Embora não tenha sido um ano de shows, não quer dizer que não teve música em 2020. Com a pandemia de covid-19, os artistas tiveram de se virar com lives ou apresentações em formato drive-in. De qualquer maneira, os lançamentos musicais não pararam.
Conforme estimativas da Associação Brasileira de Música Independente (ABMI), durante a pandemia, houve um crescimento de até 30% em uploads diários de músicas nas plataformas de streaming. E não faltou gente para ouvir essas faixas: segundo uma pesquisa realizada em parceria entre o Itaú Cultural e o Datafolha, a música disparou como a forma de cultura mais consumida virtualmente: 84% dos entrevistados que acessam a internet escutam canções pela rede.
Entre os lançamentos de destaques no Brasil, há de tudo um pouco: sertanejo, funk, rap, trap e uma ascensão da pisadinha. Ao redor do mundo, nomes como Taylor Swift e Bad Bunny se destacaram, além do fato do Tik Tok seguir impulsionando sucessos.
A seguir, confira alguns destaques da música em 2020.
Se o sertanejo reina, Marília Mendonça é a rainha
Mais uma vez, o sertanejo dominou os ouvidos dos brasileiros e dos gaúchos. Foi de longe o gênero mais popular no Spotify, com 4,3 bilhões de execuções. Para se ter ideia, o segundo estilo que foi mais ouvido por aqui na plataforma foi o funk, com 2,4 bilhões.
Na lista das 10 músicas mais ouvidas, tanto no Spotify quanto na Deezer, oito são faixas de artistas sertanejos. A campeã em ambas as plataformas foi Liberdade Provisória, da dupla Henrique & Juliano.
Seja na Deezer ou no Spotify, Marília Mendonça reinou: foi a artista mais ouvida nas duas plataformas. Ela também bateu o recorde mundial como a live musical mais assistida na história do YouTube. Sua apresentação transmitida pela plataforma em 8 de abril chegou ao pico de 3,31 milhões de visualizações simultâneas.
Tudo ok com Juliana
Segundo gênero mais consumido no país, o funk seguiu emplacando hits este ano, ainda mais diluído em diferentes vertentes e misturas. Assim como em 2019, o brega funk seguiu em alta: um dos maiores hits do Carnaval deste ano (parece que faz tempo, não?) foi Tudo Ok — parceria entre Thiaguinho MT (letra), de JS, o Mão de Ouro (produção) e Mila (voz).
Embora tenha sido lançada no final de 2019, a faixa se tornou hit de um verão pré-pandemia, com uma letra que exalta a superação de um desamor ("brota no bailão pro desespero do seu ex"). É claro, versos da música também foram bastante aproveitados em legendas de fotos nas redes sociais entre as pessoas que gozam de maior autoestima ("cabelo ok, marquinha ok, sobrancelha ok, a unha tá ok").
Porém, quem prevaleceu mesmo em 2020 foi um representante do funk mandelão (marcado por usar batidas pesadas e simples, além de letras com poucos versos). Com 18 anos completados no dia 9 de outubro, o jovem MC Niack emplacou dois funks no topo do ranking do Spotify no Brasil. Segundo levantamento do G1, com os hits Oh Juliana (65 dias) e Na Raba Toma Tapão (30), ninguém passou mais tempo no topo da lista em 2020 do que o jovem funkeiro.
Aliás, Oh Juliana foi mais uma canção a celebrar o nome, juntando-se a galeria de Raça Pura (Juliana não quer sambar), Papas da Língua e Fernando & Sorocaba.
Pisa mais
Neste ano, a pisadinha ascendeu nacionalmente. Originário das regiões Norte e Nordeste e influenciado por ritmos como o forró, o arrocha e o tecnobrega, o gênero teve como expoente o duo Os Barões da Pisadinha. O grupo emplacou um leque de hits nas paradas mais ouvidas de streaming em 2020, como Se Namorar Fosse Bom, Casa de Praia, Basta Você Me Ligar (feat. Xand Avião) e Tá Rocheda. Segundo a gravadora Sony Music Brasil, os Barões chegaram a se tornar os artistas mais ouvidos nas plataformas de streaming, com mais de 1,5 bilhão de execuções de vídeos e áudios.
Contudo, foi com o hit Recairei que os Barões despontaram. Uma das faixas mais executadas em 2020 no streaming, a canção contém um refrão perigoso: "Eu já te superei, certeza eu superei/ Mas não manda mensagem outra vez/ Senão recairei". Perigoso porque pode grudar na cabeça do ouvinte por um bom tempo.
