Das casas de shows aos cinemas, o ano de 2020 foi marcado por portas fechadas em todos os países. Diante da situação imposta pela pandemia de coronavírus, o setor cultural trouxe para o digital eventos que antes geravam aglomerações. O teatro e a música ao vivo ficaram a um clique de distância, enquanto plataformas de streaming ganharam mais força com lançamentos de aguardados filmes inéditos e, claro, muitas séries.
Entre novos formatos, incertezas e adaptações de projetos consagrados, GZH relembra fatos que marcaram a cultura e o entretenimento ao longo do ano:
Eventos digitais
O ano de 2020 foi das lives, com artistas sertanejos dominando o top 10 das transmissões no YouTube. Marília Mendonça bateu o recorde da plataforma em 8 de abril, chegando a 3,3 milhões de visualizações simultâneas. Gusttavo Lima, por sua vez, inovou ao apostar em uma performance cercada de grandes produções. Por outro lado, Ivete Sangalo conquistou o público ao cantar da cozinha de sua casa trajando um pijama rosa de bolinhas brancas.
Tradicionais eventos e festivais também migraram, em sua maioria, para a internet. Em Porto Alegre, a Noite dos Museus, por exemplo, contou com a participação de 18 instituições de arte e mais de 20 atrações, com toda a programação sendo transmitida em plataformas digitais.
Já o Porto Alegre Em Cena decidiu, em sua 27ª edição, apostar em uma edição híbrida, criando as chamadas "performances anti-aglomeração". A ideia era simples: os endereços das intervenções na cidade não eram divulgados previamente ao público, e quem quisesse poderia assistir aos espetáculos via transmissão ao vivo no YouTube. Além disso, chamou a atenção a inusitada necessidade de retirar uma colônia de algas que brilha no escuro para assistir ao As I Collapse, uma instalação coreográfica que trouxe um discurso sobre sustentabilidade.
Na área da literatura, a Praça da Alfândega vazia foi um dos grandes marcos da pandemia na capital gaúcha. Esta foi a primeira vez que a Feira do Livro, que chegou em 2020 à sua 66ª edição, foi realizada de maneira virtual. O mesmo ocorreu com a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
O cenário, porém, parece ter tornado a leitura mais interessante para muitas pessoas. Dados do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) apontam um crescimento consistente do setor livreiro nos últimos meses. No período de 2 a 29 de novembro de 2020, por exemplo, foi registrada uma variação de 20,50% no volume de vendas, em comparação ao período compreendido entre 4 de novembro e 1º de dezembro de 2019. Em termos de valor, o aumento registrado foi de 20,84%.
A volta do drive-ins
Apesar da necessidade de manter o distanciamento social, a pandemia trouxe uma alternativa à tela do computador. Com ar de nostalgia, drive-ins foram montados na Capital e em diversas outras cidades do país e do mundo.
O POA Drive-in foi inaugurado em 27 de junho no estacionamento da EPTC, ao lado do Estádio Beira-Rio. Inicialmente, estava previsto que a estrutura fosse montada no Anfiteatro Pôr do Sol, mas o local foi alterado por questões ambientais. A ideia tomou forma após uma parceria do diretor da produtora Impacto Vento Norte, Ricardo Salomão, com a Secretaria Municipal da Cultura, representada por Luciano Alabarse. Também entrou no projeto Pinheiro Neto, um dos sócios-diretores da Best Entretenimento. Entre os espetáculos que marcaram a trajetória do drive-in, estão a apresentação do Grupo Tholl e do Guri de Uruguaiana, além da carreata musical que iluminou as ruas de Porto Alegre em uma programação natalina.
Poucos dias depois, o Drive-In Air Festival começou a funcionar. Em 3 de julho a iniciativa de empresários do Grupo Austral, Arca Entretenimento e Fraport Brasil foi aberta ao público no Estacionamento 4 do Aeroporto Salgado Filho. Contudo, o projeto acabou mudando de endereço e, no dia 22 de outubro, passou a ocupar o espaço em frente ao antigo terminal da companhia aérea Azul, ao lado da estátua do Laçador. Apresentações como Armandinho e Nenhum de Nós fizeram sucesso, bem como o festival em homenagem aos 40 anos de Harry Potter.
Já o Cine Drive-in apostou na exibição de grandes clássicos de cinema, como Meia Noite em Paris, de Woody Allen, A Bela da Tarde, de Luis Buñuel e Django Livre, de Quentin Tarantino. Na primeira parte da programação, os longas foram rodados em uma estrutura montada no estacionamento da Associação dos Dirigentes de Marketing e Vendas do Brasil (ADVB/RS), em frente ao Anfiteatro Pôr do Sol. Na segunda parte, optou-se por apresentar as obras no 10º andar do estacionamento do Shopping Praia de Belas. A ação foi fruto de uma parceria entre a JOG Engenharia de Andaimes, a curadoria de experiências Lora, a Mezanino Produções (responsável pelo POA Verão Alegre), a iniciativa de experiência em entretenimento Voga, a produtora Gana e a ADVB.
