Produzido na quarentena e lançado em meio à pandemia da covid-19: o rapper baiano Baco Exu do Blues disponibilizou um novo álbum nas plataformas digitais no dia 30 de março. O EP Não Tem Bacanal na Quarentena é uma moldura de simbolismos sobre os primeiros dias do coronavírus no Brasil.
Baco é a persona de Diogo Álvaro Ferreira Moncorvo. Aos 24 anos, o rapper se afirmou como um dos nomes consolidados não só do rap nacional, mas também da nova geração da música brasileira. Com o seu elogiado segundo disco, Bluesman (2018), ele atacou o as representações do racismo na sociedade. Baco preparava seu terceiro trabalho, intitulado Bacanal, porém teve que ficar de molho em casa com o ombro machucado. Já estava de quarentena antes da pandemia.
– Quando vi que estava na iminência da pandemia vir para cá, chamei um amigo de Salvador (Dactes), que é engenheiro de som, para a gente ficar gravando música. A ideia era passar o tempo. Acabou que gravamos música para c*, aí separei nove composições que achei legal e lancei – relata Baco em entrevista por telefone a ZH.
Não Tem Bacanal na Quarentena foi gravado em três dias na casa do rapper. Entre as temáticas da letra, estão o racismo (Jovem Preto Rico e O Sol Mais Quente) e o período de pandemia (Preso em Casa Cheio de Tensão e Tudo Vai Dar Certo). Em Amo Cardi B e Odeio Bozo, o rapper se inspirou no meme da cantora americana (em vídeo, ela alerta sobre a ameaça do coronavírus) para alfinetar Jair Bolsonaro: "Trabalhadores na rua/ O papa é pop, quarentena é pop/ Cardi B fez mais que o presidente". Baco trabalha com simbolismos emergentes, surgidos em meio a pandemia.
– Só estava desabafando. Não sabia o que estava vendo ou sentindo, apenas fui escrevendo. Deixei sem filtro. Até porque queria fazer uma coisa despretensiosa, sem ter que me preocupar muito – explica.
Além do coronavírus, outro tema bastante discutido no país no momento é o Big Brother Brasil, que também aparece no álbum. No trap Tropa do Babu, Baco fala do ator e participante do programa para abordar o racismo estrutural. O rapper já declarou torcida para Babu, mas admite que não tem sido fácil assistir ao programa.
– Uma experiência muito irritante (risos). As pessoas ficam falando para o Babu evoluir, mas não percebem certas coisas. Teoricamente, há várias pessoas ali desconstruídas e brancas, mas que são racistas – aponta. – Óbvio que juram de pé junto não são racistas. Falam que tem amigo preto, já namorei com uma pessoa preta, blá blá blá, mas se tivesse uma câmera filmando elas 24 horas por dia em casa, iam ver que são sim.
Tempos de quarentena
O próximo álbum, diz Baco, fica para depois da pandemia. Agora, ele quer deixar as músicas que produzir guardadas.
– De certa forma, lançar músicas mexe com a ansiedade do momento. Percebi isso depois que soltei (o EP). Talvez seja melhor para a saúde mental só gravar as músicas e ficar tranquilo – justifica.
Segundo o rapper, o período de quarentena e pandemia tem sido intenso para ele. Para suprir esse momento de incerteza, conta que produz músicas 24 horas por dia.
– A gente fica preocupado e tenso, não sabe o que fazer. Sente raiva, às vezes – desabafa. – Tem que tentar se ocupar, cara. Tentar não se desesperar. É o máximo que a gente pode fazer.