A chuva e do frio da noite do último sábado (19) eram bastante convidativos para ficar em casa se aquecendo embaixo de um cobertor enquanto se assistia a um filme ou a uma série, quem sabe com vinho ou pipoca. Milhares de pessoas, porém, abdicaram do conforto do lar e foram para a rua acompanhar a terceira edição da Noites dos Museus.
No evento, mais de 50 shows gratuitos ocorreram em 10 centros culturais de Porto Alegre. Além disso, o Margs e o Memorial também participaram do evento, porém sem receber qualquer apresentação, embora ambos sediem a 11ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul. As apresentações musicais ocorrem em meio às exposições dos museus, com cerca de meia hora. A produtora Rompecabezas, que realiza o evento, convocou apenas artistas locais – como Neto Fagundes, Thiago Ramil, Marcelo Delacroix, entre outros – para compor um programa eclético com jazz, blues, samba, funk, pop, rock, música erudita e outros gêneros.
Entretanto, a chuva incessante que caiu durante o sábado parecia ser um impeditivo. Tanto que os espaços gastronômicos com food trucks foram cancelados, e os shows que estavam previstos para ocorrer na Praça da Alfândega – Akeem Music, João Maldonado Quarteto, Gustavo Telles & Os Escolhidos – foram transferidos para o Museu da Comunicação Hipólito José da Costa, somando-se à programação musical do centro cultural.
Tendo sido reaberto na última quarta-feira, o Museu Hipólito se tornou um dos centros mais efervecentes da Noite dos Museus, tanto que a reportagem presenciou fila na rua para entrar no local. Com infiltrações, problemas na rede elétrica e sem elevador, o museu esteve subutilizado nos últimos anos, mas foi lá que o público pôde conferir shows de grupos instrumentais renomados como Yangos e Funkalister, além de vislumbrar máquinas rotativas que imprimiam jornais. Quem estava achando a experiência interessante era Luana Bianchi, 20 anos, estudante de engenharia física:
– Aqui tem a matriz de jornais, o que não se encontra em qualquer lugar. É muito legal de ver. Acaba juntando a parte visual do museu com música, o que acaba ficando muito agradável.
Monique Invernizzi, amiga de Luana, concordou.
– Nunca tinha vindo a esse museu. O que deu para perceber hoje foi até bem mais gente aqui que no Margs e o Memorial, porque aqui tem música, o que acaba atraindo mais – avaliou a estudante de publicidade de 20 anos, citando os outros museus que as duas haviam visitado.
Quem também esteve no Hipólito foi Ana Maria Martins, 57 anos, para conferir Funkalister. Ela também conferiu Akeem Music e Yangos. Antes, a técnica em biblioteconomia assistiu ao Duo Nascente na Pinacoteca Ruben Berta. Seu objetivo na Noite dos Museus era bem específico.
– A minha cachaça é a música: não vivo sem – contou Ana Maria, enquanto aguardava o show de Paola Kirst no MACRS. Depois, ela pretendia voltar ao Hipólito para ver o Kula Jazz.
Foi só a música que a música que motivou Ana Maria a perambular sozinha entre os museus do Centro?
– Isso é viver. Ficar em casa em uma noite dessas que está todo mundo circulando, com segurança? Tem que sair para a rua.
Com segurança particular, além da Guarda Municipal e da Brigada Militar, as pessoas se sentiram à vontade para ocupar a cidade à noite. A reportagem presenciou, por exemplo, fila para entrar no museu Júlio de Castilhos às 23h. Quantas vezes isso acontece durante o ano?
A Noite dos Museus é uma premissa para seu público desbravar locais desconhecidos, além de uma encontro romântico, caso de Luis Felipe Silveira, 20 anos, e Katieli Santos, 21 anos. O jovem casal havia visitado pela primeira vez centros culturais como o Museu Hipólito, Margs e o Memorial RS na Noite dos Museus. Apenas a CCMQ, onde fica o MACRS, que era familiar: foi o local de seu primeiro encontro, há 10 meses. Mas não seria melhor ficar em casa assistindo a uma comédia romântica embaixo dos cobertores?
– Como é um evento que acontece uma vez por ano, vale a pena o esforço – garante o estudante de Charqueadas.
Katieli, que é técnica em administração e vive em Gravataí, corrobora:
– É bom para sair da rotina. Compensa muito, apesar de os museus estarem muito cheios.
O servidor público Israel Aquino, 33 anos, aproveitou para conhecer o Centro Histórico-Cultural Santa Casa com sua mulher Vanessa Voltaire, 36, pela primeira vez – além de passar no Museu da UFRGS, em que já havia feito estágio. Para Israel, o evento contribui para diversificar as opções culturais da cidade e para convidar a população a conhecer esse circuito de museus.
– Na correria, nós acabamos não aproveitando esses espaços. Ao criar e divulgar uma atividade como essa, num horário que a maioria das pessoas pode estar presente, tu acabas oferecendo esse canal de acesso – analisa.
Outro casal que também fazia suas descobertas na noite era formado pela médica Cleusa Conceição, 50 anos, e pelo economista Sérgio Martins, 58. Moradores de Canoas, eles visitaram a Fundação Iberê Camargo pela primeira vez.
– Fomos atrás do desafio de buscar o novo. A possibilidade de acessar os museus é pouco flexível para a gente devido ao trabalho e ao fato de estramos distantes da cultura.
No local, estava sendo inaugurada a exposição Moderna para Sempre – Fotografia Modernista Brasileira na Coleção Itaú Cultural, que reúne 144 obras de fotógrafos modernistas, o que agradou Cleusa:
– Já fiz um curso de fotografia há muito tempo. É interessante ver com o olhar do fotógrafo as diferentes perspectivas.
Assim como os outros museus da Noite dos Museus, o Iberê atraiu um público diversificado, contando com a presença de crianças (que teriam atração direcionada no Planetário), jovens, adultos e idosos. Ao entrar no local, Cleusa se admirou com a quantidade de gente e especulou:
– Acho que as pessoas ainda não estão acostumadas com o frio.