Segunda escola de samba a desfilar na Sapucaí na segunda-feira (12), a Portela levou para a avenida o samba-enredo Um Defeito de Cor, inspirado na obra homônima da escritora mineira Ana Maria Gonçalves, em homenagem às mulheres negras. Diante do interesse do público em torno da apresentação, o romance histórico lançado em 2006 alcançou o posto de livro mais vendido pela Amazon nas últimas horas.
O livro Um Defeito de Cor recria a trajetória de Kehinde, uma mulher negra que, quando criança, é sequestrada do Reino de Daomé, atual Benin, e levada para a Bahia para ser escravizada. A personagem principal é inspirada em Luisa Mahim, heroína da Revolta dos Malês — a maior revolta dos escravizados a favor da abolição — e mãe do advogado e abolicionista Luiz Gama.
Em determinado momento, ela consegue retornar para seu país de origem. Mas, em busca do filho perdido há décadas, Luísa viaja novamente da África para o Brasil. Durante a travessia, a protagonista perpassa décadas de construção da sociedade brasileira a partir de suas vivências. A narrativa refaz os caminhos trilhados por essa mulher, marcados por mortes, estupros, violência e pela escravidão.
Enquanto no livro a mãe escreve para o filho, a Portela apresenta a resposta dele. O samba-enredo construído pelos carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga traz a história como se uma carta tivesse sido deixada por Luiz Gama à mãe. De acordo com a escola, o fator simbólico que dá origem ao que é contado na avenida é o afeto.
— Acreditamos que esse enredo é a nossa mais profunda manifestação de afeto nessa chegada. É um enredo que dedicamos para nossas mães, nossas avós e cada mulher preta que carrega a força de sobreviver, ser e semear novas histórias. Um Defeito de Cor é a história da luta preta no Brasil incorporada em uma mulher que enfrentou os maiores desafios inimagináveis para continuar viva e preservar suas heranças e raízes. A história de uma mãe, heroína, filha de África, que pariu a liberdade dessa nação — declarou Gonzaga no material de divulgação do desfile.
Em uma das alegorias do desfile, a escritora Conceição Evaristo e o ator Lázaro Ramos incorporaram Luísa Mahim e Luiz Gama, respectivamente. O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania Silvio Almeida também representou o abolicionista. Além destes, a própria escritora Ana Maria Gonçalves, a atriz Taís Araújo e o humorista Paulo Vieira estiveram presentes.
A escola também homenageou mulheres negras que perderam os filhos para a violência no Rio de Janeiro, como Marinete da Silva, mãe da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018; e Jackeline Oliveira, mãe de Kathlen Romeu, morta em 2021.