Produzido na quarentena e lançado de supetão, o oitavo disco de Taylor Swift foi disponibilizado nas plataformas digitais nas primeiras horas desta sexta-feira (24). Intitulado Folklore, o álbum é um trabalho mais suave e introspectivo da cantora, além de ser marcado por uma aproximação da cena musical independente dos EUA.
Aqui não temos aquela Taylor do pop dançante e animado, como Shake It Off e I Knew You Were Trouble, e do country sonhador do começo da carreira. Como o próprio título sugere, o disco é marcado por uma aproximação maior da artista com o folk, mais especificadamente com o indie folk.
O multi-instrumentista Aaron Dessner, integrante da banda indie The National (conhecida por suas canções melancólicas), é o coautor e produtor de 11 das 16 faixas de Folklore. Ele trabalhou ao lado de Jack Antonoff, que toca guitarra no Fun (lembra do hit We Are Young?) e tem seu projeto solo de indie pop Bleachers. Parceiro de Taylor em discos anteriores, Antonoff também já compôs para nomes como Lorde, Lana del Rey e Carly Rae Jepsen.
Uma das faixas mais elogiadas do disco nas redes sociais foi Exile, em que a cantora faz um dueto com Justin Vernon — líder do Bon Iver, banda de indie folk com elementos eletrônicos —, tendo um piano como base. Aliás, o instrumento ampara boa parte das canções de Folklore, além de elementos acústicos (banjo e violão) e arranjos marcados pela melancolia.
Claro, a melodia pop e sofisticada está lá: Seven parece encaixar no disco Bedtime Stories (1994) ou em Ray of Light (1998) da Madonna; August é a Taylor clássica, do refrão chiclete, porém soando mais soturna; Cardigan, primeiro clipe do álbum, é um pop cavernoso e cintilante – remetendo a Landa del Rey; com vocal etéreo e guitarra no pedal, Mirrorball leva Taylor para um lado mais dream pop (vide bandas como Daughter e Men I Trust).
Triângulo amoroso adolescente
Folklore traz uma Taylor mais concentrada nas narrativas de terceiros, embora tenha seus momentos confessionais, como em This Is Me Trying – que aborda uma admissão de culpa e soa como uma balada indie pop. Em resposta a um comentário do YouTube, a cantora revelou que o álbum contém três faixas que se referem a um triângulo amoroso adolescente. "Elas exploram um triângulo amoroso do ponto de vista das três pessoas em momentos distintos de suas vidas", escreveu Taylor.
Nas redes sociais, fãs da cantora tentaram montar o quebra-cabeça. Ganhou força a hipótese que as possíveis faixas dessa narrativa seriam Cardigan, August e Betty.
Em Betty, Taylor canta sob o ponto de vista de James, um jovem que pede desculpas a sua amada que dá nome à canção. Ele a traiu com outra garota, Inez: "If I told you it was just a summer thing?/ I'm only seventeen, I don't know anything/ But I know I miss you" ("E se eu dissesse que foi só um romance de verão?/ Eu só tenho 17 anos, não sei de nada/ Mas sei que sinto sua falta").
Em August, Taylor encarna Inez. O título referencia o mês de agosto, no qual é verão no hemisfério norte. Inez lamenta que o jovem nunca tenha sido seu: "But I can see us lost in the memory/August slipped away into a moment in time/ 'Cause it was never mine" ("Mas eu posso nos ver perdidos na memória/ Agosto se dissipou no tempo/ Porque nunca foi meu").
Já Cardigan seria a cantora abordando a perspectiva de Betty. Ela lamenta que o seu amado tenha optado pelas aventuras, mas acaba o aceitando de volta: "I knew you'd miss mebwhen the thrill expired/ And you'd be standin' in my front porch lock/ And you'd come back to me" ("Eu sabia que você sentiria minha falta depois que a excitação passasse/ E estaria aqui em frente ao meu portão/ E eu sabia que você voltaria para mim").
Inquietação no isolamento
Em suas redes sociais, Taylor falou sobre o processo de criação do disco. No texto de apresentação do álbum, ela relatou: “A maioria das coisas que havia planejado para o verão não aconteceram, mas há algo que não planejei que acabou acontecendo".
Segundo a cantora, trata-se de um trabalho resultado de sua inquietação na quarentena. "No isolamento, minha imaginação correu solta, e esse disco é o resultado disso, uma coleção de músicas e histórias que fluíram como um fluxo de consciência. Pegar a caneta foi meu jeito de escapar pela fantasia, pela história e pela memória", escreveu.
Ela também falou sobre o título do disco, Folklore: "Um conto que se torna folclore é aquele que é sussurrado e passado adiante, às vezes até cantado. As linhas entre fantasia e realidade se tornam e os limites entre verdade e ficção se tornam quase indiscerníveis".
Já em seu Instagram, o produtor e compositor Aaron Dessner conta que ficou animado e se sentiu honrado quando Taylor o convidou para escrever algumas músicas remotamente em parceria: "Eu estava me isolando com minha família, mas escrevi uma tonelada de músicas nos primeiros meses de quarentena. Pensei que levaria um tempo para as ideias voltarem e eu não tinha expectativas quanto ao que poderíamos realizar remotamente. Mas algumas horas depois de compartilhar uma música, meu telefone se iluminou com uma mensagem de voz de Taylor de uma versão totalmente escrita de outra faixa — esse meu momento nunca parou de fato".