Com 38 anos de estrada, o Titãs já vivenciou de tudo: produziu discos magníficos – como Cabeça Dinossauro (1986), Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas (1987) e Titanomaquia (1993) –, perdeu integrantes, transitou por diferentes sonoridades, empilhou prêmios e rodou o mundo. Mas é a primeira vez que o grupo lança um álbum em meio a uma pandemia. Trio Acústico – EP01 chega às plataformas digitais nesta sexta-feira (3) reinventando sucessos da banda em versões desplugadas e minimalistas.
– Meio surreal, como tudo que está acontecendo. Tínhamos o trabalho pronto. Como o foco são as plataformas digitais, poderíamos fazer o lançamento independentemente da situação que estamos vivendo – diz Sérgio Britto a GaúchaZH.
Pelo ponto de vista artístico, Britto, que integra a atual formação com Branco Mello e Tony Bellotto, crê que é positivo para a banda manter o lançamento em tempos de quarentena.
– Ia ser chato dar um breque numa coisa que você está se preparando. Ia se esvaziar se ficássemos adiando. Perderia o fôlego e o sentido – pondera o músico. – Levando em conta que as pessoas vão ter bastante tempo pra ouvir o disco, talvez seja uma maneira de compensar os fãs que não vão ver o show tão em breve.
Em razão do novo coronavírus, o trio precisou remarcar a agenda de apresentações dos próximos três meses. Segundo Britto, agora "tem que pensar um dia de cada vez":
– Vão ser meses até tudo ser normalizado, sem a gente ter nenhum ganho. Nossa arrecadação vem de shows. A venda de disco não dá mais retorno, e o streaming é uma renda muito pequena. Para a gente, vai ficar difícil como para todo mundo.
Trilogia acústica
Trio Acústico – EP01 faz parte de uma trilogia do Titãs que deve totalizar 25 músicas. Os próximos álbuns estão previstos para saírem a partir do segundo semestre deste ano. No projeto, os três integrantes se revezam nos vocais. Britto assume piano ou baixo, Branco toca baixo ou violão e Tony alterna violão e guitarra acústica.
A ideia para esse registro veio da série de shows desplugados, realizados há três anos, em que celebraram duas décadas do Acústico MTV (1997). As apresentações intimistas do trio foram bem recebidas pelo público, e logo surgiu a ideia de produzir um registro de estúdio nesse formato. O projeto foi pausado para a banda lançar, ao longo 2018, a ópera rock Doze Flores Amarelas.
Para o primeiro álbum da trilogia, o trio recriou sucessos de sua trajetória com o mínimo de elementos. O álbum traz oito faixas que fazem um apanhado geral da carreira do Titãs. A mais recente é a balada Porque Eu Sei que É Amor, do disco Sacos Plásticos (2009). Isso foi extraída de A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana (2001). O Pulso e Miséria representam o inventivo Õ Blésq Blom (1989). Do clássico enfurecido Cabeça Dinossauro (1986), tem Tô Cansado e Família. Querem Meu Sangue vem lá do disco homônimo de estreia do Titãs, de 1984, assim como Sonífera Ilha – primeiro single da carreira da banda e também do Trio Acústico – EP01.
Para o clipe da nova versão de Sonífera Ilha, lançado no dia 20 de março, a banda contou com participações luxuosas. Estão lá Os Paralamas do Sucesso, Rita Lee, Andreas Kisser, Lulu Santos, Elza Soares, Edi Rock, Fábio Assunção, Fernanda Montenegro e Casagrande, entre outros. Gravado antes da pandemia, trata-se de um vídeo descontraído, com os participantes dublando o hit. Segundo Britto, a ideia para o registro era chamar pessoas próximas à banda.
– São pessoas com quem temos convívio. Fábio Assunção é um amigo. Lulu Santos produziu o nosso primeiro disco. É um pouco de como se fosse o retrato emocional de todos os anos que a gente viveu, com a música que foi nosso primeiro single – explica.
TITÃS - Trio Acústico – EP01
BMG Brasil, 8 faixas. Disponível nas plataformas digitais.