Com a programação principal concentrada na Cinemateca Capitólio, cinéfilos que cumpriam gincana para assistir aos filmes do Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre – Fantaspoa em diferentes salas da cidade poupam um tanto de fôlego. Mas não muito. A maratona que vai de hoje a 3 de junho segue exigente de tempo e organização, diante das muitas atrações paralelas fora da sala escura, como festas, exposição, oficinas e performances que combinam cinema e música.
O Fantaspoa apresenta nesta 14ª edição 106 filmes, entre longas e curtas-metragens, de 32 países – serão 33 sessões seguidas de bate-papo com diretores, produtores, atores e roteiristas brasileiros e estrangeiros. O evento gaúcho é o único representante da América do Sul na federação europeia Méliès, que reúne os 22 maiores festivais de cinema de gênero do mundo.
— Se existisse um ranking da federação que considerasse quantidade de filmes e relevância, o Fantaspoa estaria entre os 10 mais destacados, pois temos um número muito significativo de premières, de diretores convidados e, talvez até mais importante, um número de inscrições muito expressivo. A média de inscrições tem sido de mil, anualmente, o que nos permite um foco curatorial diferenciado em diversidade de países, temáticas e qualidade técnica e artística. Trazemos a Porto Alegre um panorama completo do cinema fantástico mundial — diz João Pedro Fleck, que divide com Nicolas Tonsho a direção e a curadoria do Fantaspoa.
Cabe ao diretor, produtor, roteirista, montador e especialista em maquiagem e efeitos especiais capixaba Rodrigo Aragão abrir o Fantaspoa 2018, às 21h30min desta quinta-feira, com a primeira sessão pública de seu quinto longa, A Mata Negra. Aragão é nome de ponta do terror brasileiro, um autor original que incorpora elementos do folclore e cultura regionais à fórmula do medo, tensão e sangue. Mais de 50 longas serão exibidos pela primeira vez no Brasil durante o Fantaspoa. Desses, cinco terão première mundial e 31 as primeiras exibições na América Latina.
Outro destaque da programação é Os Garotos Selvagens, primeiro longa de Bertrand Mandico, diretor francês que está competindo agora no Festival de Cannes com seu curta Ultra Pulpe. A trama fantástica apresenta um grupo de jovens desajustados enviados por suas famílias para uma temporada correcional no barco de um marujo durão. Rodado em película, o filme faz uso de efeitos e trucagens que remetem aos primórdios do cinema, com referências que vão do expressionismo de Murnau ao surrealismo de Jodorowsky, lembrando ainda a violenta distopia de Kubrick em Laranja Mecânica – veja abaixo outros 10 destaques do Fantaspoa 2018.
Mandico estará na Capital para apresentar Os Garotos Selvagens no dia 1º de junho, junto com Elina Löwensohn, atriz romena que integra o elenco e é conhecida pelos trabalhos que fez com diretores como Hal Hartley e Steven Spielberg. Elina é uma das homenageadas do festival esse ano, ao lado dos diretores americanos Mick Garris e William Lustig — que ministrarão masterclasses na Capital — e da atriz gaúcha de Carlos Barbosa Oldina Cerutti do Monte, avó e musa do jornalista, cineasta e especialista em filmes de horror Felipe M. Guerra.
Fleck e Tonsho perceberam há alguns anos a necessidade de incorporar outras atividades à programação cinematográfica do festival.
— O Fantaspoa é um festival familiar que incentiva o convívio entre o público e os artistas. Hoje em dia, as pessoas não vão mais ao cinema, pois o consumo de filmes ficou muito facilitado. Então, buscamos oferecer um experiência espetacular que envolve shows, festas, passeios — explica Fleck, que antecipa uma das novidades:
— Teremos o Madrugadão Fantaspoa, na virada do dia 26 para o dia 27 de maio, com a exibição de três longas e dois curtas metragens. O ingresso para a noite toda inclui cerveja e comidinhas oferecidas nos intervalos, com setlists da DJ Jade Primavera. A ideia é que o clima seja de confraternização, com filmes, comidas e música, lembrando os sábados à noite nas casas de amigos.
