Destaque na cena musical gaúcha nos últimos anos, tanto por sua qualidade artística quanto pelo engajamento em lutas sociais e antirracistas, o duo 50 Tons de Pretas lança seu disco de estreia, Voa, nesta sexta-feira (20). O álbum estará disponível nas plataformas digitais de música.
O projeto é encabeçado pelas cantoras e instrumentistas Dejeane Arruée, 40 anos, e Graziela Pires, 33. Elas escolheram lançar o primeiro álbum no Dia da Consciência Negra por ser esta uma data especial.
— É uma data que nos faz refletir sobre o racismo, sobre tudo que existe em volta desse tema. Mas acho também é uma data de resistência. Nós costumamos dizer que duas mulheres pretas, gaúchas, no sul do país, lançar um disco em 20 de novembro é um ato de resistência — destaca Dejeane.
A musicista ressalta ainda o clima de celebração:
— Também é para exaltar as coisas boas, uma data especial para a gente colocar em pauta as nossas conquistas, que não são fáceis. Colocar um disco na rua em plena pandemia não é fácil. É um ato de resistência.
O 50 Tons de Pretas surgiu em 2017, em Campo Bom. Professoras de música da rede pública, Dejeane e Graziela foram convidadas para uma apresentação especial de Dia da Mulher. Chamaram Monique Brito e outras duas meninas para formar um grupo de improviso. A apresentação foi um sucesso e o projeto se estabeleceu. Monique saiu do grupo em 2018, e o grupo virou um duo. A banda que as acompanha nos shows é formada por João Costa (bateria), Vladimir Godoy (baixo) e Gustavo Nunes (violão).
Desde o início, o objetivo do 50 Tons de Pretas era trabalhar com música autoral. Em 2018, queriam lançar um EP, plano que foi adiado para 2019 por conta da primeira turnê. Então, Dejeane e Graziela optaram por trabalhar com calma, para que o disco de estreia ficasse do jeito que gostariam, e o lançamento de Voa foi postergado para 2020.
Ao longo desses anos, o duo foi divulgando singles, que integram cronologicamente o álbum de oito faixas.
— A primeira faixa, A Mais Pura Verdade, é o nosso primeiro lançamento. Conta muito da nossa história: "Preta, olha onde você chegou/ Pois um dia acreditou que a vida ia sorrir pra ti". É uma música que fala de novas conquistas, da luta de ser mulher preta na música. Na vida — explica Dejeane.
Além de A Mais Pura Verdade, a temática de autoestima e empoderamento negro está presente em faixas como Tranças ( “Saiba, a cor da tua pele vai incomodar aqueles que acreditam já saber o teu lugar”) e Basta Acreditar ("Não pode ficar no escuro/ você é a sua própria luz").
A sonoridade do 50 tons de Pretas vai do samba à black music. Dejeane salienta que a referência delas é a música brasileira:
— É a MPB, é o samba. Toda essa mistura musical que temos no nosso país, toda essa riqueza harmônica que a gente tem. Samba rock também é muito presente nas nossas canções. Temos também referência de black music. Nossas referências são o que a gente ouve, o que a gente toca.
Entre as participações especiais de Voa estão nomes como Tonho Crocco (Cidadão Comum) e Tati Portella (A Nossa Canção). Todas as faixas foram produzidas por Dejeane, com exceção de Voa. A faixa título ficou a cargo de Rafael Hauck, que utiliza beats eletrônicos com elementos percussivos e teclados.
Voa traz uma mensagem de libertação ("Abre as tuas asas, segue o ritmo no ar/ joga teu espírito tão livre pra voar"), de reconhecer a própria potência interna.
— Remete a uma leveza. É uma música alto-astral. Mas também é uma canção de protesto, de coisas que defendemos e devemos fazer. De força. É uma música que a gente consegue abranger bastante gente — pontua Dejeane.
Para marcar o lançamento de Voa, o 50 Tons de Pretas fará um show nesta sexta-feira, a partir das 20h, em live que será transmitida pela página do Facebook do projeto.
Com o disco lançado, o duo pretende divulgar um trabalho audiovisual para cada faixa. Em 2021, elas planejam lançar um novo EP, que já está gravado. Ou seja, elas seguirão voando.