelo menos dois grupos são apontados pelo mercado como potenciais interessados no leilão da CEEE-G. São eles a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Auren Energia (empresa criada pela Votarantim e o CPP Investiments). Ambas têm objetivo de ter disponibilidade de energia para o mercado livre, ponto relevante para participação no leilão.
— A CSN já detém uma produção de energia importante. E a Auren foi criada para ser uma comercializadora de energia. Ambas enxergam no mercado livre uma oportunidade, por isso faz sentido para esses players — acrescenta Marchet.
O braço de geração é a última parte da CEEE a ser privatizada. Em março do ano passado, a Equatorial Energia comprou a parte de distribuição da estatal, por R$ 100 mil. Em julho, foi a vez da área de transmissão, vendida por R$ 2,67 bilhões para a CPFL.
Questionamentos à CVM
O valor exigido pela parte de geração é alvo de críticas. Entidades contrárias à privatização encaminharam à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) documento questionando o valor de venda pedido pelo governo do Estado. A denúncia se baseia em relatório feito pela UPside Finanças Corporativas. A avaliação da consultoria aponta que a empresa valeria, pelo menos, R$ 1,36 bilhão.
A denúncia foi protocolada pela Frente Parlamentar pela Preservação da Soberania Energética Nacional, liderada pelo deputado federal Pompeo de Mattos (PDT). Outro pedido de suspensão do leilão foi protocolado no Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul (TCE-RS) pelo ex-vice-governador Miguel Rossetto.
A CEEE-G possui cinco usinas hidrelétricas, oito pequenas centrais hidrelétricas e duas centrais geradoras hidrelétricas, com potência própria instalada de 909,9 megawatts. Também possui outros 343,81 megawatts vindos da participação em projetos por meio de consórcios ou sociedades.