Com obras de 70 artistas de diversas partes do mundo, a 11ª Bienal do Mercosul está em cartaz em Porto Alegre e Pelotas até 3 de junho. Abaixo, confira cinco destaques da exposição, comentados por seus próprios autores:
Adad Hannah: The Raft of the Medusa (Saint-Louis) (2016)
- A obra: o prestigiado artista americano concebeu esse vídeo que faz referência a uma pintura canônica, A Balsa da Medusa (Le Radeau de la Méduse) (1818 - 1819), de Théodore Géricault. A obra original refere-se ao sofrimento dos sobreviventes do naufrágio da fragata francesa La Méduse, que afundou em 1816 perto da costa do Senegal. Nesta, que é a segunda releitura de Adad Hannah para a pintura, senegaleses foram convidados para encenar um quadro vivo, criando um paralelo entre o episódio histórico e a atual tragédia dos refugiados.
- Local: Margs
- Palavra do artista: "Em 2016, cheguei em Saint-Louis, no Senegal, para produzir um trabalho com a comunidade local, no aniversário de 200 anos do naufrágio de La Méduse. Depois de conhecer as pessoas da comunidade, decidi criar uma balsa com restos de barcos de pesca. Tudo foi construído localmente, até o sol. O cenário e a água foram criados com 300 metros de algodão. Imaginei como teria sido a vida durante aqueles 17 dias de deriva no mar. Reencenando esse momento histórico, recontextualizei os eventos na balsa trazendo eles para a contemporaneidade, 200 anos depois. Isso tanto atrai atenção para a tragédia original de 1816 quanto expõe paralelos óbvios com eventos contemporâneos."
Vasco Araújo: Debret (2013)
- A obra: Exposta ao lado de outras duas séries do mesmo artista, É nos Sonhos que Tudo Começa e La Schiava ("a escrava"), Debret é um conjunto de esculturas inspiradas nas gravuras do pintor francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848), que também estão expostas na mesma sala. Em pequenas mesas ovais, típicas das residências portuguesas do início do século 19, o artista português Vasco Araújo colocou figuras que representam cenas violentas, refletindo a relação social abusiva entre brancos e negros, portugueses e africanos, senhores e escravos no Brasil colonial do século 19. Sobre as mesas, há ainda ovos de madeira dourada, inspirados em Fabergé, símbolo do imperialismo.
- Local: Margs
- Palavra do artista: “É um trabalho sobre como os portugueses se construíram em termos de identidade a partir de uma equação de dominação, violência e confronto com os povos escravizados. As gravuras do Debret são um testemunho dessa relação terrível."
Letícia Ramos: VOSTOK (2016)
- A obra: Vostok é um filme que parece um documentário, mas é uma ficção realizada com maquetes. Faz parte de um projeto que envolve publicação virtual, livro, LP e uma performance apresentada no Festival Videobrasil em 2015. Gaúcha radicada em São Paulo, Letícia já teve trabalhos expostos na Tate Modern e outras instituições renomadas.
- Local: Margs
- Palavra do artista: "Em 2012, fui surpreendida pela notícia de que a base científica russa VOSTOK, localizada na Antártida, estava prestes a retirar amostras de água de um lago localizado quatro quilômetros abaixo do gelo – espécie de cápsulas do tempo do período em que o continente antártico começou a congelar. A partir deste fato real, surgiu a inspiração para o filme VOSTOK, a viagem de um microsubmarino às profundezas escuras de um lago pré-histórico submerso na Antártida, uma jornada de aventura épica ao desconhecido. Filmado em 16mm a partir de cenários em miniatura, é um filme de ficção científica inspirado por documentários e questiona a verdade das abstratas imagens científicas que nos são apresentadas. No momento difícil que estamos passando em nosso país, onde nossos direitos se esvaem pouco a pouco, cabe ao artista a linguagem, a metáfora, a distopia e a IMAGINAÇÃO como forma de resistência."
Igor Vidor e Yuri Firmeza: Brô MC's Humildade (2016)
- A obra: Dois nomes de destaque na arte contemporânea brasileira, o carioca Igor Vidor e o paulista Yuri Firmeza, uniram-se para criar esse vídeo de 6 minutos com Brô MC´s, anunciado como o primeiro grupo de rap indígena do Brasil. Os quatro MCs, que vivem na Aldeia Jaguapirú Bororó, em Dourados, Mato Grosso do Sul, traduzem seus anseios em rimas em português e guarani.
- Local: Memorial do RS
- Palavra dos artistas: "Pensamos o videoclipe tendo em primeiríssimo plano o rosto dos quatro integrantes, pensando estes rostos como totens que no espaço da exposição se presentificam, encarnam no lugar de forma agigantada, nos confrontando primeiramente pela escala. Em seguida nos apercebemos da letra que, como em quase todos os seus raps, tratam do genocídio que, ao contrário do que uma certa historiografia cega afirma, ainda não findou. Se os números oficiais, apontados em relatórios como o do CIMI, já são aterrorizantes quanto ao extermínio indígena, pensemos então nos assassinatos que não estão listados oficialmente. São centenas de lideranças assassinadas. O lugar de resistência em que boa parte do rap se situa e reivindica é ainda mais urgente quando pensamos no processo de obliteração histórica e política que assola, nesse caso, os Guarani-Kaiowá, mas, deve-se ressaltar, não apenas eles. O rap aqui é também um grito de resistência."
Mark Dion: Departamento de Recursos Não Revelados (2018)
- A obra: O artista americano Mark Dion criou esta instalação/performance especialmente para a 11ª Bienal do Mercosul a partir de cofres antigos do Santander. Nela, atores interpretam funcionários de um banco que convidam os visitantes a abrirem "o seu cofre particular". Dentro dos cofres, há materiais como feijão, açúcar, arroz, sal e outros.
- Local: Santander Cultural
- Palavra do artista: "O tema da obra é o triângulo do Atlântico, que tem a ver com trocas e commodities, desde corpos humanos até açúcar e algodão. Essas trocas geraram acumulação de riqueza nacional, corporativa e individual. E essa riqueza ainda é visível nas cidades, nos belos edifícios art déco. Então os benefícios da prática da escravidão não desapareceram com a prática da escravidão. E os bancos são parte do mecanismo que mantêm essa riqueza. Há uma estranheza e uma contradição quando os bancos afirmam que tentam prevenir a corrupção porque o cofre esconde riqueza, é uma brecha na lei. Este trabalho é uma crítica sutil e encoberta ao contexto do banco."
11ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul
- Visitação às exposições: de 6 de abril a 3 de junho, conforme o horário de visitação de cada local (confira no mapa abaixo).
- Locais: Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS), Memorial do Rio Grande do Sul, Santander Cultural, Praça da Alfândega, Igreja Nossa Senhora das Dores, Comunidade Quilombola do Areal e Casa 6 (Pelotas).
- Curadoria de Alfons Hug e curadoria adjunta de Paula Borghi.
- Entrada franca.
- Mais informações: bienalmercosul.art.br
Mapa da 11ª Bienal de Artes do Mercosul
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