Adiamentos e indefinições
O cinema, de forma geral, acabou perdendo espaço para o streaming neste ano. Em Porto Alegre, assim como em outras cidades, alguns filmes foram exibidos em formato drive-in, enquanto as salas exibidoras seguiam com rumos incertos diante do abre e fecha decorrente de decretos do Estado e dos municípios. Embora ainda não se tenha informações completas sobre o impacto financeiro da pandemia na indústria cinematográfica, alguns números apontam o tamanho da crise. Conforme dados da Secretaria de Políticas Regulatórias da Agência Nacional do Cinema (Ancine), o mês de novembro, por exemplo, registrou um público de 37.228.454, uma queda de cerca de 79% em relação ao mesmo período de 2019.
Ao longo do ano, diversas produções foram paralisadas e lançamentos adiados. Após ter sua data de estreia remarcada três vezes, Tenet, longa de Christopher Nolan, tornou-se a primeira grande aposta da indústria cinematográfica para a retomada dos cinemas no circuito mundial. Na última semana, foi a vez de Mulher-Maravilha 1984, outra produção adiada e aguardada com expectativa tanto pelo público como pelas redes de cinema.
Assim como os filmes, o calendário de shows passou por diversos adiamentos. Em Porto Alegre, um dos exemplos é a apresentação do Metallica, que deveria ocorrer em 21 de abril e agora não tem data prevista para ser realizada. Com a mudança nos planos, a banda americana decidiu relembrar os melhores momentos de suas apresentações no país com o compilado Live in Brazil (1993-2017), disponível em todas as plataformas de streaming. Já o show do Kiss, previsto inicialmente para 12 de maio no Anfiteatro Arena do Grêmio, foi remarcado para 21 de outubro de 2021.
Seguindo diversos protocolos de segurança sanitária, o Auditório Araújo Vianna chegou a reabrir em 27 de novembro, trazendo o show de Nando Reis. Em 10 de dezembro, porém, uma decisão liminar da Justiça determinou que a capital gaúcha não poderia autorizar o funcionamento de teatros, auditórios, casas de espetáculos, casas de shows, circos e outras atividades em ambientes fechados enquanto estivesse classificada com bandeira vermelha no plano de distanciamento controlado do governo estadual. Além disso, suspendeu dois shows que estavam previstos para ocorrer no local: o da banda Vera Loca e do Armandinho.
Reprises e BBB histórico
Na telinha, o impacto da pandemia também foi sentido. Em março, a Globo interrompeu as gravações das novelas que estavam no ar, abrindo espaço para a exibição de reprises. Na faixa das nove, Fina Estampa (2011) e A Força do Querer (2017) tomaram o lugar de Amor de Mãe, enquanto que a faixa das sete — que estava exibindo Salve-se Quem Puder — foi preenchida por uma versão compacta de Totalmente Demais (2015), seguida por Haja Coração (2016).
Na faixa das seis, a esperada estreia de Nos Tempos do Imperador, também foi substituída por uma reprise. A emissora optou por apresentar um compacto de Novo Mundo (2017) e, depois, Flor do Caribe (2013). Por fim, Malhação: Toda Forma de Amar teve seu final antecipado para abril. Em seguida, a Globo passou a exibir um compacto de Malhação: Viva a Diferença (2013).
As gravações de Amor de Mãe e Salve-se Quem Puder foram retomadas em agosto com uma série de medidas sanitárias, mas os capítulos só serão colocados no ar em 2021. As filmagens de Nos Tempos do Imperador também voltaram em novembro, mas o folhetim segue sem previsão de estreia.
Além disso, o BBB 20 fez sucesso ao reunir participantes anônimos, que se inscreveram para participar, e famosos, que foram convidados. A edição também contou com a quebra de uma das regras principais do reality show: conhecido por deixar os participantes completamente alienados do que ocorre no mundo, o coronavírus impôs a necessidade de que eles fossem alertados da situação fora da casa. Ao lado do médico infectologista Edimilson Migowski, o apresentador Tiago Leifert explicou sobre as formas de transmissão do vírus e reforçou a necessidade da higienização.
A final do reality show, que consagrou a médica Thelma Assis como campeã, teve a maior audiência desde 2010. Não bastasse isso, o programa ainda entrou no Guinness World Records por ter a maior participação do público em show televisivo na história — o paredão entre Manu, Prior e Mari, recebeu mais de 1,5 bilhão de votos.