Reunindo os músicos gaúchos João Ortácio (O), Pedro Borghetti (B), João Salazar (S) e Poty (P), o projeto OBSP lançou seu disco de estreia na última sexta-feira (26) pelo selo Pedra Redonda. Levando o nome do grupo, o álbum disponível nas plataformas digitais apresenta o entrosamento do quarteto em 14 canções.
Em atividade há dois anos, o OBSP é a união de quatro vozes e aspirações distintas: Ortácio tem como principal inspiração o Pink Floyd; Borghetti (filho do acordeonista Renato) é mais ligado à música regional e às referências latinas; Salazar também segue por esse caminho, mas se aproximando mais do urbano; já Poty vai para um lado mais indie folk.
Como uma forma de economizar com banda, os quatro amigos tiveram a ideia de viajarem juntos para realizar apresentações individuais. Um seria a banda de suporte do outro. Da necessidade, surgiu um projeto.
— Tivemos a ideia de botar todo mundo no mesmo carro e sair para fazer turnê pelo interior do Estado. Se cada um fosse levar uma banda seria um prejuízo. Foi uma sacada ótima, fizemos arranjos bem legais — lembra Ortácio.
— Nós praticamente pagávamos para tocar quando com a banda inteira. Juntamos essas quatro vozes e os violões para sermos a banda de nós mesmos. Fora as vozes que a gente foi descobrindo, que era muito bom cantar junto, inserir vozes parecidas e diferentes que combinam super bem — completa Borghetti.
Tendo como base as quatro vozes em canções predominantemente acústicas, o OBSP tem como inspiração no formato o super quarteto Crosby, Stills, Nash & Young. O grupo também remete ao Clube da Esquina por conta de seu lirismo bucólico e suave, o que pode ser percebido em faixas como Navegador, Cascas e Passeio. Para as composições do disco de estreia, o OBSP procurou inspirações em nomes latinos como Lás Áñez (Colômbia), Perotá Chingó (Argentina) e Aca Seca Trio (Argentina), além de Paola Kirst e do grupo As Longas Viagens — ambos do RS.
Já na gravação, o OBSP buscou seguir a estética crua do uruguaio Eduardo Mateo (1940—1990). Um dos maiores nomes da música popular da terra do “asado y vino”, o cantor costumava agregar rock, bossa nova e ritmos locais como o candombe em sua sonoridade. Em abril, o jornal El País apontou seu trabalho de estreia, Mateo Solo Bien Se Lame (1972), como o melhor disco da história do Uruguai.
Entrosamento, natureza e pandemia
Durante cinco dias de janeiro, o quarteto se instalou no sítio da família de Borghetti, na Barra do Ribeiro. Com produção de Guilherme Ceron, o disco foi gravado em três dias.
— Não achei que a gente ia conseguir gravar um disco em tão pouco tempo. Valeu muito esse nosso processo de viagens e turnês. Isso se refletiu na gravação pelo entrosamento que a gente acabou ganhando. É que nem no futebol, tu tocas para o lado sem olhar porque sabe que o cara está passando (risos) — diz Ortácio.
Para o álbum de estreia, a ideia era se aproximar do jeito que o quarteto toca ao vivo, além de refletir o clima da fazenda.
— É um disco bem de madeira, grama, céu, com as paisagens que têm ali. Gravamos de porta aberta — descreve Borghetti.
Aliás, a natureza é o foco na faixa Curupira, Caipora, Chico Mendes — que homenageia o seringueiro e ativista que lutou pela preservação da floresta amazônica. Tornado lembra de uma ameaça real de tornado vivida pelo quarteto durante a primeira turnê. Outro exemplo é a lo-fi Sol de Verão.
Com o disco lançado, a turma pretendia pegar a estrada. Porém, veio a pandemia de coronavírus e os planos foram repensados. Quer dizer, quase todos: o álbum tinha que sair.
— Queríamos que o disco fosse lançado logo, que não fosse engavetado para sair um ano depois. Isso diminui nosso tesão de estar ali. A gente começa compor outras coisas, fazer outros arranjos. Disco é para seguir fazendo. Não podemos parar, temos que seguir produzindo — relata Borghetti.
Ortácio vê o lançamento do disco como uma forma de amenizar o processo de isolamento social:
— Que a gente leve o clima do sítio a todos que ouvirem esse disco. Acho que o álbum causa uma calma, traz a atmosfera da natureza. É uma pequena contribuição nossa para todos que estão passando por esse momento difícil.
— Os motivos para lançar são pertinentes, mesmo que não dê para fazer show. Para as pessoas escutarem, terem 38 minutos de relaxamento e passarem um tempo mais tranquilo — arremata Borghetti.