O corpo feminino passa por uma série de alterações durante o ciclo menstrual, que podem trazer mudanças no humor, no bem-estar e, conquentemente, interferir na disposição na hora de praticar exercícios físicos.
Mas será que as alterações hormonais que ocorrem nesse período podem afetar o desempenho nos treinos? Afinal, pode fazer mal praticar determinadas atividades quando se está menstruada?
Segundo a professora de educação física Alessandra Scarton, programar o treinamento de acordo com o ciclo menstrual pode ser uma alternativa para aliar bem-estar e performance. Ela frisa que essa abordagem deve serfeita individualmente, conforme os sintomas da mulher e de acordo com sua resposta a cada fase.
A profissional explica que essa periodização, como é chamada, pode auxiliar no aproveitamento das variações hormonais para otimizar o desempenho atlético. E acrescenta que mexer o corpo é sempre uma boa pedida para a saúde e o bem-estar.
Dicas de profissionais
A seguir, entenda como funciona cada etapa e como se pode conciliar os exercícios a elas pode trazer benefícios.
Fase folicular
A ginecologista Helena Corleta pontua que o ciclo menstrual pode ser divido em duas fases: a folicular e a lútea. Na primeira, que inicia na menstruação e acaba na ovulação (normalmente do 1º ao 16º dia), os níveis de estrogênio aumentam gradualmente. Assim, as mulheres costumam sentir-se mais energizadas e motivadas, com mais disposição e capacidade de concentração.
Alessandra Scarton explica que, no início, que é o período da menstruação, movimentos de baixa intensidade e impacto podem ser ideais para algumas mulheres. Principalmente, se houver cólicas.
— Exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico também podem ser benéficos para a promoção da saúde — aponta.
De acordo com a profissional, logo após a menstruação, com o aumento dos níveis de estrogênio, é um bom momento para aproveitar a alta energia. Ela considera que pode ser proposto um aumento gradual da intensidade e do volume de treinamento para potencializar a performance.
— Treinos de resistência e força podem ser enfatizados para aproveitar os benefícios hormonais do aumento dos níveis de estrogênio e testosterona. Além disso, exercícios cardiorrespiratórios de alta intensidade intervalados podem ser bem tolerados — complementa.
Como algumas podem apresentar também uma melhora na função cognitiva nessa fase, incluindo a concentração e a coordenação motora, atividades que requerem foco podem ganhar destaque.
Fase lútea
Na segunda fase, que inicia na ovulação e termina no último dia antes da próxima menstruação (geralmente do 16º ao 28º dia), os níveis de progesterona aumentam como forma de preparar o organismo para a gestação.
A ginecologista Helena Corleta comenta que, entre os sintomas que aparecem nesse estágio, estão sonolência, cansaço, sensação de inchaço, dor nas mamas e queda na motivação. Além disso, há relatos de aumento no apetite e na vontade de comer alimentos específicos, como chocolates.
— Cada mulher pode experimentar as flutuações dos hormônios de forma diferente. Algumas são assintomáticas e outras têm sintomas pronunciados. O estilo de vida, o estresse e a saúde geral também influenciam a disposição ao longo do ciclo menstrual — reforça.
Conforme Alessandra, com o aumento dos níveis de progesterona, os sintomas indicam que esse pode ser o momento de reduzir a intensidade dos treinamentos:
— Exercícios de menor impacto, como natação, caminhada, ciclismo ou yoga podem ser mais confortáveis.
Na TPM
A professora de educação física Francesca Sonda salienta que a tensão pré-menstrual (TPM) traz consigo sintomas físicos e emocionais, como cólicas, inchaço, fadiga, irritabilidade e alterações de humor. E mesmo que isso, muitas vezes, possa afastar as mulheres dos treinos, é quando os exercícios se tornam ainda mais importantes.
— Embora possa parecer contraditório, o exercício físico pode ajudar a aliviar muitos dos sintomas associados à TPM, já que melhora o humor, a qualidade do sono e ajuda na regulação hormonal — comenta.
Se houver muitos sintomas pré-menstruais ou maior sensibilidade a lesões, a melhor alternativa é a moderação e a individualização do treinamento. Alessandra Scarton aponta o que pode ajudar:
— Exercícios de relaxamento, como ioga e alongamento, e de respiração podem reduzir o estresse e os sintomas da TPM. Essas práticas também podem contribuir para o bem-estar mental e emocional — afirma.
Cada caso é um caso
Da mesma forma que algumas mulheres podem notar mudanças significativas de desempenho físico nas diferentes fases do ciclo menstrual, outras podem não perceber alteração, conforme as fontes consultadas por Donna.
— Cada mulher é única e o que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra. É essencial ouvir o seu corpo e adaptar o tipo e a intensidade dos exercícios de acordo com o seu nível de conforto e energia durante a TPM — diz Francesca Sonda.
Nessa avaliação individual, a professora de educação física sublinha ser importante considerar outros fatores, que não estão ligados diretamente ao ciclo menstrual, mas que podem interferir no desempenho na hora de malhar.
— É recomendada uma abordagem individual que também considere nutrição, qualidade de sono, estresse, lesões, motivação e aderência ao programa de exercícios físicos — explica.
Alessandra Scarton reitera que a recomendação é sempre procurar a orientação de um profissional de educação física antes de iniciar qualquer tipo de atividade física:
— Ele pode ajudar a criar um plano de exercícios adequado e adaptado às demandas individuais de cada corpo feminino.
* Produção: Jovana Dullius