A pisadinha e os Barões contribuíram para que o forró se tornasse o quarto gênero musical mais ouvido no Spotify pelos brasileiros em 2020. Além dos Barões, outros nomes que se projetaram foram Tarcísio do Acordeon, Biu do Piseiro e Vitor Fernandes.
Vale lembrar que a pisadinha proporcionou o jingle genérico que foi o grande sucesso musical das eleições deste ano: O Homem Disparou, gravada por César Araújo, Karkará e os Vilões do Forró. O hit se espalhou pelo Brasil e embalou campanhas de Norte a Sul.
Rap e trap
Não faltaram lançamentos do rap que se destacaram: Histórias da Minha Área, do Djonga; O Líder em Movimento, do BK; Tão Real, do Rashid; Zodíaco, do Xamã, entre outros. Embora AmarElo tenha sido lançado na reta final de 2019, o disco do Emicida ganhou uma nova sobrevida com o documentário AmarElo - É Tudo pra Ontem.
Quem quebrou recordes foi o trap do cearense Matuê: com Máquina do Tempo, ele teve a melhor semana de estreia de um disco na história do Spotify no país, emplacando todas as sete faixas entre as 15 mais tocadas da plataforma no Brasil no mesmo dia.
Tiktokização da música
Em 2020, o Tik Tok catapultou hits, sejam novos ou velhos. A plataforma conhecida por seus vídeos curtos ou dancinhas ajudou a viralizar faixas com seus desafios, danças e memes. Entre as canções impulsionadas pelo aplicativo estão Tones and I, do Dance Monkey, Say So, da Doja Cat, Death Bed, do cantor Powfu em parceria com Beabadoobe, e Na Raba Toma Tapão, do MC Niack.
O Tik Tok também foi responsável pelo resgate de Dreams, do Fleetwood Mac. Em vídeo do app, o americano Nathan Apodaca dublou a música e bebeu suco enquanto andava de skate. Parece pouco? Bem, o viral impulsionou a faixa do disco Rumours (1977) para o top 30 da Billboard após 43 anos.
O ano do coelho
Ao redor do mundo, foi o ano do coelho malvado: com três álbuns lançados em 2020, o cantor porto-riquenho Bad Bunny foi o artista mais escutado de 2020 no mundo no Spotify. O artista de reggaeton também colonizou os Estados Unidos: El Último Tour del Mundo se tornou o primeiro álbum totalmente em espanhol a alcançar o primeiro lugar das paradas da Billboard nos 64 anos de história do ranking.
Mesmo sem turnê milionária, a carreira de Taylor Swift teve um ano dourado. Ela lançou dois discos — Folklore e Evermore — com uma sonoridade mais folk alternativa. Bateu recordes: ela se tornou a primeira artista a estrear no topo da Hot 100 (músicas) e da Billboard 200 (álbuns) de maneira simultânea por duas vezes. Primeiro em agosto, com o single Cardigan e o álbum Folklore; depois em dezembro, com Willow e Evermore.
Entre outros destaques internacionais estão o single picante Wap, de Cardi B em parceria com Megan Thee Stallion e os álbuns de divas pop como Ariana Grande (Positions), Dua Lipa (Future Nostalgia) e Lady Gaga (Chromatica). O cantor de R&B The Weeknd lançou After Hours emplacando hits como Blinding Lights, porém foi esnobado pelo Grammy. A cantora Fiona Apple ressurgiu após oito anos com Fetch the Bolt Cutters, um trabalho amplamente elogiado pela crítica.
Do RS para o Brasil
Por estes pagos, o prestigiado duo 50 Tons de Pretas apresentou Voa, seu disco de estreia. Quem também lançou seu primeiro trabalho foi o OBSP – formado por quatro músicos gaúchos da nova geração: João Ortácio (O), Pedro Borghetti (B), João Salazar (S) e Poty (P). Aprofundando o experimentalismo com a produção eletrônica, a banda Supervão apresentou o EP Depois do Fim do Mundo.
Radicada no Rio, a gaúcha Adriana Calcanhoto lançou Só (produzido durante seu confinamento) e o disco ao vivo Margem, Finda a Viagem. O ensolarado e good vibes Vitor Kley trouxe A Bolha. Cantora gaúcha mais ouvida no Spotify, com 8,2 milhões de ouvintes mensais, Luísa Sonza, marcou presença com vários singles exitosos: Braba, Toma (com MC Zaac), Flores (com Vitão), Não Vai Embora (com Dilsinho e Malibu) e Modo Turbo (com Anitta e Pabllo Vittar).