Se não há como ninguém ir ao baile, que o baile vá até o público. Com a pandemia de covid-19 e a orientação de isolamento social, shows foram cancelados para que fossem evitadas aglomerações. Já que tem muita gente confinada em casa (ao menos, recomenda-se), as lives têm sido uma maneira de aproximar músicos de seus fãs.
A tendência tem sido significativa para nomes internacionais e nacionais da música, o que não é diferente com artistas gaúchos de variados segmentos. Que o diga o cantor nativista Baitaca. Com apenas o celular conectado à mesa de som, ele obteve mais de dois milhões de visualizações no Facebook, em live que foi realizada no dia 8 de abril.
Na última sexta-feira (17), a banda Fresno realizou uma live de quatro horas no YouTube intitulada QuarentEmo. A apresentação foi transmitida de um estúdio na casa do vocalista e guitarrista Lucas Silveira – apenas ele do grupo estava presente. Até o momento, a live acumula mais de um milhão de visualizações no YouTube e, durante a sua realização, chegou a ser o assunto mais comentado pelos brasileiros no Twitter.
Com exceção da banda Rainha Musical, cuja live foi realizada com estrutura de show reunindo o grupo completo, a tendência dos músicos gaúchos têm sido as apresentações caseiras e despretensiosas – ao contrário das megaproduções de artistas sertanejos, criticadas por suas aglomerações nos bastidores. Essas lives não costumam ter uma data específica: são espontâneas e esporádicas. É preciso acompanhar as redes sociais do artista para ficar por dentro da agenda de apresentações.
A seguir, confira como tem sido a experiência das lives para músicos gaúchos de diferentes segmentos.
Injeção de adrenalina
Em suas lives caseiras realizadas no Instagram, Armandinho é acompanhado por milhares de pessoas (já reuniu mais de 120 mil em uma das apresentações) e toca clássicos como Desenho de Deus, Ursinho de Dormir, Sol Loiro, entre outros hits. Para o cantor, o principal retorno que ele tem obtido com as lives é o reencontro com seu público.
– É matar a minha saudade, a minha fissura, pois faz mais de 20 anos que todo fim de semana tenho essa injeção de adrenalina na minha cabeça. Fico desesperado, fico ansioso sem tocar – descreve.
Por outro lado, Armandinho teme que esse cenário de lives acabe se tornando o futuro. Na sua opinião, isso é perigosíssimo.
– O principal problema disso é que a gente não tenha mais contato com as pessoas. Que as pessoas se acostumem a fazer o show de casa. O real papel da música é aproximar as pessoas. Estar perto um do outro, o calor humano – reflete.
Armadinho ainda prevê a realização de um show patrocinado para que a renda seja revertida para equipe técnica.
Funk acústico
Em clima intimista, o funkeiro MC Jean Paul tem optado pelo Facebook para realizar suas lives caseiras, acompanhado de um violão. Para o sábado (25), ele prevê uma live com show completo.
Assim como Armandinho, o cantor vê as lives como uma maneira de se aproximar do público. Outro objetivo dessas apresentações é proporcionar um alento aos fãs.
– Levar uma alegria para as pessoas nesse momento, de otimismo e esperança. Há pessoas que agradecem após as lives, dizendo que o dias delas ficou melhor – relata. – Ver o recado de quem está assistindo, de certa forma, nos dá essa energia que acaba nos fortalecendo internamente.
Onde acompanhar: Facebook.
Veterano
Com muitos fãs devotos para atender, Humberto Gessinger já é veterano com as lives. Há dez anos, ele realizava apresentações pelas twitcams (lives do Twitter). Por 18 meses, tocou cada um de seus discos na íntegra, um por mês.
Humberto Gessinger destaca que é natural para ele tocar sozinho, pois é compositor, cantor e instrumentista. Com as lives, o músico tem a oportunidade de explorar outras facetas de sua sonoridade.
– Mostrar um lado mais intimista é algo interessante nestes tempos em que a tecnologia de áudio pode ficar opressora. Por outro lado, estou avançando esteticamente, usando só voz e baixo, coisa que seria difícil fazer nos shows. E tenho descoberto muita coisa sobre minha música – explica.
Onde ver: Instagram.
Bailão solidário
No domingo de Páscoa (12), a banda Rainha Musical realizou uma live de quatro horas. Inspirado nas lives sertanejas e tendo um bar de Ivoti como cenário, o grupo fundado em São Sebastião do Caí realizou uma apresentação de quatro horas. Foi algo inédito no gênero gaúcho do bailão.
Com patrocínios, a live tinha como objetivo angariar recursos para duas crianças: Lívia Teles, um ano, de Teutônia (Vale do Taquari), e João Emanuel, de Lindolfo Collor (Vale dos Sinos), que tem oito meses de vida. Ambas sofrem de atrofia muscular espinhal. O vocalista Maurício Lima afirma que foram arrecadados em torno de R$ 6 mil para Lívia e cerca de R$ 3 mil para João.
Até o momento, o vídeo da apresentação no YouTube tem mais de 400 mil visualizações. Para Maurício, as lives podem ser um meio para as bandas de bailão arrecadar dinheiro em tempos de confinamento.
– Nossa live serviu de cobaia para mostrar que a gente tem condições para isso. Os patrocinadores ficaram felizes pelo retorno e visibilidade. Nas próximas, tentaremos pegar patrocinadores com valor maior para dar retorno a banda . É o jeito para a gente sustentar nossas famílias – avalia o vocalista. – Se continuar essa quarentena, as lives salvarão a pátria da galera.
Com oito integrantes no grupo e mais 10 pessoas na equipe técnica e de filmagem, Maurício garante que todas as pessoas envolvidas na live estavam protegidas.
Onde acompanhar: YouTube. Próxima live está prevista para maio.
Bailão amigável
É com um aspecto mais despojado e amigável que Cleiton Borges, vocalista do Musical JM, tem realizado suas lives no Facebok. Para o cantor, essas apresentações são uma maneira de dialogar com o público alvo da banda de bailão.
– As pessoas interagem, dizem o que estão fazendo, se estão sentadas no sofá, tomando chimarrão ou reunidas com a família. Vou mandando recadinho para todo mundo, cantando o que pedem, recordando a carreira do JM. Tenho atingido um público muito grande – comenta.
Além das lives caseiras, o cantor está prevendo uma live especial do Musical JM.
Onde acompanhar: Facebook.