Outra novidade é FantasMercado, encontros voltados para profissionais do setor audiovisual. Fleck detalha:
— Há quatro anos, o Fantaspoa começou a contribuir com produções de filmes e, desde então, foram sete longas-metragens já finalizados. O FantasMercado é um passo adiante, pois será uma plataforma de conexões entre parceiros de todo o mundo, de forma a estimular parcerias que transformem projetos em filmes de verdade. O evento contará, inclusive, com uma palestra de Daniel Tonacci, representante da diretoria da Ancine, o que significa um aumento da importância do festival em âmbito nacional.
Pedra da Serpente, de Fernando Sanches, sétimo projeto da Fantaspoa Produções, é o filme de encerramento do festival, com uma história de abduções alienígenas em Peruíbe, litoral paulista.
Além da Cinemateca Capitólio (Rua Demétrio Ribeiro, 1.085), com ingresso a R$ 10, exceto no Madrugadão Fantaspoa, que custa R$ 40, haverá programação de curtas na Sala Redenção (Av. Paulo Gama, 110), com entrada gratuita. O Fantaspoa terá ainda atividades no Centro Cultural CEEE - Erico Verissimo, Instituto Goethe e Santander Cultural. Festas temáticas e shows estão agendados no Groova, no Espaço Cultural 512, no Hair Home Bar, no Agulha e no barco Cisne Branco.
10 dicas de João Pedro Fleck, curador do festival. Sessões na Cinemateca Capitólio.
Veja a programação completa aqui.
Aterrorizados: “É o filme de terror mais cativante e assustador da América Latina nestes 14 anos de Fantaspoa”. Sexta (19), às 19h, com presença do diretor argentino Demián Rugna, e dia 22/5, às 13h30min.
BraveStorm: “Filme japonês que, em menos de 90 minutos, conta uma história mirabolante e bem produzida envolvendo robôs gigantes, alienígenas e viagens no tempo." Sexta (18), às 13h30 e dia 26, às 23h55.
The Endless: “Terceiro (e melhor) filme da dupla americana Moorhead e Benson, que voltam ao Fantaspoa depois de terem ganho o prêmio de melhor direção por Spring, em 2015”. Dias 2/6, às 19h, em sessão comentada pelo diretores, e 3/6, às 15h.
Errementari: “Primeiro filme espanhol falado em euskera (basco) da história do Fantaspoa, com produção do célebre diretor Alex de La Iglesia”. Dia 29, às 21h30, sessão comentada pelo diretor Paul Urkijo Alijo.
Mal Nosso: “Filme nacional que conseguiu o feito de ter première mundial no Festival de Moscou e terá sua primeira exibição nacional no Fantaspoa”. Sexta (18), às 21h30, com presença do diretor Samuel Galli e equipe.
Matar a Deus: “Quatro atores em uma única locação. A peculiar história de um anão mendigo que diz ser Deus e exterminará a humanidade na noite de Réveillon”. Dias 23/5, às 21h30, com presença dos diretores Caye Casas e Alberto Pintó, e 29/5, às 15h
Puppet Master: The Littlest Reich: “Será no Fantaspoa a segunda exibição mundial do novo filme da mais longeva franquia do cinema de terror”. Dias 26/5, às 25h55, e 31/5, às 13h30.
Rock Steady Row: "Imagine um Mad Max com bicicletas que se passa numa universidade pós-apocalíptica e filmada por um diretor altamente influenciado por Wes Anderson e Akira Kurosawa”. Dias 22/5, às 19h, e 2/6, às 13h30.
Os Tigres Não Têm Medo: “Poético e dramático em igual medida, ganhou 28 prêmios internacionais e foi relacionado na lista dos 10 melhores filmes de 2017 por Guillermo del Toro – impressionado com a obra, o diretor oscarizado de A Forma da Água produzirá os dois próximos filmes da cineasta mexicana Issa López”. Dias 31/5, às 21h30, em sessão comentada pela diretora, e 1º/6, às 13h30.
O VelociPastor: “Baseado em um trailer falso criado pelo diretor americano Brendan Steere, narra a história de um pastor que ganha a habilidade de se transformar em um dinossauro para combater o mal”. Dia 26/5, às 23h55min.